A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.
Mahatma Gandhi
Liberdade Ainda Que Tardia!
Tiradentes é um dos mitos da história brasileira. Joaquim José da Silva Xavier participou da Inconfidência Mineira, movimento inspirado na Revolução Francesa que tinha como objetivo conquistar a independência de Minas Gerais.
Lembra-se que o imaginário sobre o mártir da Inconfidência foi construído com referências a Jesus Cristo. “O mito da inconfidência foi construído em torno de Tiradentes. Condenado, a imagem dele passou a ser a imagem do grande herói, do mártir. Cabelo comprido, barba comprida, assim foi construído o mito para associá-lo à imagem de Cristo”.
Filho de portugueses, Tiradentes ficou órfão e foi criado por um parente que era cirurgião-dentista, com quem aprendeu o ofício. Foi tropeiro de burros, minerador e, por fim, alferes dos Dragões do Exército Português, onde teve contato com os ideais iluministas da Revolução Francesa. No Brasil, as inspirações serviram para lutar contra a coroa portuguesa. Antes que o objetivo fosse alcançado, Tiradentes foi delatado, condenado e enforcado.
Era o dia 21 de abril de 1792. Pairava no ar um sentimento de tristeza, apesar do alto tom das vozes e dos sonoros tambores. As 7h da manhã, o negro conhecido com o apodo de Capitânia, que serviu de carrasco, entrou no oratório da cadeia onde se encontrava o prisioneiro Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, condenado à morte na forca, devido ao crime de rebelião e alta traição contra a Real Soberana D. Maria I.
Levava nos braços, comprida e grossa corda, bem como o camisolão branco, vestimenta destinada aos condenados. Diferentemente do que divulga a história, Joaquim José estava sem barba e com a cabeça toda raspada, preparado para enfrentar a morte.
O carrasco lhe pediu desculpas pelo que o obrigaram a fazer, o que foi aceito por Tiradentes, que lhe beijou as mãos. Sem roupa alguma, vestiu o respectivo “manto” dos que foram para a forca, esbravejando: – Meu Salvador morreu também assim, nu, por meus pecados.
Foi colocada a corda em seu pescoço. Não eram ainda 9h, quando iniciou o triste cortejo. À frente, marchava uma companhia de soldados. Depois, os frades rezando orações e, em seguida, Tiradentes, laço no pescoço e a ponta da corda segura com firmeza pelo carrasco.
Embora estivesse descalço e vestido em uma camisola, Tiradentes nada tinha de ridículo. Ele era forte, a cabeça sempre alta e o passo firme marchando para a forca.
Houve um clamor no Largo da Lampadosa, no momento em que o condenado estava chegando. Tiradentes entrou na praça, subiu os degraus do patíbulo e dirigiu-se ao carrasco, da seguinte maneira: – Acabe logo com isto.
Após o impiedoso e extenso discurso de Frei José Jesus Maria do Desterro, foi rezado o Credo. Os tambores não emudeceram a voz de Tiradentes, que rezou com o povo.
Súbito, no meio de uma frase, um baque surdo. O bater dos tambores cresce e o corpo de Tiradentes balança no ar. Eram 11 horas e 20 minutos. O cidadão brasileiro Joaquim José da Silva Xavier, idealista pela liberdade de seu País estava morto.
Ontem, dia 21 de abril de 2018. Portanto, 226 anos se passaram desde a morte de Tiradentes. Terá sido em vão o sacrifício daquele Alferes? Afinal, estamos vivenciando o sistema da real democracia? Será mesmo que alcançamos o estágio da liberdade plena? O jugo econômico de alguns países não coíbe a total independência do Brasil? As respostas dependerão de nossa ponderada reflexão.