“É muito difícil ficar dentro de casa. Tem vezes que fico sentada do lado de fora, quando não fico na rua. Levo as crianças para a escola e, depois, saio andar para o lado do canavial, onde sempre ela ficava brincando. É difícil demais”.
Desde que perdeu o contato com a filha desaparecida, essa tem sido a rotina da dona de casa Izoneide Soares da Silva, de 28 anos. Ela é mãe da pequena Juliana Soares Conceição, que desapareceu em novembro de 2016. A garota brincava com os irmãos em um canavial próximo à casa dela.
O drama vivido por Izoneide completou um ano na segunda-feira, 6, data na qual a dona de casa voltou a falar sobre o desaparecimento. A O Progresso, ela mencionou que ainda tem esperança de poder reencontrar a menina.
Izoneide disse, também, que precisara acionar a polícia por causa de trotes. A maioria deles, com informações de que Juliana havia sido encontrada morta. Ela declarou que está confiante no trabalho dos investigadores e pediu, novamente, apoio da população para saber o paradeiro da garota.
Juliana sumiu depois de ter ido brincar em um canavial. Ela havia saído de casa pela manhã, na companhia de três irmãos, conforme relatou a mãe. “Naquele dia, eles pediram para brincar, como sempre faziam, e eu deixei”, recordou-se.
Izoneide é mãe de cinco filhos, contando com Juliana, dos quais três acompanharam-na nas brincadeiras, mas voltaram para casa. Na época, as crianças tinham 13, 9 e 6 anos; a irmã que desapareceu, 10, e o bebê que ficou com a mãe, um ano de idade. As crianças costumavam sair de casa por volta das 9h.
De acordo com a dona de casa, elas voltavam para o almoço entre as 12h e 13h. Depois, retornavam para o canavial, onde costumavam interagir com outras crianças. A mãe notou o sumiço de Juliana apenas no final da tarde, quando perguntou por ela.
Um ano depois, Izoneide continua a busca pela menina e a receber trotes. “No começo, era bastante. Agora, diminuiu”, afirmou. Segundo a mãe, as ligações costumam ser sempre com informações negativas e nunca confirmadas.
“Falavam que haviam encontrado uma criança ao lado de uma cachoeira (no rio Tatuí), e também que ela estava ao lado de um canavial e sem nada por dentro”, contou.
De acordo com a mãe, os trotes permaneceram constantes durante cinco meses. Izoneide afirmou que as ligações só diminuíram quando ela procurou a Polícia Civil.
“Fui até a delegacia e comecei a chorar lá. Pedi pelo amor de Deus para eles grampearem meu telefone, porque eu não estava aguentando mais”.
Além de detalhes sórdidos, a dona de casa explicou que as ligações causavam falsas esperanças na família. Izoneide relatou que, toda vez que recebia uma informação mentirosa, começava nova saga em busca da menina. “Eu chegava a ir a todos os lugares, só que nada encontrava”, acrescentou.
Conforme a mãe, em todas as ligações não identificadas, o paradeiro da menina seria sempre próximo da casa. “De desespero, eu ia a todos eles”, disse.
Por conta de um dos trotes, Izoneide chegou a mobilizar moradores próximos e conhecidos. A dona de casa contou que, na ocasião, recolhia roupas dos meninos no banheiro.
“Eles deixavam as peças sujas no chão quando iam tomar banho. Quando atendi, uma mulher falou que haviam encontrado minha filha morta, sem cabeça, sem coração, sem nada por dentro”, relatou.
A informação dava conta de que Juliana estaria “toda aberta e perto do canavial”. “Saí desembestada e um pessoal que estava em casa comigo, no momento, saiu correndo comigo, procurando pela minha menina”, contou.
O grupo não conseguiu localizar a garota. De acordo com a mãe, os amigos também não puderam contatar quem havia repassado o dado falso à família. “Quando uma pessoa que estava comigo tentou ligar com mais calma, não conseguiu, porque dava que o número de telefone não existia”, descreveu.
Apesar de tentar poupar os outros filhos de situações como os trotes, a dona de casa contou que os irmãos da menina também são afetados pelo desaparecimento. Isso porque a filha mais velha de Izoneide faz aniversário no mesmo dia que Juliana.
