Aspectos clínicos e epidemiológicos
A meningocócica (DM) pode se apresentar sob a forma de uma doença benigna, caracterizada por febre e bacteremia, simulando uma infecção respiratória ou virose exantemática. Também pode se apresentar com um quadro mais grave, a exemplo de septicemia (meningococcemia), caracterizada por mal-estar súbito, febre alta, calafrios, prostração, acompanhada de manifestações hemorrágicas na pele (petéquias e equimoses); e, ainda, sob a forma de meningite, com ou sem meningococcemia, de início súbito, com febre, cefaléia intensa, náuseas, vômitos e rigidez de nuca, além de outros sinais de irritação meníngea.
O paciente pode apresentar-se consciente, sonolento, torporoso ou em coma. Não apresenta reflexos patológicos, e os reflexos superficiais e osteotendinosos estão presentes e normais. Outra apresentação é a meningoencefalite, onde ocorre depressão sensorial profunda, sinais meníngeos, comprometimento dos reflexos superficiais e osteotendinosos e presença de reflexos patológicos.
Sinal de Kernig
Paciente em decúbito dorsal: eleva-se o tronco, fletindo-o sobre a bacia; há flexão da perna sobre a coxa e dessa sobre a bacia; ou com o paciente em decúbito dorsal: eleva-se o membro inferior em extensão, fletindo-o sobre a bacia após pequena angulação, há flexão da perna oposta sobre a coxa. Essa variante chama-se, também, manobra de Laségue.
Sinal de Brudzinski
Flexão involuntária da perna sobre a coxa e dessa sobre a bacia, ao se tentar ante-fletir a cabeça. Delírio e coma podem surgir no início da doença, ocorrendo, às vezes, casos fulminantes, com sinais de choque. É frequente o aparecimento de exantema purpúrico ou hemorrágico, podendo apresentar-se sob a forma de petéquias.
Lactentes raramente apresentam sinais de irritação meníngea, o que leva a necessidade de se observar febre, irritabilidade ou agitação grito meníngeo e recusa alimentar, acompanhados ou não de vômitos, convulsões e abaulamento da fontanela. A meningococcemia pode ou não vir acompanhada de meningite.
Agente etiológico
“Neisseria meningitidis”, bactéria em forma de diplococos Gram negativos. Apresenta 13 sorogrupos, sendo 8 responsáveis, com maior frequência, pela doença meningocócica (A, B, C1+, C1-, X, Y, W-135,L). Estes podem ainda ser classificados em sorotipos e subtipos.
Reservatório
O homem doente ou portador assintomático.
Modo de transmissão
Contato íntimo de pessoa a pessoa, através de gotículas das secreções da nasofaringe. O principal transmissor é o portador assintomático.
Período de incubação
De 2 a 10 dias, em média de 3 a 4 dias.
Transmissibilidade
Dura enquanto houver o agente na nasofaringe. Em geral, após 24 horas de antibioticoterapia, o meningococo já desapareceu da orofaringe.
Complicações
Necroses profundas com perda de tecido nas áreas externas, onde se iniciam as equimoses; surdez, artrite, miocardite, pericardite, paralisias, paresias, abcesso cerebral, hidrocefalia, dentre outras.
Diagnóstico
Através do isolamento da “Neisseria meningitidis” do sangue, líquor, líquido sinovial ou de derrame pericárdico ou pleural. O LCR pode se apresentar turvo, com cor leitosa ou xantocrômica. A bioquímica evidencia glicose e cloretos diminuídos (concentração de glicose inferior a 50% da glicemia, coletada simultaneamente ao líquor) proteínas elevadas (acima de 100 mg/dl) e pleiocitose (aumento do número de leucócitos, predominado polimorfonucleares neutrófilos).
A doença meningocócica é dinâmica, imprevisível, e suas consequências podem ser devastadoras. A maior parte dos casos de DM ocorre em indivíduos saudáveis. É uma doença com sintomas iniciais inespecíficos, de difícil diagnóstico, podendo ter uma evolução “fulminante” em até 24 horas. A doença é transmitida por secreções respiratórias, durante contato próximo com o portador, então qualquer pessoa pode ser infectada.
No Brasil, 58% dos casos de DM, em menores de um ano são devido ao sorogrupo B, 29% do sorogrupo C, 10% do sorogrupo W e 3% do sorogrupo Y. Os lactentes são os mais vulneráveis, sendo que, dos casos de DM abaixo de um ano de idade, 55% acontecem até os seis meses de idade.
Assim, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomendam a vacinação contra o meningococo B (Bexsero da GSK), a partir dos três meses de idade. Juntamente com a Bexsero, pode aplicar no mesmo dia a Menveo (contra as meningites meningocócicas A, C, W e Y).
Recentemente, foi mudada a indicação do número de doses. Agora, são duas doses a intervalo de dois meses (pode ser com três e cinco meses de idade da criança e um reforço com um ano de idade). A vacina contra o meningocócica B (Besteiro) só é encontrada na rede particular e ainda não faz parte do calendário do SUS.
A vacinação é a forma mais efetiva de proteção contra a DM. A Bexsero (vacina contra o meningoco B) foi introduzida no Brasil em 2015. Portanto, muitas crianças que estão hoje com cerca de quatro anos, ou mais, não tiveram a oportunidade de receber essa vacina.
E a partir de 24 meses (2 anos de idade) até 50 anos, são duas doses com intervalo não menos que um mês, entre a primeira e a segunda dose (o ideal é dois meses de intervalo, sem necessidade de reforço).
A DM não acomete somente crianças: adolescentes e jovens adultos também estão sob risco, tendo trabalhos científicos mostrando que ela é bem mais frequente em jovens de 19 a 20 anos de idade. Até 23% dos adolescentes e jovens adultos são carreadores e também os principais transmissores da “Neisseria Meningitidis” (Meningococo).
Fontes: diversas, contidas no panfleto promocional da GSK sobre a Bexsero, e SBP, SBIm, Anvisa e www: saude.gov.pr.com
* Médico pediatra com título de especialista em pediatria pele Associação Médica Brasileira e membro da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).