Pacientes de Tatuí com consultas agendadas junto a clínicos gerais ou médicos especialistas serão avisados das datas dos compromissos por uma nova equipe. A Secretaria Municipal de Saúde anunciou a implantação, para dentro dos próximos 45 dias, de um “call center”, uma espécie de central telefônica, que terá a função de avisar os pacientes de modo a evitar que eles faltem aos compromissos.
Conforme o secretário municipal da Saúde, enfermeiro Jerônimo Fernando Dias Simão, a medida é alternativa que o Executivo está tentando para estancar uma “sangria”. Em oito meses, somente com as faltas dos pacientes, o município teve prejuízo de R$ 426.533,85.
O cálculo tem como base o valor das consultas que deixaram de ser feitas por ausência das pessoas que marcaram as avaliações, mas não compareceram.
A conta da secretaria leva em consideração todas as faltas registradas na rede municipal, incluindo avaliações marcadas, mas não concluídas nos postos de saúde, nas unidades do ESF (Estratégia Saúde da Família), Cemem (Centro Municipal de Especialidades Médicas) e demais repartições.
Quase a totalidade do prejuízo concentra-se na rede de atenção básica (formada pelos postos e EFS’s) e pelo Cemem. O valor é referente ao período de janeiro a agosto deste ano, conforme balancete divulgado à reportagem de O Progresso.
O documento com 66 páginas possui dados de toda a estrutura e dos serviços realizados sob a responsabilidade da secretaria.
No total, de janeiro a agosto, a secretaria registrou a “perda” de 24.768 consultas. Em oito meses, 14.135 avaliações deixaram de ser realizadas nos postos e nas unidades do ESF pela ausência dos pacientes.
Nesse mesmo período, os dois modelos de atendimento totalizaram 88.611 agendamentos, com a realização de 74.476 consultas, 84% do total de marcações. Ao todo, 16% das avaliações na rede básica deixaram de ser feitas porque os pacientes não compareceram às unidades nas datas marcadas.
O percentual de faltas é ainda maior no Cemem. Chegou a 21% do total de agendamentos. De janeiro a agosto, a secretaria marcou 50.836 consultas com especialistas. Destas, 40.203 foram realizadas e as outras 10.633 não aconteceram.
Em média, Simão explicou que as faltas às consultas oscilam entre 18% e 20%. “É um número muito alto, chega a ser um desperdício de profissional que está ali para a consulta e um prejuízo, porque eu não posso descontar do salário do médico o valor se é o paciente que não vai à consulta”, argumentou.
A Prefeitura paga para os médicos o valor de R$ 17,22 para cada consulta. Somente em agosto, com as faltas, a pasta teve “prejuízo” de quase R$ 100 mil (exatos R$ 99.669,36).
São valores provisionados para os atendimentos, que não podem ser descontados dos profissionais. “Eu poderia investir em equipamentos, medicamentos, em melhorias para a população. E é um valor muito alto”, argumentou Simão.
Como medida alternativa, a secretaria programa a implantação do “call center”. A central de ligações será montada na sede da pasta, à rua José Ortiz de Camargo, 594, no centro. Ela terá como finalidade avisar os usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) que aguardam atendimento médico.
A equipe terá acesso às agendas dos médicos, por especialidades, graças ao sistema informatizado da saúde. Por meio do software, os profissionais poderão conferir as datas das consultas e ligar para os pacientes, confirmando presença.
“Vamos ligar uma semana antes, para perguntar se a pessoa continua precisando da consulta ou se quer reagendá-la”, explicou Simão.
Nos casos em que os pacientes peçam a remarcação, a equipe vai destinar as vagas que estiverem em aberto para outras pessoas. “Conforme formos reagendando, vamos puxando o pessoal que está na fila de espera”, acrescentou.
Para que o sistema funcione, o secretário enfatizou que a municipalidade precisa da colaboração da população. Simão pediu apoio aos pacientes. “Preciso que as pessoas se conscientizem e mantenham os telefones de contato atualizados junto aos postos de saúde e unidades de ESF”, complementou.
