Com uma das melhores pistas para pouso e decolagens em grama, o ACT (Aeroclube de Tatuí) se tornou polo de atração dos adeptos do aeromodelismo, hobby que consiste no voo de aeronaves produzidas em escala.
Apesar de ter aparência de brinquedo, as pequenas aeronaves são “pilotadas” por mãos adultas de Tatuí e da região. Apesar de não ser necessário “brevê” (permissão para pilotar aviões), o hobby demanda experiência e longo aprendizado, que pode durar de meses a anos.
Em Tatuí, estima-se que cerca de 30 a 40 pessoas têm aviões e helicópteros de pequenas proporções para uso recreativo. Um dos praticantes do “hobby” é o comerciante Isaac dos Santos Bueno.
Dono de um bar no Jardim Modena, Bueno tem cinco aeromodelos, todos movidos a eletricidade. Entre eles, um helicóptero, um jato e aviões com hélice. Com menos tempo disponível por conta do trabalho no estabelecimento, o comerciante vendeu a metade da “frota”, que chegou a dez aeronaves.
“Sou apaixonado por brinquedos desde menino, principalmente os de controle remoto. Sempre tive vontade de ter aeromodelos, desde jovem, isso lá na década de 1980. Faz dez anos que comprei o primeiro modelo”, contou.
O comerciante começou a praticar o hobby em uma área com pinheiros, no Jardim Wanderley, na companhia de amigos. Tempos depois, com o aumento da população no bairro, a prática passou a acontecer no ACT, onde uma pista de pouso de 500 metros, pavimentada com grama, é disponível para associados.
“Quando era jovem, não tinha aeromodelos para vender na cidade. Acho que nem hoje tem. Encontrávamos somente em São Paulo ou em Tietê, onde tem vários praticantes. Hoje em dia, é mais fácil comprar com a internet e o número maior de praticantes”, comentou.
O aeromodelismo fomenta um “mercado informal” na cidade e região. É frequente os praticantes trocarem os brinquedos entre eles quando desejam variar. Na semana passada, o comerciante disse ter trocado um helicóptero por um avião.
“Costumo vender para pessoas de outras localidades, pela internet. Tem alguns modelos que eu compro, arrumo e, depois, revendo ou troco com outras pessoas. Gosto de desmontar e arrumar meus brinquedos”, afirmou.
A crise econômica atravessada pelo país reduziu o número de pessoas que brincam com aeronaves de brinquedo. Para Bueno, a diminuição é perceptível para quem frequenta o ACT aos domingos, dia dedicado à “classe elétrica”.
“Os que voam no sábado usam motores a combustão, que são maiores. Percebi que reduziu o número de pilotos em um sábado em que fui ver um modelo diferente”, declarou.
Segundo o comerciante, parte dos praticantes deixou de frequentar a pista do ACT por conta da mensalidade, que custa R$ 70. Mesmo o valor sendo considerado baixo por Bueno, o aperto financeiro pode ter feito com que alguns pilotos colocassem as pequenas aeronaves para voar em chácaras ou descampados.
“Lá, tem infraestrutura para brincar, tem segurança, por isso prefiro praticar lá. Não precisa ter preocupação com o espaço, e a gente se organiza para ninguém atrapalhar”, relatou.
Para quem é iniciante ou deseja aprender a pilotar aeromodelos, Bueno aconselha a ajuda de um praticante experiente. Em quatro finais de semana, é possível aprender a manter o avião planando. Fazer curvas com aeronaves de asa fixa demanda pouco mais tempo, assim como os pousos e decolagens.
“Para aprender, é necessário começar a ter raciocínio de piloto. Em um ano, a pessoa consegue fazer de tudo. Os helicópteros demandam maior tempo, pois eles têm manejo específico, como acelerar em curvas e ter o cuidado com a aceleração, senão eles caem”, explicou.
Mesmo com cinco anos de experiência com aeronaves de asa rotativa, o comerciante afirma não ter aprendido acrobacias, como colocar o helicóptero para voar de ponta cabeça.
“Tem gente que faz coisas absurdas. Eu consigo dar piruetas no ar com o helicóptero, consigo virar o aeromodelo de ponta-cabeça, mas voo invertido eu não consegui ainda”, reconheceu.
De acordo com o praticante, alguns “acidentes aéreos” ocorreram no início da carreira dele no aeromodelismo. Aviões enroscados em árvores e quedas por perda de contato entre o rádio e aeronaves, além de imperícia no pouso, foram as razões para alguns infortúnios.
“Uma vez, meu brinquedo caiu em uma árvore e, como estava tarde, acabei deixando ele lá. No dia seguinte, tinham furtado o aeromodelo. Na última vez que aconteceu isso, fiquei até meia-noite tentando desenroscar o aparelho”, contou.
Outro praticante do aeromodelismo, o comerciante Gerson Vieira de Camargo, conhecido como Nero, pratica o hobby há 12 anos. Há cerca de sete anos, descobriu os drones por meio de um amigo de Itapetininga, que trouxe um modelo dos Estados Unidos.
Aos poucos, Camargo migrou das aeronaves em escala para as variantes mais modernas. Do hobby, partiu para a geração de renda. Ele e um amigo montaram uma empresa especializada em fazer filmagens aéreas com os diminutos veículos aéreos.
“Meu primeiro drone foi vendido por um amigo de Itapetininga. Nunca tinha ouvido falar desse tipo de aeronave. Ele me entregou a caixa e mandou eu me virar na montagem. Demorei dois meses encaixando as peças”, relatou.
Como a condução de um bar e a atividade como “piloto de drone” começaram a demandar muito tempo, Camargo decidiu vender os aeromodelos, mas pretende retornar ao hobby em breve.
“Estou negociando a compra de um aviãozinho para mim. Hoje, tem modelos bem acessíveis disponíveis no mercado. Antigamente, não existiam aeromodelos elétricos. É possível comprar um modelo por R$ 700”, disse.
A paixão de Camargo pelo aeromodelismo começou com um modelo que ele usava como ornamento no próprio bar, o Capitão XV. Em uma ocasião, um amigo do comerciante deu a ideia de colocar motor na “carcaça” e colocar o avião para voar.
“É aquela coisa: a gente compra, quebra, arruma, troca. Fui indo até chegar aos modelos movidos a gasolina, que são produzidos em escala. O primeiro que eu tive foi movido a glow (combustível próprio para aeromodelos)”, relembrou.
Segundo o comerciante, é possível encontrar modelos em escalas maiores com motores movidos a querosene de aviação. A potência e a velocidade alcançada pelos “top de linha” demandam maior perícia do piloto. O alcance das aeronaves depende do rádio utilizado e do combustível. Os voos têm duração média de dez minutos.
“Tem modelos para quem não tem tanto dinheiro e até alguns mais caros, que chegam a R$ 200 mil. Eu já vi um jato grande movido a querosene. É fantástico. É voar sem sair do chão”, ressaltou.