Imprimir “distanciamento” e “impessoalidade” são diretrizes básicas de editoriais de veículos de comunicação – o que respeitamos. Não obstante, eventualmente, vale algum escape à regra para melhor observação de algum assunto em particular. Assim, sigamos.
Há pouco tempo, durante o recente período pré-eleitoral, esteve neste jornal um pintor, realizando alguns trabalhos. Pessoa simples, correta, trabalhador – um cidadão comum, como todo e qualquer brasileiro que está aí, esforçando-se para sobreviver à crise.
Durante uma e outra pincelada, lamentava sobre as tantas e insistentes dificuldades, que também não têm poupado o setor de construção civil e suas atividades afins, como a pintura de imóveis.
Por certo, o profissional tanto demonstrava esperança de que a “coisa melhorasse” quanto lamentava essa “roubalheira toda”. Também como a imensa maioria, ponderava as opções de voto a partir de quem entendia ser mais honesto e capaz de melhorar a vida financeira do povo.
Correto! Todos buscavam valorizar a competência e a correição, e assim o seguem. Nada de novo. O peculiar pôde ser notado quando, de repente, algo se aflorou, denotando preocupação ainda mais elevada: o futuro dos filhos dele.
O profissional até aceitava enfrentar ainda mais perrengues financeiros, ainda se propunha a fazer um tantinho de vista grossa a alguns desmandos, desde que a próxima administração do país não permitisse, sob qualquer hipótese, que os filhos dele fossem expostos ao “tal kit gay” que “esse pessoal está querendo enfiar nas escolas”.
Apenas a título de esclarecimento: o tal kit gay nunca existiu. Na verdade, havia um projeto intitulado “Escola sem Homofobia”, elaborado pelo MEC e composto por três vídeos e um guia de orientação aos professores, como forma de reconhecer a “diversidade sexual” entre os jovens e alertar sobre o preconceito.
No que se observa a pertinência do questionamento: alguém pode ser contra isso? Haveria pais entusiastas da ideia de “não” distanciar os filhos do protofascismo? Desse naipe de figura que hostiliza – senão agride fisicamente – seres humanos já tão sofridos? Difícil…
No entanto, em que pese a questão do preconceito e da curiosa premissa de que a sexualidade (ou gênero sexual) é adquirida feito gripe, por contágio, fica inequívoco o fato de que a preocupação com os filhos se sobrepõe a todas as demais. Isto é consenso, algo raro e a se valorizar em momentos de tantas discordâncias.
Por sua vez, como há quem acredite que o melhor uso do tempo na escola acontece quando se canta hino e quem, diferentemente, entende que aprender português e matemática é mais importante, torna-se imprescindível o amplo diálogo, envolvendo educadores e pais de alunos.
A imposição unilateral e verticalizada de decisões por parte de poucos burocratas – não raro muito distantes da realidade efetivamente vivida pelos filhos do pintor -, certamente, não é o melhor caminho à evolução do ensino no país. Novamente: o diálogo em conjunto – e alheio a quaisquer ideologizações – deve ser a única e certeira meta.
Por este motivo, mais uma vez, a cidade se destaca na área da Educação.
Nesta semana, a prefeitura anunciou, para os dias 17 e 18, o 1º Fórum Municipal de Educação de Tatuí. O evento, realizado pela Secretaria Municipal de Educação, em parceria com a escola Educrescere e a Fatec, está com inscrições abertas, porém, com vagas limitadas.
De acordo com o secretário da Educação, Miguel Lopes Cardoso Júnior, a intenção é “promover um espaço para reflexões coletivas, compartilhar informações e ampliar a discussão sobre os valores que orientam a educação”.
“Vamos trazer palestrantes renomados, teremos apresentações culturais e queremos reunir diversas pessoas para discutir sobre o futuro da educação”, declarou o secretário.
Cardoso destaca que o formato do evento é baseado na “TEDxTatuíED”, primeira conferência da plataforma TED (organização sem fins lucrativos) realizada em Tatuí, no mês passado.
“Achamos que precisaria ter uma continuidade com foco mais municipal. No fórum, teremos diversas rodas de discussão com temas relacionados ao ensino e suas práticas, assim como inclusão social, métodos de ensino e ferramentas educacionais”, antecipou Cardoso.
O fórum será aberto à comunidade, principalmente a educadores, famílias e representantes do governo. A intenção é unir a todos “em um relacionamento de apoio, para a construção e transformação dos ambientes educacionais”.
“A proposta é caminhar para uma educação democrática, pautada na pedagogia da relação e da escuta, construindo um projeto educativo renovado e mais conectado com os anseios das crianças e da sociedade atual”, divulgou a secretaria.
As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas pela internet, por meio do www.fatectatui.com.br/forumeducacao. O link também está disponível na página oficial do Facebook (“Fórum Educação Tatuí”). O evento acontece no auditório da Fatec Tatuí para até 400 pessoas.
A iniciativa é excelente e merece atenção, até porque a Educação, por derradeiro e com toda a justiça, acaba sendo, entre todas, a mais vital das áreas de governo – assim reconhecida não apenas pelas autoridades e educadores, mas pela própria população.
As crises econômicas não são incomuns, mas cíclicas. A atual, que ainda persiste, pode até ser a maior da história do país, entretanto, chegará ao fim, certamente – com mais, ou menos, “reformas”.
A educação, no entanto, pelo bem (ou pelo mal) dos filhos do pintor e os de todos nós, é e sempre será a maior responsável pela base intelectual e ética das crianças de hoje e, consequentemente, pelo sucesso (ou fracasso) do Brasil no futuro.