De acordo com o secretário, a atualização é fundamental para evitar desencontros entre as equipes e os pacientes, faltas em consultas e aumento do tempo de espera.
Simão explicou que, no momento, apenas a central de vagas faz ligação para os pacientes, comunicando sobre o agendamento das consultas. Entretanto, em alguns casos, a equipe não consegue contato com as pessoas.
“Há situações em que os nossos funcionários ligam em um determinado número, mas descobrem que ele não pertence mais à pessoa. Em outros, só cai em caixa postal. Aí, ficamos em situação complicada, porque não podemos cancelar a consulta, e nem conseguimos avisar a pessoa”, descreveu.
Conforme o secretário, a população precisa se conscientizar de que tem não só direitos com relação à saúde, mas deveres. Entre eles, o de manter os contatos atualizados.
A secretaria estima colocar a central em funcionamento no início de novembro. O prazo foi programado pelo secretário para que a municipalidade consiga reestruturar um espaço na sede da pasta.
O “call center” funcionará com três atendentes no período da manhã e três à tarde, sob supervisão de um enfermeiro, ligado diretamente ao gabinete do secretário.
Para ele, a presença de um enfermeiro é fundamental para que o serviço “rode bem”. Simão decidiu alocar um profissional e não um auxiliar administrativo em função de o primeiro entender o “grau de prioridade”.
Isso porque o agendamento das consultas é feito com base na classificação de risco. “É semelhante ao que acontece no Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, que separa os pacientes vermelhos, amarelos, verdes e azuis”.
O centro de ligações funcionará de segunda a sexta e, conforme o secretário, não deve gerar custos ao município. De acordo com o secretário, a implantação não exigirá investimentos da municipalidade, uma vez que a pasta vai remanejar funcionários.
“Vamos tentar absorver quem tem a expertise com a situação e o custo será, praticamente, o das chamadas”, emendou.
Considerando a redução das faltas, que evitariam pagamentos de consultas não realizadas, o secretário enfatizou que a central vai gerar economia aos cofres públicos. Ele destacou, também, não haver necessidade de a população fazer ligações. “Nós é que vamos entrar em contato com os pacientes”.
Com o “call center” em operação, a secretaria manterá o mesmo sistema de agendamento. A diferença é que os pacientes serão comunicados com antecedência pela equipe do novo serviço sempre que a data das avalições estiver próxima.
As consultas da atenção básica (postos e unidades de Estratégia Saúde da Família) permanecem como estão. Os agendamentos são feitos nos próprios locais de atendimento. O “call center” terá a função exclusiva de ligar antes para confirmar com o paciente se ele poderá comparecer à consulta.
O mesmo acontecerá com o Cemem, cujos agendamentos são feitos pela central de vagas. Segundo o secretário, os postos de saúde continuarão a encaminhar os pedidos de consultas com especialistas via malote.
Os pedidos são feitos pelos clínicos gerais das unidades básicas, em guias de encaminhamento preenchidas com os dados dos pacientes e os telefones de contato.
A central de vagas fará o agendamento e informará as datas para a equipe do “call center”. Depois, retornará as guias já marcadas para o Cemem. Os pacientes precisam retirar os protocolos para que possam ser atendidos pelos especialistas.
No caso do Cemem, quem não retirar a guia a ser apresentada no dia da consulta terá ela cancelada. A secretaria estipulou prazo de 48 horas para que as pessoas passem no centro de especialidades para retirar o documento.
O cancelamento é considerado uma medida educativa pelo secretário. Segundo Simão, em alguns casos, os pacientes contatados pela secretaria comprometem-se a comparecer às unidades, mas não retiram as guias e nem vão às consultas.
Quando isso acontece, o enfermeiro informou que a secretaria não tem como fazer o reagendamento ou chamar outra pessoa para que a “consulta não seja desperdiçada”.