O que é a imunoterapia?
A imunoterapia hipossensibilizante, também chamada de vacina para alergia, consiste na administração gradual de doses crescentes de alérgenos ao indivíduo alérgico com a finalidade de reduzir os sintomas associados à exposição deste alérgeno. A imunoterapia foi usada pela primeira vez para o tratamento de rinite alérgica por Noon e Freeman em 1911.
Em 1997, sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde ocorreu em Genebra uma reunião, com a presença de várias entidades do mundo inteiro, representativas da especialidade de alergologia e de imunologia para rever e padronizar o tratamento das doenças alérgicas pela imunoterapia específica.
A imunoterapia é uma forma de tratamento utilizada há mais de 50 anos com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes alérgicos, diminuindo a sensibilidade a determinadas substâncias e reconhecida atualmente como uma das mais eficientes formas de tratamento do indivíduo atópico (alérgico).
O tratamento consiste na aplicação de alérgeno, ao qual o paciente é sensível em doses crescentes, a intervalos predeterminados, por um período de tempo que é variável (1 até 5 anos). Pode ser feita por via oral ou injetável. A imunoterapia transforma um paciente alérgico (produtor de IgE) em indivíduo normal (produtor de IgG – anticorpos)
O que é alergia?
Alergia é uma reação do sistema imunológico. Uma das apresentações mais comuns de alergia é caracterizada pela formação de anticorpos de uma determinada classe de proteína, chamada de imunoglobulina E (IgE). Estes anticorpos são específicos para componentes (alérgenos) do ambiente, como os ácaros da poeira, pelos de animais, fungos, alimentos e insetos.
Como se faz o diagnóstico do alérgeno responsável pela alergia do paciente?
Hoje, usamos dois métodos principais: 1. “Prick-test” – feito na região do antebraço do paciente, fazendo pressão com puntores com os principais alérgenos (em torno de dez substâncias) e depois se determina o grau de reação (tamanho da pápula local) e dois. Pesquisa de IgE e Rast específicos para os alérgenos, no sangue.
De que forma a alergia pode se manifestar?
Uma vez que a pessoa tenha se sensibilizado (formado anticorpos IgE), a reação alérgica pode ocorrer de forma imediata após o contato com o agente (alérgeno) ou se estabelecer lentamente vindo a se manifestar de forma contínua (rinite alérgica, rinoconjuntivite e asma).
Isto depende do grau de sensibilização (quantidade de anticorpos IgE), do tipo de alérgeno que desencadeou a reação e da frequência do contato com o mesmo. Exemplo de manifestação aguda e potencialmente grave é a reação anafilática, que pode ser desencadeada por alimentos, medicamentos e por insetos, como abelhas, vespas (marimbondos) e formigas.
Por outro lado, a asma e a rinite alérgica ou rinoconjuntivite alérgica são exemplos de manifestações que ocorrem de forma crônica por exposição contínua a alérgenos do ambiente derivados de ácaros, pelos e fungos do ar, entre outros.
Qual o objetivo da imunoterapia?
O objetivo é reduzir o grau de sensibilização (nível de anticorpos IgE e da reação nos tecidos), impedindo reações alérgicas imediatas graves – como a anafilaxia – e, também, interferir na inflamação característica das condições alérgicas de longa evolução observadas na rinite alérgica, na rinoconjuntivite e na asma brônquica e fazendo o indivíduo alérgico em um paciente praticamente normal.
Quando a imunoterapia pode ser indicada?
A imunoterapia pode ser indicada para pessoas sensíveis aos ácaros da poeira doméstica, pelos de animais (gato e cão), fungos e venenos de insetos. De modo geral, a sensibilização a estes alérgenos está associada a manifestações respiratórias (rinite e asma) e a reações graves, como a anafilaxia por picada de insetos. Não existe indicação de imunoterapia para alergia a alimentos e para os quadros de alergia por contato.
A indicação da imunoterapia deve ser fundamentada:
1 – na comprovação da sensibilização (presença de anticorpos IgE para os alérgenos); 2 – na avaliação da importância da alergia no quadro clínico do paciente; e 3 – na disponibilidade do alérgeno específico para o tratamento.
É importante ressaltar que as vacinas com alérgenos não devem ser aplicadas como forma isolada de tratamento. Ao contrário, a abordagem do paciente alérgico deve contemplar medidas de controle da exposição à alérgenos (controle ambiental); o uso de medicamentos para controle e prevenção das manifestações clínicas e indicação de exercícios respiratórios, como a natação, por exemplo.
Desta forma, a imunoterapia com alérgenos deve ser considerada como uma parte de um plano de tratamento que inclui medidas de controle ambiental e medicamentos, que são usados por médio e longo prazo.
A impossibilidade do afastamento total do contato com o alérgeno, a intensidade das manifestações clínicas que determinem necessidade de medicação constante e a concordância do paciente em receber imunoterapia são fatores que devem ser analisados na indicação da imunoterapia com alérgenos.
Fonte: Asbai – Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
* Médico especialista em pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Médica Brasileira e Membro da Sbim. Cremesp – 34708