Recentemente, a psicóloga Maria Célia Azevedo de Abreu – que, para ser devidamente respeitada e admirada como profissional, nem precisaria ser esposa do teledramaturgo Sílvio de Abreu e, mais, prima da “tatuianíssima” Célia Holtz – esteve na cidade para o lançamento do livro “Velhice – Uma Nova Paisagem”.
Aliás, breve vislumbre do currículo dela já evidencia a autoridade na área. Maria Celia nasceu em São Paulo, em 1944. Fez o curso secundário no Colégio das Cônegas de Santo Agostinho e formou-se na primeira turma de psicologia da Faculdade São Bento, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), em 1968
Na mesma universidade, concluiu mestrado e doutorado em psicologia da educação, tendo atuado como professora universitária.
Na PUC, esteve envolvida com planos pioneiros, como a criação do Laboratório de Psicologia Experimental e do Sedape (Serviço de Apoio Pedagógico ao Professor Universitário) e a implantação do projeto do Ciclo Básico de Ciências Humanas e Educação.
Psicoterapeuta, atendeu em clínica particular por quase 30 anos. Fundou e coordena, até o momento, o Ideac (Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico), cujo foco principal, desde 1992, é a psicologia do envelhecimento.
O conteúdo do novo livro de Maria Célia, embora versando sobre a terceira idade – velhice, sem uso de eufemismos bobos -, não poderia ser mais atual, contemporâneo, “novo”!
Basicamente, aborda diversos aspectos relacionados à nova realidade vivenciada pelos longevos (como costumava classificar os colegas de maturidade outro tatuiano inesquecível, o professor Josué Fernandes Pires, já na plenitude de sua travessia em terra).
Em paralelo e em oportuna coincidência, O Progresso já trabalhava em idêntica pauta, que figurou a edição especial de aniversário da cidade, neste dia 11 de agosto, sob o título “Capital da Longevidade”.
No especial, as reportagens destacaram as mudanças sociais e econômicas que o aumento da expectativa de vida tem implicado na realidade local, tal como as opções de cuidados para com a saúde, de lazer e abrigo, com ênfase para o Lar São Vicente de Paulo.
Ocorre que essa nova realidade é tão impactante quanto diversificada, chegando a, literalmente, não caber em apenas uma publicação especial. Por conta disto, várias (e belas) histórias estarão figurando reportagens, como a publicada na edição desta quarta-feira, 23.
Particularmente, a reportagem observou as especificidades físicas derivadas da velhice, porém, a partir de orientações e, ainda mais importante, exemplos de pessoas que buscam soluções diante dos desafios do dia a dia.
Dificuldade em sentar ou levantar do sofá, pentear o cabelo ou guardar uma panela, de entrar e sair do carro, lavar a cabeça, perda de equilíbrio, da força e da flexibilidade são alguns destes obstáculos, embora, não necessariamente impedimentos.
Tarefas corriqueiras, como carregar um neto ou ir ao supermercado, podem, sim, ser desafios. Entretanto, a reportagem ressaltou ser justamente nessa fase da vida em que as pessoas têm mais tempo para buscar alternativas.
Esta é uma das várias razões que têm levado idosos do município às atividades físicas, como explicou a professora e personal trainer Luciana Gonçalves. Pelo menos 30% dos alunos dela têm mais de seis décadas de vida.
A mudança no comportamento tem mantido o mercado local aquecido, envolvendo de academias a médicos e outros profissionais. “Muitas pessoas perceberam este aumento da expectativa de vida. E o público da terceira idade é exigente e muito mais inteligente do que os jovens”, ela argumenta.
Em número cada vez mais crescente, os idosos têm buscado alternativas de tratamentos aos métodos tradicionais. Percebendo este movimento, os profissionais de Tatuí têm se adaptado a uma nova realidade em diversos setores.
“Atualmente, alguns médicos, quando percebem que os idosos estão debilitados, já recomendam que eles frequentem academia”, observou Luciana.
Os exercícios ajudam a trabalhar a funcionalidade da terceira idade. Em outras palavras, a manter a capacidade da pessoa idosa de desempenhar determinadas atividades.
Essas atividades também estão sendo procuradas, pelo público mais velho, como o tratamento sequencial para a recuperação de traumas físicos. Este é o caso do professor aposentado Carlos Rodrigues Serrão, de 88 anos.
