“O Aeroclube de Tatuí tem como missão principal o estímulo à aviação civil”. A afirmação do presidente Alexandre Simões de Almeida é um reforço ao compromisso da entidade como unidade formadora de praticantes de voo à vela.
Dentro desse princípio, Almeida explicou que a função da instituição é de desenvolver a atividade como um esporte. “O voo à vela não é popular no Brasil”, atestou.
Em Tatuí, o uso de planadores é profissionalizado, com homologação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Por esse motivo, o curso oferecido pelo aeroclube é teórico e prático e visa à formação de atletas. Pelo menos dois deles, que integram a equipe da entidade tatuiana, já começaram a obter os primeiros resultados de trabalho.
Simões afirmou que o esporte é respaldado pela FBVV (Federação Brasileira de Voo à Vela). “Inclusive, o campeão pan-americano desse ano é brasileiro. Depois de muito tempo, tivemos um brasileiro vencendo”, comemorou.
Segundo o presidente, o fato precisa ser destacado, uma vez que o esporte não é disseminado no país. Para Simões, falta conhecimento sobre o voo à vela como desporto. Além disso, dentro da aviação, o voo à vela é uma atividade restrita.
“Quando se fala em aviação, as pessoas lembram sempre em shows aéreos, com a Esquadrilha da Fumaça, pensam em aviões comerciais e aviação executiva. Alguns, nem imaginam que existe uma aeronave sem motor”, afirmou.
O Aeroclube de Tatuí funciona por meio de parceria com a Prefeitura. A instituição detém um contrato de comodato, pelo qual se responsabiliza pela administração do aeródromo municipal, pelos demais operadores e pela manutenção da infraestrutura. O trabalho inclui a pista, os hangares e o suporte ao voo.
Na atividade de voo à vela, o aeroclube atua na formação de pilotos, que podem – ou não – seguir um caminho. Simões explicou que não existe uma carreira, mas um percurso para a prática do esporte. O aluno inicia com o curso de piloto privado de planador e, dentro dele, pode evoluir com as insígnias.
As insígnias são qualificações do brevê e obtidas a partir de uma série de requisitos. As quatro mais conhecidas são as de lata, prata, ouro e diamante.
O Aeroclube de Tatuí está apto a conferir qualquer uma delas, mas a partir de missões. Estas precisam ser registradas perante a FAI (Federação Aeronáutica Internacional), uma organização internacional de voos esportivos.
Entre 2015 e 2017, o Aeroclube de Tatuí emitiu quatro brevês do tipo “C”, com insígnias prata. A quantidade é grande, dado o número de pilotos formados. Por ano, entre cinco e dez obtêm brevês conferidos no município.
O documento demora a ser emitido em função do tempo necessário para a formação. Simões disse que o voo à vela exige muito dos pilotos, tanto de quem já tem experiência em aviação civil, como para quem nunca ocupou um “cockpit” (cabine de pilotagem).
“Nós já tivemos, no nosso quadro de sócios, um ex-integrante da FAB (Força Aérea Brasileira), que voava em jato de aviação de caça. E ele teve dificuldades para se adaptar ao planador. Então, imagine quem não voou”, comparou.
O curso em Tatuí pode ser feito por qualquer pessoa, desde que aprovada no exame médico de aviação. Ele é composto por uma bateria de testes “rígidos”.
A idade mínima para o ingresso é de 18 anos, conforme normas da Anac. É preciso ter ensino médio completo e estar em boas condições de saúde.
Embora seja frequentado por sócios, o Aeroclube de Tatuí está aberto à população. Simões informou que a entidade sem fins lucrativos tem registrados 120 sócios.
No entanto, boa parte deles são sócios-fundadores. Os demais, perto de 50, são mais atuantes. A frequência também inclui convidados.
A direção da entidade é formada por 17 pessoas, entre titulares e suplentes, que ocupam funções como presidente, vice-presidente, tesoureiro e vice-tesoureiro, e para as áreas de competência técnica de voo (diretor de operações, diretor técnico, diretor de materiais), complementando com os conselheiros.
Mensalmente, os membros avaliam o balancete preparado pela tesouraria. Por meio do documento, o conselho fiscal divulga, em mural, todas as atividades, como alteração de patrimônio, compra de planadores e construção de hangares. As atividades são todas aprovadas, mediante assembleias.
