A UTI (unidade de terapia intensiva) da Santa Casa de Misericórdia opera com capacidade total. O setor reabriu para internações na manhã de sexta-feira, 2, depois de passar por desinfecção total e ganhar novos equipamentos.
A compra dos aparelhos aconteceu imediatamente após a intervenção decretada pela prefeita Maria José Vieira de Camargo, conforme explicou o coordenador da UTI, o médico Eduardo Lanaro.
A medida foi discutida pelo corpo clínico da unidade com a interventora Ana Aparecida de Melo Sá Azevedo Vieira, na quarta-feira, 31 de maio. Na quinta, houve a aquisição.
Os equipamentos são apenas alguns dos pontos que os médicos intensivistas tiveram atendidos com a intervenção. Lanaro explicou que a situação da UTI se tornara crítica com o passar dos meses. O médico assumiu a coordenação do setor em novembro do ano passado. Na época, fez um diagnóstico.
De acordo com o intensivista, já em novembro, o setor estava precário. Entretanto, por conta do fim do ano e a proximidade do início de 2017, Lanaro disse que a equipe estava confiante de que a situação de trabalho melhoraria.
“Tínhamos novas perspectivas de que as solicitações fossem atendidas, mas, realmente, por problemas financeiros, administrativos, isto não aconteceu e a situação só se agravou. Com a demanda grande do pronto-socorro, tivemos de devolver todo o material que tínhamos emprestado de lá”, relatou o médico.
Devido à situação, o corpo clínico decidiu reduzir a quantidade de leitos. Segundo Lanaro, houve queda da qualidade técnica, pela falta dos equipamentos.
Como a provedoria anterior não conseguiu repô-los, a equipe médica preferiu trabalhar com um número reduzido de pacientes, para evitar riscos. Ainda assim, Lanaro avalia que houve prejuízos no atendimento.
Além dessa questão, os médicos chegaram a reivindicar o pagamento de salários atrasados. A Santa Casa deve para os profissionais salários de janeiro, fevereiro, março, abril e maio. O de dezembro havia sido pago em janeiro, após os intensivistas terem manifestado intenção de greve.
Na época, os médicos reclamaram da falta de diálogo com a ex-provedoria e ausência de perspectivas para uma solução. A equipe chegou a cogitar, por mais de uma vez, parar de receber novos pacientes. A intenção era continuar dando tratamento a quem já tivesse dado entrada no setor.
Mesmo não tendo retorno, os profissionais evitaram a paralisação para não comprometer ainda mais o atendimento. No entanto, mantiveram as solicitações de melhorias na parte técnica e estrutural da UTI.
Pediram, por mais de uma vez, a troca de ventiladores e monitores com oxímetros (aparelhos que medem a quantidade de oxigênio no sangue dos pacientes), manguitos de pressão, e a disponibilidade de profissionais de várias especialidades.
Lanaro afirmou que, em muitos casos, os internos precisam ser atendidos por profissionais, como fonoaudiólogos, fisioterapeutas e até psicólogos. “Também fizemos um pedido a respeito de uma presença mais frequente de nefrologista, visto que nossos pacientes precisavam de hemodiálise”, contou.
Conforme o coordenador, os internados no setor têm precisado, com muita frequência, desse tipo de tratamento. O problema é que o tratamento precisa ser acompanhado pelo nefrologista, que, até então, ia ao hospital uma vez por semana.
O corpo de médicos também requisitou equipamentos que estavam faltando. Entre eles, um responsável pelo monitoramento da pressão arterial invasiva.
“Chegamos a fazer cotação do aparelho e, também, de cateter e de um capnógrafo (aparelho que monitora o dióxido de carbono exalado pelos pacientes durante uma cirurgia)”, relatou.
Este último equipamento é considerado fundamental pela equipe da UTI, uma vez que a Santa Casa realiza diversas cirurgias neurológicas. “Estes pacientes acabam vindo para cá e precisam deste complemento de monitorização, mas nem o básico nós estávamos tendo”, apontou.
Retomada
Os oito leitos do setor começaram a ser ocupados na sexta-feira, representando aumento de 60% na capacidade de atendimento. Até maio, a UTI estava operando com cinco leitos. Três precisaram ser desativados por falta de condições de funcionamento e por questões financeiras.
Na terça-feira, 30 de maio, a diretoria clínica decidiu desocupar todo o espaço devido ao surto de uma bactéria multirresistente. Para evitar proliferação e preservar os pacientes, a equipe submeteu a UTI a uma desinfecção completa. Houve limpeza do teto, parede, mobiliário e equipamentos.
A contaminação ainda não teve causa descoberta pelo hospital, tendo acometido quatro pacientes, sendo dois vindos das alas da Santa Casa e dois encaminhados pelo Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. Entretanto, todos foram submetidos a tratamento e receberam antibióticos para o controle.
Dois dias depois, com a conclusão do trabalho, a unidade voltou a operar, e com os novos equipamentos adquiridos pela Prefeitura. “Foi uma coincidência”, disse o médico. Lanaro afirmou que a equipe enxergou, na intervenção, uma possibilidade efetiva de melhoria para o setor.
“É fantástico, a dignidade voltou a aparecer aqui. E o que não conseguimos desde novembro do ano passado a intervenção nos proporcionou em um dia”, exaltou.
Com relação aos salários, o médico afirmou que a categoria deverá voltar à mesa para discutir o assunto nos próximos dias. Entretanto, antecipou que não há uma data definida. Conforme ele, os intensivistas decidiram esperar para voltar a cobrar da interventora a regularização dos vencimentos.
“Nós já esperamos cinco meses, podemos aguardar um pouco mais. O importante é voltarmos a atender em dia, de modo que a população não sofra mais do que já sofreu nos últimos dias. Depois, acertamos a situação”, emendou.
Para promover a desinfecção, a equipe precisou transferir os dois pacientes que estavam internados no setor para outra ala do hospital. Na sexta, eles voltaram para a unidade e os intensivistas retomaram a internação de novos pacientes.
A UTI recebe pessoas transferidas do pronto-socorro e do centro cirúrgico. O ambulatório é “a maior porta de entrada” das internações, que, em geral, duram entre cinco e sete dias. Nos últimos meses, no entanto, Lanaro disse que a equipe vem diagnosticando agravamento dos pacientes atendidos pelo setor.
Em visita ao setor, a interventora falou com O Progresso. Ana Aparecida afirmou ter aceitado assumir administrar o hospital pelo fato de “ser nascida em Tatuí e de ter verificado com a prefeita a problemática da Santa Casa”.
A interventora acrescentou que, ao ocupar o cargo, assume um compromisso com a população tatuiana. Ela permanecerá na função por 180 dias, prazo prorrogável por mais 180, ou “por quanto tempo for necessário”.
Na terça-feira, 30 de maio, ela esteve no hospital acompanhada da prefeita e de uma comitiva do Executivo. Na ocasião, conversou com funcionários e solicitou as primeiras documentações para conseguir avaliar a situação da entidade.
De antemão, disse que a demanda em ação é muito grande. Ana Aparecida destacou que o primeiro compromisso da prefeita, com relação à UTI, fora cumprido. Ela ressaltou a compra de equipamentos e o aumento do número de leitos. “De agora em diante, vamos para os outros momentos”, emendou.
A solenidade de reabertura da UTI contou com presença do secretário municipal da Saúde, enfermeiro Jerônimo Fernando Dias Simão.
A O Progresso, ele disse que a pasta municipal vai continuar colaborando com a entidade. O apoio seguirá com os convênios a serem mantidos e suporte técnico.