Ex-usuário de drogas por mais de 20 anos, o advogado Hélio Rodrigues, 63, morador da cidade de Santo André, no ABC Paulista, passou por Tatuí na quarta-feira, 12, para divulgar o livro autobiográfico “Memórias de um Ex-Drogado”.
Na obra, o autor conta histórias das duas décadas em que chegou ao “fundo do poço diversas vezes” até a “redenção”, no início dos anos 1990. O livro custa R$ 30 e foi lançado pela editora Raridade.
Rodrigues visitou a Câmara Municipal, o Conservatório, deu entrevistas para a imprensa e reuniu-se com autoridades para viabilizar a realização de palestras gratuitas na rede pública de ensino, igrejas e grupos de ex-dependentes.
“Estou passando pelas cidades da região, pois vejo que as pessoas estão procurando uma solução para o problema das drogas. Tenho essa proposta de fazer palestras gratuitas. Então, vim fazer alguns agendamentos e conhecer o pessoal de Tatuí, para divulgar o meu trabalho, minha experiência”, contou.
Entre as conversas que manteve na cidade, houve uma com o ministro José Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal). As palestras oferecidas por Rodrigues, segundo ele, são um meio de agradecer ao país a saída dele do “mundo das drogas”.
“Influenciado por alguns artistas do rock”, citou, Rodrigues começou a usar drogas – inicialmente, maconha – no início dos anos 1970. A partir dali, buscou “experiências” na cocaína, entorpecente “predileto” da antiga vida de usuário dele.
“Tive essa influência, pois via que os artistas tinham aquela vida feliz, e atribuí isso ao uso de drogas. Cheguei a usar crack quando não tinha cocaína para vender. A minha situação financeira fez com que tivesse cinco overdoses, pois não parava de usar”, relembrou.
Filho de família de classe média, Rodrigues conseguiu manter-se nos estudos e, mesmo usando drogas, formou-se em direito em uma faculdade de Mogi das Cruzes.
O advogado calcula que perdeu mais de R$ 2 milhões e cinco imóveis com drogas. “É um estilo de vida, não é somente a compra de drogas. Cheguei a ter uma companheira que usava cocaína e crack comigo”.
Para Rodrigues, o fundo do poço foi quando se viu “diante da morte”. Em visita à residência de um traficante, foi ameaçado de morte com uma espingarda calibre 12.
“Acho que esse foi o momento mais impactante na minha vida. Ali, a morte estava bem próxima, mas ainda bem que ele não atirou, senão não estaria aqui conversando”, comentou.
Com o susto, resolveu parar de usar drogas, mas as recaídas foram inúmeras e “naturais”. O uso de entorpecentes fez com que o advogado destruísse o relacionamento com a família, principalmente com a mãe. Após a cura, Rodrigues reatou os laços com familiares e casou-se.
“A pessoa tem consciência do vício, mas a vontade de usar é maior ainda. Por isso, muitas pessoas nas ‘cracolândias’ querem parar, mas naquele meio não conseguem. Acho que a força de vontade é importante, mas nem sempre vence o vício. As famílias precisam ajudar e receber suporte de igreja, clínica, grupos”, ressaltou.
O advogado disse ter iniciado tratativas para apresentar a história de vida na Etec (Escola Técnica Estadual) “Sales Gomes”. Ele contou ser importante alertar à juventude sobre os riscos de se usar drogas.
“Nas escolas, vou pela educação, para explicar à criançada nessas idades mais vulneráveis, como a adolescência, sobre as consequências do uso de drogas. Respondo às perguntas e conto a minha história”.
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