“Elas são do mesmo dia, 8 de julho. E, neste ano, eu nem consegui comemorar o aniversário delas. Minha filha mais velha pediu uma festinha, mas veio o desespero, a dor no peito, e não tinha como fazer uma festa”.
Sem novidades
As investigações sobre o desaparecimento da menina não avançaram, conforme a mãe. Izoneide disse que parou de ir frequentemente à Delegacia Central por não ter novidades. O caso está sendo investigado por uma equipe de Itapetininga. A reportagem de O Progresso tentou contato com os policias, sendo informada de que parte da equipe estava de licença.
No momento, a mãe de Juliana recebe atualizações de uma assistente social de Tatuí. “Ela vai sempre a Itapetininga para saber das coisas”, acrescentou.
De acordo com a mãe, a polícia não tem novidade sobre o desaparecimento. “A única coisa que eles falam é que estão investigando”.
Mesmo sem novos dados, Izoneide afirmou que mantém esperança nos investigadores. O caso está a cargo da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), de Itapetininga.
“Muita gente fala que eles (os policiais) não estão fazendo nada. Só que eu acredito que eles estão. Acontece que ainda não encontraram nada”, declarou.
As duas únicas pistas localizadas pela Polícia Civil são uma peça de roupas encontrada parcialmente queimada e uma filmagem de câmera de segurança.
As vestes foram encontradas em uma estrada rural do bairro Queimador e coletadas pela equipe do IC (Instituto de Criminalística), de Itapetininga, ainda em novembro de 2016, e repassadas ao IML (Instituto Médico Legal), da mesma cidade.
Na ocasião, as roupas foram levadas a São Paulo, devido ao fato de o IML de Itapetininga não ter os equipamentos necessários para a coleta de material genético. O resultado não foi informado até o momento pela corporação.
“Essas peças apareceram no mesmo dia que nós fomos entrar nas casinhas em construção (em residencial na região)”, contou Izoneide. A mãe soube do encontro dos restos de roupas – que poderiam ser da menina – quando tentava vistoriar a área. Ela estava acompanhada de um grupo de busca.
A mãe contou que o responsável pela obra havia autorizado a entrada de apenas 30 voluntários. O objetivo era tentar encontrar pistas do paradeiro da menina.
“Quando eu estava chegando perto das casas, um vigia falou que a perícia tinha encontrado, para o lado do Queimador, roupas queimadas da minha menina. Saí em desespero e nem cheguei a entrar na primeira casa”, recordou-se.
Para chegar ao local, Izoneide precisou de carona. Ela disse que uma das pessoas que a acompanhavam levou-a até o bairro e que, ao ver as peças, entrou em desespero. Por estar nervosa, a dona de casa chegou a brigar com um investigador.
Contrariando opiniões que ouve – de que não conseguirá localizar a filha -, a mãe acredita que poderá encontrá-la. “Ainda tenho esperança. Pode ser de qualquer jeito, mas eu vou encontrar a Juliana”, enfatizou.
A dona de casa pede que pessoas com informações sobre a menina repassem os dados à Polícia Civil. O contato é o Disque 100 (Disque Direitos Humanos).
“Quem não quiser se identificar pode deixar de madrugada um bilhetinho no meu quintal, mas eu queria uma luz, pelo menos para acabar com esse sofrimento”, adicionou.
Além de mudar a rotina da família, o desaparecimento de Juliana mexeu com o bairro. De acordo com a mãe, o festival de pipas que costumava acontecer no terreno onde a menina teria ido brincar foi suspenso.
“No dia em que a Juliana sumiu, o canavial estava cheio de gente, do bairro, de fora do Santa Rita. Todos estavam soltando pipa, porque tinha um festival. Depois do que aconteceu com ela, isso até parou. Ninguém mais vem”, comentou.
Desde o sumiço, Izoneide tem recebido ajuda de voluntários e da assistência social. Ela relatou que, sempre que podem, as pessoas colaboram. “De vez em quando, vêm, mas o que eu mais precisava era que a Juliana estivesse comigo. É a única coisa que eu quero: reunir todos os meus filhos”.