A família de Vicente Antônio Elias Júnior, 31, veterinário que morreu durante uma operação da Polícia Civil, nega a versão dada pelos agentes de segurança envolvidos e sustenta não ter ocorrido troca de tiros durante a abordagem.
O caso aconteceu na noite de terça-feira, 4, na vicinal que liga Tatuí ao município de Alambari, no Jardim Nossa Senhora de Fátima.
Conforme constado em boletim de ocorrência pela Polícia Civil, seis policiais à paisana – sendo quatro investigadores e dois delegados -, distribuídos em três viaturas descaracterizadas, realizavam uma operação, por volta das 19h, a partir de suspeitas de que o local era usado para receptação de caminhões e carga roubada, quando encontraram um carro na estrada de terra e abordaram-no.
Três homens – o veterinário, um funcionário dele e o filho desse empregado – estavam no veículo, um Fiat Uno prata, em frente à entrada de uma propriedade rural.
De acordo com a polícia, os agentes teriam se identificado e um deles desceu para falar com os homens. Contudo, o motorista do veículo teria atirado contra a equipe. Com isso, no BO, é descrito ter ocorrido uma troca de tiros.
Ainda segundo o boletim de ocorrência, durante a ação, o motorista tentou fugir. Ao acionar a marcha à ré, ele teria atingido uma das viaturas descaracterizadas e, após uma outra manobra, acabou capotando o carro.
Segundo a polícia, mesmo após o acidente, a vítima teria continuado os disparos de dentro do veículo, permanecendo parcialmente com os membros inferiores para fora, ocasião em que os agentes teriam revidado, efetuando disparos.
Por sua vez, diferentemente da versão dos policiais, a irmã da vítima, Mariah Roberta Camargo Elias, 24, sustentou à imprensa que o irmão não teria atirado.
“Ele tinha a arma regulamentada e estava com a ela, mas não atirou. Não foi isso que realmente aconteceu”, reiterou.
Segundo a irmã, o veterinário estava indo para o sítio do pai para tratar do gado, como fazia costumeiramente. Naquela oportunidade, decidiu levar junto o funcionário da família e o adolescente de 16 anos.
No caminho da chácara, a vítima teria percebido que havia três carros atrás dele na estrada, mas continuou o trajeto. As testemunhas teriam contado que os veículos seguiram atrás da vítima até o sítio e o abordaram na entrada do local.
“Quando chegaram, o funcionário saiu do automóvel para abrir a porteira e, do nada, viu o Júnior dando ré. Foi quando começaram o tiroteio, mas a testemunha disse que não viu meu irmão atirando”, acentuou.
Mariah ainda contesta a informação de que os policiais se identificaram durante a abordagem. Segundo ela, as testemunhas garantiram que nenhum dos agentes teria se identificado. Por isso, ela disse acreditar que o irmão se assustou e tentou fugir.
De acordo com a irmã, a vítima estava sendo ameaçada e estaria com a arma para se proteger. “Ele estava com a arma no carro porque andaram roubando o sítio, e ele estava com medo. Ele até já tinha procurado a polícia para registrar um boletim de ocorrência sobre a ameaça. Estou indignada! Ao invés de protegê-lo, o mataram”, declarou a irmã.
Mariah ainda afirma que o funcionário foi agredido pelos policiais. “Ele está em choque, e o filho dele, também”, afirmou.
A familiar questiona a atitude dos policiais e ressalta querer justiça pela morte do irmão. “Não entendo porque fizeram isso. O Júnior era uma pessoa tão boa. É muito doloroso, dói muito. Mas, dói muito mais as pessoas não saberem a verdade e acharem que foi tiroteio, falarem que ele atirou na polícia. Quem conhece meu irmão sabe que ele não faria isso”, completou.
O advogado Anderson Rodrigues Elias, primo da vítima, afirmou que a família está disposta a ir até as últimas instâncias para descobrir a verdade sobre a morte do rapaz. “Se for necessário, acionaremos até a Comissão de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos)”.
O advogado explicou que está assessorando a família para a contratação de profissionais, mas não deve cuidar do caso. “Eles vão contratar um perito e um advogado de fora da cidade, para poder acompanhar o processo até o final”, sustentou o primo.
Na data do crime, a Corregedoria e a perícia técnica estiveram no local. As armas utilizadas pelos policiais e pela vítima foram apreendidas e um boletim de ocorrência de homicídio em legítima defesa foi registrado.
Conforme a Secretaria de Segurança Pública informou em nota, o caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil. “A ocorrência foi registrada como morte decorrente de oposição à intervenção policial no plantão da Delegacia de Tatuí e todas as circunstâncias do caso estão sendo apuradas”, declarou o serviço estadual.
As testemunhas e os policiais envolvidos no caso foram ouvidos na Delegacia Seccional de Itapetininga durante a manhã de quinta-feira, 6.
A reportagem de O Progresso procurou as autoridades locais da Polícia Civil, contudo, não foi atendida.