Tatuí recebeu indicação oficial do Estado de São Paulo para receber músicos sul-coreanos em apresentação na noite de segunda-feira, 25. A recomendação foi do secretário de Estado da Cultura, José Luiz Penna, aos responsáveis pela turnê “Hope Concert – Music in the Dark” (Concerto da Esperança – Música no Escuro), evento inédito no Brasil.
O último concerto da Hanbit Chamber Orchestra no país aconteceu no teatro “Procópio Ferreira”, do Conservatório de Tatuí.
Foi em razão da instituição que a Capital da Música integrou a itinerância, que teve concertos no Theatro São Pedro, dia 21, e no Unibes Cultural, dia 23. Nas duas ocasiões, os músicos sul-coreanos se apresentaram junto ao CoralUSP.
“Tatuí é uma cidade parceira do governo de São Paulo, e, quando nós estávamos olhando os espaços para concertos, conversamos com o secretário da Cultura. Ele nos cedeu os locais na capital e ainda sugeriu o Conservatório de Tatuí”, contou a diretora geral do evento no país, Sandra Mimoto Torres.
Única companhia do mundo formada exclusivamente por músicos com deficiência visual, a Hanbit Chamber Orchestra promoveu workshop em Tatuí.
Os músicos participaram de um bate-papo com alunos do Conservatório, no Setor de Educação Musical, à rua Rotary Club, 403, na vila Dr. Laurindo, no período da tarde. À noite, realizaram o concerto de despedida do país.
Para a diretora, Tatuí representou uma “grande surpresa”. Ela destacou o fato de que o Conservatório possui o curso especial de musicografia em braile. “Isso é, realmente, muito bom. Eu mesma não sabia sobre isso. Então, nós somente dissemos, sim, porque fazia todo o sentido vir para cá”, comentou.
Sandra trabalhou o projeto de intercâmbio internacional juntamente com a produtora cultural sul-coreana Huynah Kim. Ambas acompanharam o grupo de músicos na troca de experiências com os estudantes do Conservatório.
Para a produtora, o workshop possibilitou mais conhecimento a todos. “Eles (os músicos) puderam contar um pouco mais a respeito da experiência deles, o processo de aprendizagem, porque é diferente para pessoas cegas”, observou Sandra.
Os músicos que tocam na Hanbit Chamber Orchestra não têm como acompanhar o concerto por meio de partituras. Conforme a diretora, eles aprendem a ler e a escrever pelo sistema braile. Entretanto, quando tocam, especialmente nos concertos, não contam com essa possibilidade.
“Eles têm de memorizar tudo, e isso é um grande esforço para eles. Esperamos que o exemplo de superação motive mais pessoas. E nós estamos muito felizes de estarmos aqui, de podermos trocar experiências”, declarou.
A turnê dos músicos é resultado de meses de trabalho e dedicação de uma porção de profissionais. Huynah Kim contou que a ideia surgiu quando ela viajava de férias para a Coreia do Sul. Morando no Brasil desde o final de 2014, ela voltou ao país de origem depois de trabalhar no Centro Cultural da Coreia do Sul, mantido pelo Ministério da Cultura da Coreia, em São Paulo.
Ela trabalhou na capital paulista por dois anos. Ao findar do período, retornou à Coreia, onde permaneceu por dois meses. Durante esse tempo, visitou os “dois grandes mercados de promoção da arte coreana”, em Seul.
“Estive lá para dar uma olhada, para encontrar pessoas, ver o que estava acontecendo em termos de artes, para trazer ao Brasil. E fiquei muito interessada na performance dos músicos da Hanbit Chamber Orchestra”, declarou.
Huynah Kim voltou para o Brasil decidida a estabelecer uma parceria oficial no país. “Sou coreana, mas queria encontrar parceiros locais para iniciar ações baseadas no Brasil e não somente nas comunidades coreanas”, descreveu.
Por intermédio de amigos em comum, ela conheceu Sandra, com quem conversou a respeito da performance da orquestra. De modo a divulgar a arte coreana e disseminar o conceito de valorização da pessoa com deficiência, a produtora pensou em um projeto que pudesse mudar o paradigma no país.
“Estava muito interessada nesse tipo de projeto, porque, há dez anos, trabalhei para um jazzista que também é cego. Hoje, ele é o músico número um na Coreia. Aquele período afetou-me muito, por causa do alto impacto social”, contou.
Tocada pela experiência, Huynah Kim dedicou especial empenho para promover o intercâmbio com os músicos cegos. O maior objetivo era divulgar não só a cultura da Coreia do Sul, mas o potencial da pessoa com deficiência.
“Na Coreia, nós ainda pensamos que ajudar as outras pessoas é o mesmo que fazer uma doação. Eu queria encontrar uma maneira, um novo modelo de desenvolver a arte e, por meio dela, mostrar que ela pode ser profissional”.
Para concretizar o projeto, Huynah Kim precisou de apoio de entidades sul-coreanas. A primeira tarefa da produtora foi encontrar um voo disponível para o grupo – composto por 45 pessoas, entre músicos e equipe de apoio. Os músicos precisam de apoio especial não só para transportar as bagagens, como para subir ao palco.
A turnê foi subsidiada, em partes, por um fundo especial pertencente a uma entidade sul-coreana. “É muito dinheiro, tivemos de captar US$ 16 mil, que trabalhamos juntas para verificar como poderíamos ser bem-sucedidas”, contou a produtora.
O trabalho de captação durou quatro meses. “Depois desse período, eles (os membros da fundação) nos ligaram para dizer que tinham nos escolhido”, relatou.
Embora o projeto seja subsidiado, o custo da estadia, deslocamento e outros itens no Brasil ficou por parte dos produtores, como explicou Sandra.
Para auxiliar no custeio, os responsáveis iniciaram uma “vaquinha virtual” para captação de recursos, pelo sistema “crowdfunding”. A equipe pretendia obter o valor por meio da Lei Rouanet, uma vez que o projeto já havia sido aprovado.
“Mas nós não fomos capazes de encontrar um patrocinador aqui. Tentamos muitas companhias, mandamos este belíssimo projeto, enviamos para mais de 50 companhias. Tivemos encontros, mas penso que, em função da situação do país, as companhias não puderam nos ajudar”, afirmou Sandra.
De modo a realizar o projeto, a produção decidiu bancar os custos da turnê “do próprio bolso”. A equipe vem buscando, por meio do site “Catarse”, apoio para o custeio das despesas.
“Basta que a pessoa procure por ‘Hanbit no Brasil’ para encontrar as informações e nos ajudar. Está tudo em português, e a ajuda pode ser em qualquer valor”, informou. “As colaborações serão aceitas até o fim deste mês”, complementou.