Estamos na eleição mais imprevisível que o país já enfrentou. O primeiro turno de 2018 que acontece neste domingo, 7 de outubro, será marcado por um sentimento de indecisão e de incerteza, que não é novidade quando se trata do processo eleitoral.
Na última eleição presidencial em 2014, cerca de 21 milhões de brasileiros decidiram seus votos nas 48 horas que antecederam o primeiro turno. Isso representa aproximadamente 15% de eleitores indecisos à véspera da eleição daquele ano. Sem mencionar outros 19% que apenas decidiram sua escolha duas semanas antes da votação.
Conforme o dia se aproxima, vemos que as ações com foco em ganhar a intenção de voto dos cidadãos se intensifica. Como em uma guerra, a disputa é acirrada e direcionada a um único interesse, por vezes sem importar a tática (e nem a ética), mas apenas o resultado final da manifestação oficial do voto.
Para isso, em tempos de sociedade conectada onde informação é sinônimo de poder, a guerra a ser travada com o fim do horário eleitoral na televisão e no rádio não será marcada por um concurso de ideias ou de programas, mas uma batalha fortemente orientada por mecanismos tecnológicos que visam manipular a opinião pública e assim afetar sua visão da realidade.
Os sentimentos mais sinceros dos cidadãos estarão expostos à multiplicidade de fontes de informação inverídica, imprecisas e meticulosamente criadas para afetar tais sentimentos. A ampliação dessas vozes e ideias marginais por meio de “bots” que inicialmente inflam artificialmente o número de curtidas e compartilhamentos dão a impressão de um sentimento organicamente nascido, e então, impulsionam movimentos coletivos massivos como “manadas” organizadas em torno de um propósito comum.
Se não estivermos atentos à enxurrada de informação que se apresentará, conscientes de que a maior parte é conteúdo malicioso, corremos o risco de abrirmos mão dos nossos próprios pensamentos e reflexões em troca de uma falsa sensação de segurança e conformidade com nossas ideias.
A quantidade de informações polarizadas não é um mal em si mesmo, desde que fundamentada em conteúdos fidedignos sobre as partes envolvidas. Ao passo que no momento em que se dá por massiva circulação de informação inverídica, passa a ser uma ameaça ao próprio processo democrático.
A velocidade da viralização, os impulsionamentos com microtargeting, o senso artificial de popularidade e a relevância de informações extremistas devem gerar nos cidadãos um sentimento de atenção, de contínua reflexão, um senso crítico e maior conhecimento ao pesquisar o histórico dos candidatos, entender as funções e cargos, buscar fontes confiáveis, compreender o voto nulo e branco. Ações como essas são importantes para que não tornemos inválida a expressão mais importante ao direito do exercício de cidadania e democracia: o voto.
* Aquino, pesquisadora do IT&E na área de tecnologias interativas e sociedade;
Ariel, cofundador do IT&E e ex-diretor e atual conselheiro da Open Knowledge Brasil