Várias reportagens recentes, publicadas por O Progresso, evidenciaram algo que muito preocupa, embora não necessariamente possa ser definido como “apenas” um problema: os tais “rolezinhos”, basicamente um contingente de jovens a perambular pelas praças centrais, com maior fluxo nos finais de semana.
A princípio, a comitiva juvenil não seria problema, até porque cabe aos pais cuidar da vida de seus filhos, tal como a educação que lhes é dada.
Sem generalizar, contudo, além de simples passeios, há os que encontram passatempo em brigas, depredações de uma coisinha e outra e promoções de certo terror nos demais transeuntes notívagos – não raro estimulados por álcool ou drogas.
Frente à questão, há quem defenda a inibição dos rolezinhos com mais fiscalização e policiamento – lembrando não haver o que proibir, visto o comércio de bebida alcoólica já ser ilegal para menores (claro, as drogas também, pessoal!).
E nem se discute acerca da necessidade de fiscalização e eventuais ações penais. Por outro lado, há quem reconheça a carência de opções para atrair a atenção e preencher o tempo da juventude tatuiana.
Ambas precisam coexistir, mas, sem qualquer pretensão de assentar-se sobre a unanimidade, tampouco de contrapor-se às autoridades civis e militares, é bem possível que a educação, o lazer e as iniciativas na área artística possam render resultados mais significativos e duradouros.
Pode-se, até, considerar que, como em qualquer situação envolvendo o ser humano – mesmo adolescente -, quanto mais prevenção, menos remédios – ou, quanto mais opções de atividades sadias, menos intervenção policial.
Com essa convicção, manifesta-se e atua o juiz Marcelo Nalesso Salmaso, da Vara da Infância e da Juventude, que declarou entender a questão como complexa e que, como tal, carece de reflexão.
Conforme o magistrado, em Tatuí, o comportamento dos jovens começou a se tornar mais evidente há dois anos. De modo a buscar soluções, o Judiciário tem convocado reuniões intersetoriais, com presença dos diversos organismos que têm relação com a infância e a adolescência.
Os primeiros encontros aconteceram em janeiro e março. Além das secretarias municipais, envolveram membros do Conselho Tutelar, do movimento hip-hop e de instituições de ensino.
Para o magistrado, o mais importante é que os responsáveis – e, em paralelo, a população – devem tentar entender o fenômeno. Segundo ele, o primeiro passo foi dado com as pesquisas realizadas pelo setor social do município e pelo DMJ (Departamento Municipal da Juventude).
O resultado da aferição demonstrou que apenas uma parcela dos jovens faz uso de álcool ou drogas. “O grupo que utiliza gira em torno de 10% a 15%, não é a totalidade dos jovens que estão lá (na praça). Muito pelo contrário, é a minoria”, ressaltou.
De acordo com o juiz, a pesquisa permite aos segmentos concluírem que os jovens que frequentam a área central estão somente em busca de diversão.
“Grande parte deles está lá para ser jovem, para sair de casa, para ter um entretenimento, para ver as outras pessoas, ser visto, para paquerar, para se divertir. Enfim, para serem jovens como nós já fomos um dia”, ponderou.
As providências para o enfrentamento do problema, por consequência, somam esforços do próprio Judiciário, da administração municipal, do Conselho Tutelar e das autoridades policiais.
Em paralelo, quando a convicção de se enxergar o jovem como o futuro do país e não como um problema no presente sensibiliza a sociedade em geral e os educadores em particular, aí, novo fôlego e ânimo são notados imediatamente.
Um exemplo belíssimo desta consciência foi dado pela Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Prof. José Celso de Mello”, por meio do projeto “Arte em Portas”.
Embora não tenha a concepção nada a ver com os rolezinhos, o projeto é magnífico no sentido de agregar tantos aspectos positivos ao mesmo tempo – inclusive, o de demonstrar como é possível ocupar o tempo da juventude com o sublime, que é a arte!
A produção das portas não foi dos estudantes, mas muitos participaram ativamente, inclusive, compondo painéis nos espaços da escola, que ficou, verdadeiramente, um primor (reportagem nesta edição).
São extremos: uns jovens se dedicando à cachaça e outros, aos pincéis e às tintas, enquanto a maioria segue no vácuo, sujeita tanto a um lado quanto a outro. Neste pêndulo é que se deve agir, como assim o fez a escola “Celso de Mello”, cabendo-lhe reconhecimento, apoio e gratidão pelo trabalho desenvolvido.
Em especial, além de toda a direção, professores e funcionários, é importante ressaltar o empenho dos educadores (na melhor acepção da palavra): Cleonice Alves dos Reis Silva, Fernanda Maria Xavier de Carvalho e Rildo Miranda, responsáveis pela concepção e produção do projeto, que contou com apoio cultural da Unimed.
De fato, iniciativa muito além de artística, uma demonstração de empenho e sensibilidade que, pelo investimento na autoestima dos jovens, ainda pode abrir a eles inúmeras portas, todas à frente de horizontes promissores. Belíssimo trabalho!