Neste caloroso dezembro de 2018 muitas recordações longínquas e mais recentes vieram à tona nos meus neurônios felizmente ainda intactos, apesar dos meus 84 anos no vindouro 27 de dezembro.
O verão brasileiro está se anunciando, dias ensolarados quase tórridos e noites muito quentes convidam para sonhar, mesmo se ficarmos acordados vislumbrando miríades de constelações de estrelas, para nós cristãos a proximidade do Natal nos lembra o cometa anunciando o nascimento de Jesus, bálsamo para nossa alma e espirito.
“Sonho de uma Noite de Verão”, peça escrita em 1595 pelo imortal dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare, nascido na Inglaterra no reinado da grande conquistadora rainha Elizabeth I, na pequena cidade Stratford-Upon-Avon, em 23 de abril de 1564, e falecido na mesma cidade, em 23 de abril de1619, com apenas 52 anos, notabilizou-se na capital Londres, onde escreveu e encenou suas célebres obras-primas.
Por que Shakespeare?
Estou voltando a me recordar dos meus dourados 18 anos, quando fui estudar letras na Facoltá degli Stranieri (Faculdade dos Estrangeiros), na cidade italiana de Perugia, Região Umbria, no longínquo 1953.
Nas férias quis viajar para conhecer a Inglaterra, fui à capital Londres e nas Cidades de Windsor, Cambridge e como não ir a Stratford-Upon-Avon, onde nasceu Shakespeare, pois eu estava estudando sua obra no meu curso de letras?
Na ocasião era verão, estavam encenando a peça “Sonho de uma Noite de Verão”, fui ao teatro e pude conhecer de perto esse conto encenado maravilhosamente na cidade do dramaturgo.
Que lembrança linda da minha juventude!
Transcorridos muitos anos depois, em dezembro de 1991, já na maturidade da minha vida, pois já havia cumprido a missão de educar meus queridos filhos Paulo, Marcos, Fábio e Márcia do meu primeiro casamento e atuava naquela época na advocacia, numa bela manhã de verão, recebi, eu e meu marido, o jornalista e advogado tatuiano de nascimento, Mauricio Loureiro Gama, um alvissareiro convite para assistir o balé clássico do Estúdio de Balé Cidinha Tricta, precursor do balé em Tatuí de 1981 a 1991, dez anos de arte ensinando a juventude tatuíana a beleza dos gestos, dos passos e do espirito elevado dessa nobre arte.
O espetáculo do balé de “Sonho de uma Noite de Verão” foi realizado no Teatro “Procópio Ferreira”, para celebrar o encerramento das atividades do Estúdio de Balé Cidinha Tricta.
A arte do balé clássico teve origem milenar nas danças das bailarinas egípcias, gregas e romanas, com o passar dos tempos foram aprimorados os passos, o gestual, a interpretação e nasceu o balé clássico, a dança moderna e atualmente pós-moderna.
No último espetáculo de “Sonho de uma Noite de Verão”, que assisti naquele dezembro de 1991, tive a impressão de que as bailarinas estavam pisando em nuvens e não no solo do palco, a coreografia perfeita de época, os costumes impecáveis, a iluminação ora difusa, ora luminosa focalizando as cenas, a melodia e os sons instrumentais que vinham do fosso do teatro onde a orquestra regida pelo maestro Dário Sotelo transmitia a música, criação do compositor Edson Beltrami.
Durante os dez anos de atuações do espetáculo de Balé Cidinha Tricta, o Conservatório Dramático Musical “Carlos de Campos” e o Teatro “Procópio Ferreira” tiveram dedicados e competentes diretores, como o maestro José Coelho de Almeida, Kolreuter por curto período e o saudoso maestro Antônio Carlos Neves Campos.
As divulgações das atividades dessas instituições musicais de Tatuí sempre ficaram a cargo da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, com atuações nos festivais de Inverno de Campos do Jordão, onde instrumentistas estrangeiros atuaram e estão atuando para o reconhecimento do valor musical de Tatuí, Capital da Música.
Há dias lendo jornais de Tatuí soube que o secretário da Cultura de São Paulo Dr. Romildo Campello sugeriu que no brasão de Tatuí fosse colocada a clave de sol, por ser uma cidade dedicada à música, fiquei contente com a ideia.
Lembrei-me que meu marido jornalista Mauricio Loureiro Gama fez parte das comissões da elaboração do brasão de Tatuí e do hino da Cidade Ternura.
Como jornalista, ele atuou como primeiro âncora da televisão brasileira no primeiro dia da inauguração da televisão no Brasil, em 18 de setembro de 1950, na extinta TV Tupi.
Colaborou também na década de 1950 na divulgação da instauração do Conservatório Dramático Musical “Carlos de Campos” em Tatuí.
Trabalhou com afinco em jornais, revistas e televisões sempre dando apoio às atividades sociais e intelectuais de Tatuí, faleceu aos 92 anos, em 2 de agosto de 2004, hoje repousa “Encantado”, como diria Guimarães Rosa, em solo tatuiano.
Quanto a Cidinha Tricta, nome artístico, e Maria Apparecida Tricta Pettinelli Teles, seu nome de batismo, já está laureada pela sua arte e pela sua vida exemplar de cidadã tatuiana e brasileira, continue a admirar seus ídolos: o poeta e dramaturgo inglês Shakespeare e o músico e compositor russo Pyotr Ilich Tchaikovsky (1940 – 1993), o compositor do primeiro balé apresentado no Teatro Bolshoi em Moscou, “O Lago dos Cisnes”, depois vieram os balés a “Bela Adormecida” e o “Quebra Nozes”.
Ele também foi o compositor da monumental sinfonia 1812, ano em que Napoleão Bonaparte foi esmagadoramente derrotado na entrada de Moscou para conquistar a Rússia.
Estou me despedindo dos meus conterrâneos tatuianos, pois sou cidadã de Tatuí desde 2005, quando a Câmara Municipal concedeu-me o título do qual muito me orgulho.
Viva as artes das letras, da música e das artes plásticas!
Eu não tenho pendores artísticos, porém sou sensível às artes, pois sou filha do escultor e arquiteto Galileo Emendabili, autor entre muitas obras de artes a do Monumento Obelisco Mausoléu aos Heróis da Revolução Constitucionalista de 1932, situado no Parque do Ibirapuera em São Paulo.
Sei que Tatuí possui obras artísticas de meu pai, mas esse é um assunto para o Condephaat, espero que outras lembranças venham à tona em breve.