O Fórum de Tatuí também realizou, na sexta-feira, 18, evento para lembrar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A iniciativa foi destinada aos funcionários da unidade e coordenada pela juíza da 3ª Vara Cível, Lígia Cristina Bernardi Machado, atual diretora do fórum.
O evento contou com a participação do Coro Sinfônico do Conservatório de Tatuí, sob a regência de Robson Gonçalves, que interpretou músicas como “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil; “Cálice”, de Chico Buarque e Gil; “Berimbau”, de Vinícius de Moraes; e “Desafio”, de Osvaldo Lacerda.
A magistrada considerou de suma importância a adesão do fórum à mobilização nacional e destacou que as vítimas devem buscar a Justiça objetivando a reparação dos danos sofridos.
“Muitas pessoas percebem que está acontecendo o abuso e não sabem como denunciar a situação. Para colaborar com a divulgação disso, nós resolvemos participar dessa campanha”, declarou a magistrada, reforçando o “disque 100”, para denúncias junto à Secretaria dos Direitos Humanos.
O encontro contou com palestra do juiz coordenador do NJR (Núcleo de Justiça Restaurativa) de Tatuí e membro da CIJ (Coordenadoria da Infância e da Juventude) do Tribunal de Justiça de São Paulo, Marcelo Nalesso Salmaso.
Na explanação, o magistrado comentou que a violência precisa ser compreendida de maneira ampla e que “tudo o que não vai bem, na estrutura de convivência social leva a atos de violência e transgressão”.
Em relação aos atos de violência sexual contra crianças e adolescentes, o juiz explica ser necessária a compreensão de que o abusador tem como fundamento “transformá-los em um objeto para a satisfação do prazer”.
“A maior parte desses atos se dá no âmbito familiar, é praticado por pessoas conhecidas e está acobertado por quatro paredes”, discorreu.
O juiz revelou que, muitas vezes, as vítimas, por imaturidade e vergonha, sentem-se culpadas e não contam para ninguém que estão sendo abusadas. “Quando aparece (casos de violência sexual) na convivência familiar, a família, por ser dependente econômica ou sentimentalmente da pessoa que perpetrou o ato de violência, acaba gerando uma pressão, em cima da criança, para que ela se sinta culpada e o caso não venha à tona”, justificou.
Segundo Salmaso, é importante ter o foco não só em punir o ofensor, mas, principalmente, na vítima, para que se possa cuidar de quem sofre o abuso.
“Estamos pensando em um sistema que possa cuidar da vítima em todos os âmbitos: na saúde, assistência social, educação e no sistema de justiça”, explicou o juiz.
O magistrado assegurou ser fundamental que as pessoas estejam preparadas para acolher as vítimas, não só para que elas contem sobre o ocorrido, mas que não fiquem marcadas nos ambientes de convivência.
“Que elas possam ter os cuidados necessários, tanto físicos ou psíquicos, no sistema de saúde. Essas vítimas precisam ser empoderadas, participando de programas que deem vez e voz e que possam ajudá-las a ressignificar essa dor e transformar em motivação de vida”, relatou Salmaso.
Segundo o juiz, existem estudos que apontam que a maior parte dos abusadores foram abusados na infância. Para Salmaso, é preciso encerrar esse ciclo, de pessoas que foram vítimas desse tipo de violência e, futuramente, praticam atos violentos, como forma de expressar a violência que sofreram.
“E, assim, nós vamos girando em um sistema de vingança que foca somente no ofensor. Se nós não cuidarmos da vítima, vamos prosseguir enxugando gelo”, completou Salmaso.