Há exatamente um ano, este espaço serviu para registrar um fenômeno de incompreensível e absurda maldade, o qual, inacreditavelmente, continua a se repetir, evidenciando o quanto, às vezes, o ser humano pode ser cruel e insensível.
Naquela oportunidade, pessoas muito esquisitas – para dizer o mínimo -, de repente, acharam-se na obrigação de externar comentários – claro, pelas tão produtivas redes sociais – sobre o desaparecimento de uma menina em Tatuí.
Essas figuras, na prática, então colocavam toda a responsabilidade do desaparecimento sobre a mãe, esquecendo-se de que, por aí, solto, estava (e continua a estar) um criminoso certamente insano e perigoso (se sequestrador ou coisa pior, ainda não se sabe, mas, certamente, um criminoso).
Isso sem falar na conveniência, ignorada, de se lembrar dos sentimentos da mãe – ainda que tivesse ela algum tipo de culpa. Aliás, a própria Justiça costuma não só reconhecer, mas tomar como preponderante essa dor em tragédias envolvendo pais e filhos.
Ou seja, não são incomuns as absolvições por completo de pais que, sem querer, causam a morte dos filhos – como esquecê-los dentro de carros e, assim, levá-los à morte por desidratação.
Em quase todos esses casos, ocorreu a “absolvição” da mãe ou do pai responsável pelo esquecimento. No correto e perfeito entendimento da Justiça, a perda do filho já é a maior punição que os pais podem sofrer. Mais que isso seria puro sadismo.
E, pelo que se observa nas redes sociais, é isso mesmo: sadismo! Aparentemente, muita gente gosta de ver os outros sofrerem, enxergando em uma possível tragédia como a dessa mãe tatuiana a oportunidade de exibir sua ridícula prepotência e incontrolável ego…
O caso em questão envolve o desaparecimento da menina Juliana Soares Conceição, no dia 6 de novembro de 2016, um domingo. Segundo a mãe, antes de desaparecer, a garota brincava com três irmãos e vizinhos na rua Pedra Ribeiro Abrame, no Jardim Santa Rita.
As crianças teriam saído para brincar na rua às 17h. Cerca de uma hora depois, a mãe os chamou de volta para casa, porém, apenas três das quatro crianças apareceram.
No momento do desaparecimento, a garota usava “top” de cor preta, “shorts” vermelho e sandálias brancas. Juliana é magra, tem estatura baixa e cabelos cacheados, então pintados de loiro.
Na quinta-feira da semana seguinte, 10 de novembro, moradores do bairro encontraram restos de roupas queimadas em uma estrada de terra no Queimador. O bairro rural fica próximo à localidade onde a família mora. Junto aos vestígios, havia um frasco de álcool.
As roupas queimadas foram enviadas ao IC (Instituto de Criminalística), de Itapetininga, que as remeteu à capital paulista. A expectativa era de que o laudo seria emitido no início do próximo mês, contudo, até hoje não foi revelado.
Um ano depois, as investigações sobre o desaparecimento não avançaram, conforme a mãe. Izoneide conta que parou de ir frequentemente à Delegacia Central por não ter novidades.
O caso está sendo investigado pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais), de Itapetininga. A reportagem de O Progresso tentou contato com os policias, sendo informada de que parte da equipe estava de licença.
No momento, a mãe de Juliana recebe atualizações de uma assistente social de Tatuí. “Ela vai sempre a Itapetininga para saber das coisas”, acrescentou. Mesmo sem novas informações, Izoneide afirmou que mantém esperança na investigação.
Em seguida ao desaparecimento, teve início o sadismo, com anônimos procurando a mãe, por telefone e redes sociais, dando informações erradas – e tétricas, especialmente – sobre o suposto paradeiro da menina.
Sucede que, um ano depois, a prática absurda persiste. “No começo, era bastante. Agora, diminuiu”, afirmou. Segundo ela, as ligações costumam ser sempre com informações negativas e nunca confirmadas.
“Falavam que haviam encontrado uma criança ao lado de uma cachoeira (no rio Tatuí), e também que ela estava ao lado de um canavial e sem nada por dentro”, contou.
De acordo com a mãe, os trotes permaneceram constantes durante cinco meses, só diminuindo quando ela procurou a Polícia Civil.
“Fui até a delegacia e comecei a chorar lá. Pedi, pelo amor de Deus, para eles grampearem meu telefone, porque eu não estava aguentando mais”.
Além de detalhes alarmantes, a dona de casa explicou que as ligações causam falsas esperanças na família. Izoneide relatou que, toda vez que recebe uma informação mentirosa, começa nova saga em busca da menina. “Eu chegava a ir a todos os lugares, só que nada encontrava”, acrescentou.
Conforme a mãe, em todas as ligações não identificadas, o paradeiro da menina seria sempre próximo da casa. “De desespero, eu ia a todos eles”, contou.
A dona de casa pede que pessoas (seres humanos normais) com informações (verdadeiras) sobre a menina repassem os dados à Polícia Civil. O contato é o Disque 100 (Disque Direitos Humanos).
Quanto aos demais meios de comunicação, como as redes sociais, que sirvam para contribuir e não para atrapalhar, principalmente quem sofre tanto, como a mãe de uma criança desaparecida – assim considerando-se o sentimento alheio, nem que seja apenas para variar um pouco.