A obesidade é considerada, atualmente, a doença que mais cresce em todo o mundo, e a responsável pela pior crise global de saúde pública de toda a história.
Segundo projeção da OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2025, seremos 2,3 bilhões de pessoas com excesso de peso, sendo que cerca de 700 milhões serão portadores de obesidade mórbida, a forma mais grave da doença.
No Brasil, a doença avança de forma rápida e incontrolável. O Ministério da Saúde estima que existem 53,9% de brasileiros com sobrepeso e obesidade (há dez anos a taxa era de 43,3%), sendo que a doença já atinge cerca de 15% das crianças.
De acordo com a Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade), a situação na região Sudeste é ainda mais crítica, pois esta incidência alcança 22,8% das crianças.
Desde o Consenso do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos em 1991, o tratamento cirúrgico da obesidade, conhecido como cirurgia bariátrica, é considerado o único e efetivo tratamento que pode proporcionar resultados duradouros para os pacientes com obesidade grave ou mórbida.
Desde então, houve um grande aumento do número de cirurgias bariátricas em todo o mundo e no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, passamos de 16 mil em 2003 para 38 mil há dez anos, para cerca de cem mil operações em 2017 (7,5% a mais em relação ao ano anterior). Fomos o segundo país do mundo em números de operações, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Mas, apesar do aumento significativo, ainda estamos longe de conseguir tratar todos os estimados 5 milhões de brasileiros que necessitam da cirurgia bariátrica.
Dessa forma, precisaríamos operar cem mil pacientes por ano durante 50 anos para tratarmos todos os pacientes. Isto se não ocorresse o aparecimento de nenhum novo caso durante meio século.
A perspectiva é a pior possível. Mas não é exclusividade nossa. Calcula-se que, nos Estados Unidos, apenas 1% dos pacientes com indicação para a operação esteja sendo operado.
Os motivos para esta situação são bem conhecidos. A maior parte da população (71%) depende do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos hospitais públicos com toda a sua precariedade.
Os custos do material cirúrgico, grande parte importado, são muito elevados, o que traz enormes dificuldades também para as operadoras de medicina complementar. Por causa desta situação, várias alternativas são estudadas para esses pacientes.
A indústria farmacêutica passa por uma grande corrida atrás de novos medicamentos. Aquela que conseguir elaborar um medicamento realmente eficaz, com custo acessível e resultados prolongados, obterá um sucesso comercial muitas vezes maior ao alcançado com o aparecimento das estatinas e dos medicamentos para as disfunções sexuais. Assim, com certeza, a necessidade de cirurgias bariátricas cairá drasticamente.
Os tratamentos endoscópicos com resultados promissores aparecem como opção para os pacientes que, ou ainda, não possuem indicação para a cirurgia bariátrica, ou para aqueles que não podem ou não desejam ser operados. A cirurgia robótica já é uma realidade, porém seu custo ainda elevado restringe seu alcance a toda a população, especialmente aos mais carentes.
Diante deste cenário, o mais importante, como em diversas outras áreas da medicina, é prevenir. Ao enfatizar e esclarecer a todos, especialmente aos mais jovens, sobre a importância da orientação alimentar, da atividade física regular, e do acompanhamento psicológico e médico, poderemos vislumbrar uma remota possibilidade de controlar o avanço dessa doença.
* Médico, especialista em endoscopia digestiva e gastroenterologia.