Ele sofreu um acidente de trânsito em outubro do ano passado, precisou ser hospitalizado, realizar fisioterapia e, atualmente, faz exercícios para fortalecimento da musculatura. Ele vai à academia uma ou duas vezes por semana, acompanhado da esposa, Ivete Cerca Serrão, de 71 anos.
O casal decidiu praticar exercícios físicos para acelerar a recuperação do aposentado. Ivete já frequentava academia, mas parou por conta do acidente do marido. Ela retornou depois de ser incentivada por um dos filhos.
“Só consegui superar esta fase porque havia feito atividade física antes. Do contrário, não teria conseguido suportar, tanto emocional como fisicamente”, contou.
A aposentada acompanha o marido em todas as fases do processo de recuperação, que ainda continua. Ela relata que Serrão precisou ficar internado e realizar fisioterapia pelo período de um mês. Mesmo avesso aos exercícios, o professor de mecânica aceitou ir à academia.
Os exercícios permitiram-lhe a recuperação parcial das capacidades que tinha antes do atropelamento. A única dificuldade, no momento, é com relação à mobilidade do braço, que está sendo trabalhada.
Também adepta aos exercícios, a aposentada Maria Vilma Rodrigues Santos Almeida, de 76 anos, tem uma relação mais longeva com a academia. Ela começou a exercitar-se há dez anos, motivada por um problema físico.
“Quebrei a clavícula, então, meus filhos me orientaram a procurar um profissional, porque eu tinha muitas dores. Isto aqui (os exercícios) me ajuda a fortalecer os músculos e a não sentir mais dores”, relata.
Antes de se exercitar, Maria Vilma conta que tinha dificuldades até em se movimentar. Depois, voltou a realizar atividades que costumava fazer, como a dança. Ela frequenta o Clube Renascer da Terceira Idade duas vezes por semana.
Junto com conhecidos, participa de excursões para cidades vizinhas e ficou tão animada fisicamente que começou, ela mesma, a arrumar a casa. “Antigamente, pagava faxineira. Agora, pago um dançarino para dançar comigo”, contou.
Para a aposentada, a academia representa a retomada da qualidade de vida. Maria Vilma conta que os exercícios permitiram a ela mais disposição e tempo para se dedicar a atividades que geram prazer.
“Acho que eu preciso mais, com a minha idade, de coisas que alegrem o meu coração, que me deem mais saúde, porque a academia é um grande remédio, e a dança, também”, adicionou.
Mãe de dois filhos, avó de cinco netos e bisavó de um menino, Maria Vilma também se mantém ativa em casa. Além de cuidar dos afazeres domésticos, pratica caminhada. Aos finais de semana, dança nos bailes da Terceira Idade.
“Conto piada, dou risada, não levo a vida com tristeza, porque não existe quem não tenha as agruras da vida, mas tem que saber que existe Deus”, ressaltou a aposentada.
Na academia, ela interage mais com jovens; no clube, a roda de amigos é outra. Em ambos os locais, no entanto, Maria Vilma busca a descontração.
“Não posso ir a um lugar e ficar falando só de quem morreu, ou está internado. Temos que visitar os doentes, ir aos velórios. Mas, quando as pessoas saem de suas casas, a finalidade é arejar a cabeça, alegrar o coração”, aconselha.
Além dos exercícios, o público da terceira idade tem buscado mudar o hábito alimentar. “É um trabalho que não fica só na academia”, acrescenta Luciana.
Eles (os idosos) correm em busca do tempo perdido, sabem o que podem comer, a hora que podem comer e quanto podem comer”, destacou.
Alheios aos discursos “corretinhos”, que obrigam o cidadão “do bem” a chamar a velhice de melhor idade, a verdade é que chegar à longevidade é maravilhoso, não porque o corpo fica mais saudável, a memória aumenta ou o desempenho sexual se equipara aos dos filmes a “adultos”, mas, simplesmente, porque isso é vida!
Que todos tenham a sorte de ficarem velhos, porém, com saúde e vigor, para continuarem a desfrutar dos prazeres possíveis. Se isto for pagar para dançar com alguém, que fantástico! Só mesmo a maturidade para ensinar a viver (bem)!