A paternidade sempre foi vista como o “lugar” da autoridade, proteção, firmeza, das regras e da lei. De fato, estas premissas nos tornam o que somos: pais.
Entretanto, temos acompanhado uma crise desses papéis, uma carência e disfuncionalidade no ser e fazer paternos.
Podemos então perceber uma geração sem referências, carente não só da presença, mas da essência, daquilo que estrutura o ser humano. Sim, ouvimos ecoar por entre o caos social um apelo: Pai, um carinho, por favor!
Podemos dar resposta a esse pedido resgatando, o que, para mim, são três fenômenos genuinamente paternos: voz que gera segurança, autoridade que cria espaço e liderança que aponta o eterno.
A acolhida de um filho é antes de tudo verbal. Uma comunicação dos pais e cuidadores, que se doam por amor! E a criança ainda no ventre materno percebe perfeitamente todos os matizes e entonações de nossa voz, e com maior nitidez e eloquência escuta a voz paterna.
O psicanalista americano Bernard This afirma: “Entre a vivência no líquido amniótico e a vivência ao ar livre, a voz do pai serve de referência transicional tranquilizante: in útero, a criança percebe a voz de seu pai, os sons graves são inclusive mais facilmente percebidos do que os agudos. E após o nascimento, a voz do pai, ligada à segurança fetal, exerce sobre a criança efeitos tranquilizantes: ela chora menos, acalma-se mais facilmente. Quando o pai a banha, ela se acalma, mostra a língua, sorri quando se fala com ela, dormirá rapidamente e seu sono será mais profundo, mais regular.”
Hoje, mais cedo que nunca, precisamos romper o silêncio adâmico, colocar nossa voz firme em prol de nossos filhos, eles querem ouvir nossos conselhos, sentimentos traduzidos em palavras. Quando nos calamos frente ao filho, ele se perde na ansiedade da falta de referência. Pai, uma fala, por favor!
Após ser acolhido pela fala, há sobre o pai um desígnio de autoridade a exercer. Não aquela que se vale da força de um braço, mas a autoridade que sabe abrir as mãos, criando espaço para que o filho possa ser!
A verdadeira autoridade paterna está nessa capacidade de criar oportunidades, espaço para que o ser apareça na vida e se ponha na realidade. Nossos filhos precisam de estrutura, supervisão, de serem civilizados. Quando criados num ambiente muito à vontade, sob o princípio de não intervenção e despidos de liderança, no geral, eles começam a desafiar as convenções sociais e o bom-senso.
Muitos se machucam, pois buscam “fora de um lar” a autoridade que queriam dentro de casa, e alguns nunca se recuperam. É dos braços de um pai que a criança vislumbra a realidade de um mundo a desbravar, pois, antes do pai, ela com a mãe eram quase uma só “pessoa”. Ser autoridade é ser para o filho o universo de possibilidades de descobertas de si e do mundo! Pai, um espaço, por favor!
E, por fim, porém não menos importante, todo pai funciona como uma espécie simbólica do Eterno. Muito da relação com o transcendente é construída pela relação que nutrimos com nosso pai terreno. Não é à toa que temos, quando pequenos, a sensação de eternidade e indestrutibilidade paterna. Eles eram nossos heróis, quase deuses!
Pai, sobre nós há essa responsabilidade de benevolência e apontamento para o eterno. Não podemos renegar nosso lugar de liderança dentro do lar, na sociedade. Pai, uma eternidade, por favor!
Não quero com isso assumir uma postura machista. Não mesmo! Pois com voz, autoridade e liderança diferentes, a mãe também torna-se responsável pela construção do bem dentro dos filhos. Mas quero dizer que nós, pais, precisamos assumir o nosso lugar, nosso papel. Não podemos ficar escutando os pedidos de nossos filhos com o silêncio em resposta. É preciso assumirmos nossa paternidade nas mãos e sermos para nossos filhos o que eles precisam.
Urge por nossa paternidade em ação!
Pai, seja pai, por favor!
* Adriano Gonçalves é missionário, formado em filosofia e psicologia. Autor do livro “Santos de Calça Jeans”.