A equipe de intervenção da Prefeitura que atua na Santa Casa de Misericórdia atualizou, neste mês, o valor do déficit financeiro da entidade. O único hospital a atender pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade deve R$ 32 milhões.
Embora não esteja relacionado com as contas da municipalidade, o montante corresponde a 10% do Orçamento previsto para o exercício do ano fiscal de 2018 pelo Executivo – de R$ 320 milhões. O rombo soma passivos com fornecedores e funcionários (principalmente débitos trabalhistas) acumulados por décadas.
A reportagem de O Progresso teve acesso a uma prévia do relatório interno preparado pelos profissionais que avaliam as condições financeiras da instituição. O balanço extraoficial foi divulgado pelo secretário municipal do Governo, Luiz Gonzaga Vieira de Camargo. O documento ficou pronto no dia 6.
Em entrevista, o titular da pasta antecipou que a municipalidade está empenhada em recuperar o hospital. Gonzaga afirmou que a equipe de intervenção – em conjunto com profissionais da Prefeitura – anunciará uma série de medidas que contribuirão para o aumento da arrecadação financeira da instituição.
Até setembro de 2015, a então provedoria da Santa Casa estimava o déficit em R$ 25 milhões. O valor constava em documento divulgado pela tesouraria e, também, obtido com exclusividade pela reportagem de O Progresso.
No período de dois anos, o montante da dívida subiu R$ 7 milhões. Em cálculo “por alto”, é possível afirmar que o caixa do hospital fechou – em uma média geral – em R$ 291 mil negativos por mês.
O secretário municipal do Governo explicou que a Prefeitura passou a voltar atenção total para a Santa Casa depois de ter resolvido questões urgentes. A principal era a reconstrução da ponte do Marapé, inaugurada em agosto.
Desde o início do ano, o Executivo recuperou cinco pontes. Além da que atende ao Marapé, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura entregou ligações em quatro bairros rurais. Mais duas pontes, na zona urbana, estão em fase de construção, no Junqueira e no Jardim Paulista.
Em outra frente de ação, a Prefeitura promoveu a implantação de lajotas ecológicas na vila Dr. Laurindo, está colocando o mesmo dispositivo no Jardim Wanderley e recapeou o primeiro trecho da avenida Coronel Firmo Vieira de Camargo.
“Agora que nós equalizamos essa parte da infraestrutura, vamos nos dedicar à recuperação da Santa Casa, que é uma outra grande luta”, afirmou Gonzaga.
De acordo com ele, o objetivo do grupo de trabalho é solucionar o passivo. “É uma dívida que precisa ser paga em longo prazo, porque nem o município e nem a Santa Casa têm condições”, citou.
A primeira tarefa será renegociar os débitos. Como o hospital possui muitas contas pendentes, não tem “nome limpo” para solicitar financiamentos, linhas de crédito ou outro mecanismo que faça a receita crescer.
Uma das questões mais preocupantes, para a administração, diz respeito às dívidas trabalhistas. Gonzaga afirmou que o hospital tem quase R$ 2 milhões pendentes para pagar só a funcionários, ex-funcionários e herdeiros de trabalhadores que faleceram antes de terem os direitos atendidos.
“Essa é a parte que mais nos preocupa, principalmente, porque se trata de pessoas. São funcionários que trabalharam lá, que foram demitidos e não receberam, ou que ainda estão no trabalho, mas precisando do recurso”, argumentou.
Além de cuidar da área previdenciária, o hospital precisa dar atenção aos fornecedores. Gonzaga informou que, com o passar dos anos, a instituição acumulou dívidas com farmácias, laboratórios e outros prestadores de serviços.
Também há acertos que necessitam ser feitos com concessionárias, como a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, para serviços de água e esgoto), a Elektro (energia) e a Vivo (telefonia). No entanto, esses calotes são em “menor volume” e não representam, segundo o secretário, parcela considerável dos R$ 32 milhões.
Para fazer frente ao desafio, Gonzaga adiantou que a Prefeitura está preparando – por meio do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade) – nova iniciativa.
O órgão iniciou, em junho deste ano, o projeto “Adote um Quarto”, uma extensão do “Abrace Tatuí”, idealizado por Alessandra Vieira de Camargo Teles.
Ao lado da presidente do Fusstat, Sônia Maria Ribeiro da Silva, e com apoio dos demais colaboradores (funcionárias do órgão, professores, voluntários e alunos), Alessandra mobilizou empresários e grupos para contribuírem com recursos. O dinheiro será empregado na reforma da ala “Orlando Bolzan”.
A campanha é considerada um sucesso pela administração, dado que a equipe conseguiu levantar R$ 495 mil para a reforma de 33 quartos. Até por isso, o secretário comentou que a Prefeitura precisa realizar um “trabalho à altura” no que diz respeito à recuperação das finanças do único hospital filantrópico da cidade.
“A Santa Casa está recebendo um apoio enorme da sociedade tatuiana”, ressaltou. Gonzaga disse que, mesmo com a crise financeira do país, o Fundo Social conseguiu recurso necessário “para dar dignidade aos pacientes do SUS”.
Na visão do secretário, esse resultado dá à prefeita Maria José Vieira de Camargo uma responsabilidade ainda maior. “Ela chamou e a sociedade compareceu. Se tivessem mais quartos, acredito que teríamos obtido recursos necessários, mas precisamos suspender a ação porque chegamos ao limite”, informou.
Com o valor, o hospital deverá adquirir novas camas, televisores de plasma, aparelhos de ar-condicionado. Os quartos também serão pintados e receberão novos equipamentos. “É o SUS de cara nova. Queremos que as pessoas se sintam bem quando estiveram lá, para serem atendidas”, frisou o secretário.