Pode até não ser o caso de falha de caráter – senão somente de traços inerentes ao ser-humano -, mas é de se observar que as ações inapropriadas não se restringem aos políticos envolvidos na operação Lava Jato – muito distante disso.
Na semana passada, outra operação da Polícia Federal, a “Carne Fraca”, muito menos evidenciou as possíveis irregularidades sanitárias no mercado de carnes brasileiro que o apreço por holofotes já indisfarçável, no mínimo, por uma parcela da PF.
Fica na boca o sabor – azedo – de que, muito além dos interesses do país, importa é aparecer na mídia – seja qual for, do “Fantástico” ao forrobodó do egocentrismo santificado pelas redes sociais.
E mais: ainda pode-se sentir um gostinho de ressentimento, temperado pelo discurso de coitadismo, tão em voga graças ao politicamente correto…
Traduzindo a receita: se uma empresa é “mega”, rica, automaticamente, é do “mal” e, portanto, precisa ser extirpada, ainda que, com a extinção, também se feche a conta para milhares e milhares de empregos.
Mas, ok. Para esse pessoal, que mistura tudo e todos os seus desafetos no mesmo caldeirão da bruxa capitalista malvada, desde que a Friboi e a Seara vão para o quinto dos infernos, a história da carochinha terá final feliz.
Não obstante, a realidade pode ser muito amarga. Tatuí é exemplo disso. Centenas de trabalhadores – com absoluta razão – reclamam e sofrem por conta da situação pela qual passa a Rontan.
Sem dúvida, muitos funcionários, sem receber salários e com os direitos trabalhistas em aberto, torcem para que a história dos proprietários da empresa, digamos, não termine com um “felizes para sempre”…
Contudo, torcer contra, quando todos envoltos no mesmo problema, no mesmo desafio, não é coerente, tampouco produtivo.
Muito melhor – para todos – seria que as grandes empresas conseguissem se reerguer em meio à crise e, com isso, tanto honrar seus compromissos quanto – melhor ainda – voltarem a contratar, gerando renda e, finalmente, ajudando a economia a voltar a crescer.
Não é certo julgar (especialmente por antecipação) que todas as corporações, tal a totalidade dos megaempresários – a exemplo dos Batista, que tomam o noticiário no momento – são degenerados corruptos e corruptores, cujas empresas só se desenvolveram às custas de muita safadeza.
Óbvio, por sua vez, há figuras e corporações consolidadas sobre pântanos de lodo. E que fazer com elas, a despeito dos empregos que podem sustentar: submetê-las à lei. Isso e pronto!
Não há – ou não deveria haver – precisão de se fazer escândalo. Mas, não. Dá-lhe nome ostentoso de operação; pose própria para filmagens; óculos escuros de “Matrix” na cara dos agentes (mesmo na do tal japonês, que, depois, soube-se ser outro espertinho…).
Não há como deixar de se ponderar o fato de que, para algumas figuras – não surpreendentemente em maior número as que têm estabilidade trabalhista -, se o Brasil for cortado do cardápio mundial de proteínas, dane-se. Importam os “likes” contabilizados na operação.
Se o espeto da inquisição econômica e criminal já está afiado, entre muitos outros, para os Batista (Eike, Joesley, Wesley etc..), antes, é capital não apenas se fazer justiça (em minúsculo), mas se respeitar a Justiça (em maiúscula), sem prévia condenação.
Outrossim, os oficiais responsáveis pelas investigações, devem delas somente se ocupar, deixando a publicidade a quem de direito – no momento oportuno – e, principalmente, a vaidade de lado.
Também não se pode deixar de avaliar, em meio ao banquete de horrores, a pertinência de postura menos inadequada tanto dos comensais quanto dos geradores e divulgadores das notícias.
Posta à mesa, se a carne está estragada, deve ser devolvida e seu fornecedor, arcar com as responsabilidades. Porém, se há uma falha no processo, ou a identificação de problema em um volume muito pequeno do produto – portanto, algo corrigível -, o que a PF teria feito não seria nada diferente de um garçom que cospe no espeto antes de servir a picanha ao cliente.
A conta dessa atitude pode acabar sendo muito alta ao país. Estivéssemos em um restaurante mais eficiente, tanto na cozinha haveria menos chefs safados quanto essa trupe de garçons já estaria na rua.