Mais de uma interpretação pode ser observada quando, em períodos delicados – como este que (quase) todos ainda atravessam -, uma praça pública passa a ser “revitalizada” – ou seja, reformada, com seus respectivos custos.
É o que acontece, neste momento, com a Martinho Guedes, a Praça da Santa. Para citar extremos, uns visualizam grandes oportunidades, reconhecendo o espaço como um dos cartões postais da cidade; outros enxergam dinheiro mal utilizado, defendendo melhor uso dos recursos em favor de outras necessidades do município.
Já de imediato, a despeito das opiniões, é preciso lembrar que os recursos reservados à renovação do espaço são oriundos do programa estadual de incentivo ao turismo, o MIT (Município de Interesse Turístico), e, portanto, não podem ser investidos em nada além daquilo a que foi originalmente destinado. Não pode servir para operação tapa-buraco, por exemplo.
As obras tiveram início na semana passada, com a instalação de placas de proteção, e seguiram nesta semana, particularmente com a cerimônia de lançamento das obras, quarta-feira, em frente ao Centro Cultural.
O espaço é o primeiro ponto de Tatuí a receber recursos do MIT, por meio do Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos).
A municipalidade tem à disposição R$ 1.192.649,52 para a revitalização. O recurso vem de dois convênios com o Dadetur, sendo R$ 371.143.95 conquistados em 2017 e R$ 482.367,02 referentes a repasse de 2018, além de contrapartida da prefeitura, de R$ 339.138,55.
O Dadetur liberou os recursos a partir de projeto apresentado pelo Departamento Municipal de Turismo. A proposta de uso do recurso foi aprovada pelo Comtur (Conselho Municipal de Turismo).
De acordo com o secretário do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli, as obras serão realizadas em duas etapas, com uma fase envolvendo o paisagismo e outra, a infraestrutura, contendo iluminação e bancos. A estimativa é de que terminem até novembro.
Sinisgalli destacou que o propósito do projeto é manter as características originais da praça. “Queremos fazer um espelho d’água junto à Santa para valorizar ainda mais a imagem e também o Pinheirão, mas sem modificá-los nem tirá-los do lugar”, salientou.
O projeto prevê troca de piso e adaptação às normas de acessibilidade, com a instalação de rampas de acesso e execução de projeto arquitetônico e paisagístico. O local ainda ganhará novas lixeiras, bancos e iluminação.
Segundo o secretário, o intuito das intervenções é promover a modernização do espaço, de forma a torná-lo mais receptivo à população e visitantes, além de dar-lhe recursos para evidenciar a vocação turística da cidade.
Para o secretário, o espaço é tido como referencial para o fim de ano em Tatuí. Sinisgalli observou que a população “tem respondido bem à programação natalina”, em função de a praça já ser reconhecida como espaço cultural e por abrigar a Vila de Natal e a Casa do Papai Noel.
“Um dos motivos de nós usarmos a primeira verba do MIT na praça foi por causa desta vocação turística. Quando fazemos a Vila de Natal, a gente vê que tem mais movimento na região, fomentando o comércio. Isso é muito bom para a cidade, e a reforma só irá reforçar”, completou.
Além disso, o secretário frisa que a praça, inaugurada em 1910, é a única da região central que ainda não passou por reforma. Com as mudanças, a Praça da Santa poderia, novamente, receber eventos de pequeno porte, como o Projeto Música na Praça e apresentações culturais.
“Queremos adequar a praça para esses pequenos projetos também, para que a gente possa utilizar o espaço o ano todo e não só no Natal”, explicou.
Para ele, “famílias, idosos e crianças deverão sentir-se mais à vontade no novo espaço e passarão a frequentá-lo ainda mais”. Sinisgalli ainda reconheceu o esforço de um trabalho iniciado há mais de quatro anos pelo Comtur, com a conquista do título de MIT.
“É por isso que a gente está conseguindo essa verba e a estamos trazendo para a revitalização da cidade. Se não fosse o esforço do Comtur, nada disso seria conquistado e essa verba não existiria”, concluiu em entrevista a O Progresso nesta semana.
Muito correto. O Comtur foi decisivo para a obtenção do título de Município de Interesse Turístico e seus consequentes benefícios. A possibilidade de reforma da praça é apenas um deles.
Por sua vez, a administração estar empenhada em fazer bom uso dos recursos é, sem dúvida, bem investir no futuro da cidade. Queiram ou não alguns poucos e independentemente das vozes destoantes, se Tatuí continuar a acreditar em seu potencial turístico, pode ganhar muito mais que uma praça bonita, chegando a ascender à estância.
Para tanto, após essa reforma, necessita focar em seu maior patrimônio e vocação: a cultura “sonora”, assim consolidando-se como destino privilegiado, exatamente por ser a Capital da Música do Estado de São Paulo. Para tanto, apenas, essa tradição precisa ser “efervescente”.
