Aleitamento materno

“Que teu alimento seja o teu medicamento” – Hipócrates

Por determinado tempo, a prática do aleitamento materno, por diversas causas que não nos cabe relatar aqui, vinha reduzindo progressivamente no mundo todo e significativamente mais nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Este fato foi muito lamentável, pois sabemos que o desmame precoce e a privação do leite materno fazem aumentar as taxas de mortalidade infantil, principalmente nas faixas de população mais carente, onde o risco de desnutrição e de diarreia infecciosa são potenciais.

Felizmente, nos últimos anos, temos notado uma valorização importante do aleitamento materno, não só pelos órgãos governamentais, como também por outras entidades, pelos serviços de saúde e, particularmente, pelos pediatras, que têm incentivado a prática tão saudável do aleitamento natural.

E assim tem sido preconizado, seguindo orientações da Unicef e da OMS para que as mães forneçam, única e exclusivamente, o leite materno, pelo menos até os seis meses de idade do bebê. Sabemos que, nesse período tão importante da vida humana, não há indicação de nenhum outro alimento, nem mesmo de água ou de chá, pois o leite materno supre todas as necessidades alimentares do primeiro semestre de vida.

É preciso que todos nós, profissionais de saúde ou não, e, principalmente, os meios de comunicação nos desdobremos para conscientizar as mães de que o leite materno é o melhor alimento para o bebê e que, para amamentar, não se requer prática e nem tão menos habilidade – é preciso, antes de tudo, ter muita vontade e determinação.

Na prática, sabemos que muitas mães querem amamentar e até chegam a fazer várias tentativas, porém, desistem logo nas primeiras semanas, diante de certas dificuldades que poderiam ser prevenidas, se consultado um pediatra ou um serviço de saúde para esclarecer as dúvidas, amenizar as tensões e, enfim, dar apoio técnico e moral para o ato de amamentar.

Quanto ao apoio técnico, precisamos estar firmes quanto aos “tabus” existentes entre as mães e lutarmos incansavelmente contra eles. Senão, vejamos:

Algumas mães referem que não amamentaram porque não tiveram leite. Sabemos que são raríssimas as condições em que a mãe não tem capacidade de produção de leite materno, pois, praticamente, todas as mães estão aptas para produzir o leite.

São necessários dois mecanismos básicos, dependentes dos hormônios prolactina e ocitocina, produzidos pela glândula hipófise materna. Com a sucção do bebê, portanto, um ato mecânico, há estímulo para a liberação de prolactina, que age na mama, produzindo o leite materno. Assim, quanto mais o bebê sugar, mais estímulo e mais leite será produzido.

Já a produção e liberação de ocitocina, hormônio responsável pela ejeção (“descida”) do leite materno depende mais do estado psico-emocional da mãe. Mães nervosas, inseguras e tensas impedem a boa descida do leite.

Outras mães relatam que cessaram o aleitamento porque o leite estava fraco. É preciso ficar bem claro este conceito: “não existe leite materno fraco”. O leite humano é o principal e o melhor alimento para o bebê. Ele tem uma composição equilibrada e adequada de nutrientes que a criança necessita.

Em relação a esse malfadado “tabu”, o que, às vezes, ocorre é que algumas mulheres produzem quantidade “insuficiente” de leite. Veja bem: pouca quantidade não é a mesma coisa que pior qualidade. A insuficiência de leite materno é perfeitamente corrigível e reversível.

Basta uma consulta com o pediatra ou o obstetra, que as orientarão e as estimularão de forma a sustentar e até aumentar a produção do leite materno. O que não se deve fazer, de forma alguma, é introduzir a mamadeira de fórmulas de leite. Essa conduta leva, infalivelmente, a criança a deixar do peito.

Algumas mães se queixam que os seios podem ficar “caídos” após amamentarem. Temos orientado que flacidez das mamas não decorre em si da alimentação, mas, sim, dos cuidados com as mesmas durante a gravidez e a lactação. O uso de um sutiã firme e massagem frequente durante a gestação ajudam em muito a evitar a flacidez das mamas.

E, finalmente, várias mães deixam de amamentar porque necessitam trabalhar fora. Essa questão também não tem fundamento, pois os direitos da mulher e, ainda, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) permitem um descanso diário de dois períodos de 30 minutos para amamentação (até o bebê completar seis meses de idade).

Nós, pediatras, temos obrigação de incentivar a prática do aleitamento. Portanto, vamos engrossar as fileiras pela luta em defesa do item mais importante do princípio IV da Declaração Universal dos Direitos da Criança: “Toda criança terá direito de desfrutar de alimentação adequada”.

Fonte: arquivo próprio

* Médico pediatra com título de especialista em pediatria pela AMB e SBP, diretor clínico da Clínica Alergoclin Cevac de Tatuí