A entidade conta com secretaria, sede administrativa e social. Nesta última, são realizados os eventos com os sócios. Há, ainda, a área operacional, onde ficam as aeronaves. No total, o Aeroclube de Tatuí possui 11 aeronaves destinadas ao voo à vela. Quatro planadores são bipostos (com lugar para aluno e instrutor) e cinco, monopostos, para uso de alunos que já tenham brevetado, mais dois aviões.
A entidade tem dez hangares, sendo que o aeroclube ocupa o de número quatro. Os demais são utilizados por quem tem contrato de hangaragem firmados no passado.
“Alguns foram construídos pela iniciativa privada e, depois de anos, a infraestrutura foi incorporada pelo aeródromo”, disse Simões.
Atualmente, todos os hangares pertencem ao administrador (o aeroclube). Os ocupados pelos permissionários mantêm aeronaves usadas para atividades que vão desde a prática de voo à vela a uso comercial. “Temos desde aviões monomotor, bimotor e a jato hangarados aqui”, contou o presidente.
Em função das características da pista, apenas aviões do porte de um Fokker 100 (desde que vazio) são comportados para pouso e decolagem.
Simões explicou que o piso não tem resistência suficiente para suportar atividades frequentes com uma aeronave maior, como um A320, apenas pousos de emergência e com risco de quebra do asfalto. “Mas, faríamos isso para salvar uma vida”, disse.
“Nossa pista não tem a compactação com concreto que existe em aeroportos grandes, como os de Congonhas e Guarulhos. A maior parte dela é de asfalto com reforço na fundação, mas, por não ter reforço de concreto, acaba tendo essa limitação com peso de aeronave que pousa aqui”, emendou.
Atividade comercial
A limitação da pista é um dos aspectos pelos quais a aviação como atividade comercial não é explorada em Tatuí. De acordo com o presidente, o aeroclube tem infraestrutura para manter a aviação executiva (com jatos particulares).
O espaço chegou a abrigar, no passado, uma empresa de táxi aéreo e, mais recentemente, entre 2015 e 2016, uma que atua na manutenção de aviões.
Contudo, a exploração da aviação civil demandaria investimentos sem garantia de retornos. Isso porque Tatuí teria de ser inserida na aviação regional e brigar com cidades mais estruturadas, como Sorocaba e São Roque.
“Esse não é o nosso foco, primeiro, porque não temos a infraestrutura e, segundo, porque o investimento para tocar a aviação regional, como um operador comercial é bem elevado. O aeroclube, com os recursos que tem atualmente, não conseguiria fazer esse investimento”, argumentou.
Também seria necessário haver contrapartida da Prefeitura. O Executivo, que construiu a pista, precisaria dar respaldo, o que poderia adiar o investimento.
Simões ressaltou que não considera a aviação regional desinteressante. Prova disso, para ele, é o aporte feito em Sorocaba, que conta com um “aeroporto de fato”, com terminal de embarque e desembarque, posto da RF (Receita Federal) e pista iluminada.
Por outro lado, o presidente afirmou que trazer a atividade representaria perigo, por conta de eventuais riscos financeiros.
O presidente argumenta que, com a crise econômica, o movimento de passageiros caiu drasticamente e a concessionária do aeroporto de Sorocaba acabou tendo prejuízo.
“Não precisa ir muito longe, a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e o Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo), antigamente, tinham uma boa arrecadação. Hoje, não estão nem disputando concessões dos aeroportos mais”, acrescentou Simões.
A regra básica é que, para manter um aeroporto, é preciso haver demanda. Em outras palavras, que o número de passageiros seja constante, senão crescente.
Além disso, Simões apontou que o aeroporto tem de estar em um “lugar atrativo”. “Alguém tem que querer pousar na cidade. Se uma determinada cidade não está movimentando a economia, não tem motivo para pousar ali”, completou.
Em Tatuí, a atividade comercial não seria impactada pela presença de prédios na cabeceira da pista. Edifícios como um hotel e o fórum da comarca, por exemplo, estão situados no lado oposto do aeroclube, mas na mesma direção da rampa de aproximação da pista. No entanto, não afetam a atividade.
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