Hospital quitou salário de janeiro no dia 16 e parcelou restante em atraso
Os médicos da UTI (unidade de terapia intensiva) da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí suspenderam a proposta de entrar em greve depois de terem os salários de janeiro quitados. Eles ameaçavam paralisar o atendimento a novos pacientes a partir do dia 31, caso não recebessem os vencimentos em atraso.
A direção do hospital pagou, no dia 16 deste mês, os valores correspondentes a janeiro para os 11 profissionais que atuam no setor considerado um dos mais importantes da instituição. Na mesma data, formalizou acordo com os intensivistas.
O consenso foi costurado após reunião técnica entre os médicos e o secretário municipal da Saúde, Jerônimo Fernando Dias Simão. A reunião aconteceu na sede da pasta municipal, quinta-feira, 23, depois de inúmeras tentativas de acerto com a provedoria do único hospital público da cidade.
Na semana passada, intensivistas ouvidos pela reportagem alegavam que buscavam entendimentos com a direção da Santa Casa desde dezembro do ano passado.
Eles disseram que a provedoria não teria repassado parte dos valores de contratualização enviados pela Prefeitura ao hospital para pagar os vencimentos.
A equipe chegou a reunir-se com a direção do hospital para buscar acordo. Entretanto, a provedoria teria dito que não havia possibilidade – no momento – de colocar os pagamentos em dia. Descontentes com a situação, os médicos agendaram reunião com o secretário municipal da Saúde, para pedir apoio.
O encontro resultou na quitação do salário de janeiro. O saldo “em haver” será parcelado em duas e três vezes. O número de prestações deverá ser definido caso a caso, com cada médico.
A Santa Casa buscou o acerto com os profissionais já no dia 17. Na mesma data, informou a respeito do pagamento e realizou os depósitos relativos ao débito. Os médicos da UTI fazem 70 plantões por mês a um custo de R$ 1.300 cada.
No período de 30 dias, a soma do holerite de todos os profissionais da equipe é de R$ 91 mil. A dívida da Santa Casa, nos quatro meses, seria de R$ 364 mil.
Com o pagamento realizado na semana passada, o hospital ficou com débito de R$ 273 mil, que será quitado em parcelas de R$ 91 mil. Isso significa que a instituição terá de aportar, pelos próximos três meses para cumprir com o acordado, R$ 182 mil (o dobro do valor atual) para os intensivistas.
O parcelamento entra em vigor em abril, após o período máximo dado pelos médicos para que a direção regularizasse os pagamentos. A equipe da UTI informou a O Progresso que, pelo fato de a direção da Santa Casa ter se disponibilizado a acertar a situação, os profissionais decidiram suspender a paralisação.
A greve estava programada para o fim do mês e consistiria apenas no não recebimento de novos pacientes internados na unidade de terapia intensiva.
Conforme os médicos, a ideia da paralisação era de chamar a atenção da direção do hospital para a necessidade da equipe, dada a então dificuldade de negociação.
Os profissionais explicaram que continuariam prestando atendimentos aos pacientes que já estivessem sob cuidados. Entretanto, não aceitariam novos pedidos de internação.
Se isso ocorresse, pessoas vítimas de politraumatismo (com fraturas múltiplas) em decorrências de quedas, acidentes automobilísticos e atropelamentos, teriam de aguardar vagas em outras unidades.
A UTI também recebe pessoas com trauma de crânio, atingidos por projéteis de armas. Cuida de casos de pneumonia grave e infecções generalizadas.
Esses tipos de pacientes seriam os afetados pela paralisação. Os médicos do setor explicaram que as pessoas nessas condições precisariam – caso a greve fosse de fato deflagrada – ser transferidas para “qualquer unidade do Estado de São Paulo”.
Como as vagas são obtidas via Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde), não há como prever para qual unidade o paciente poderia ser encaminhado. Neste caso, o remanejamento dependeria da disponibilidade de vaga.
A suspensão do início da greve, no entanto, pode ser temporária. Os médicos não descartam a possibilidade de parar os atendimentos. De acordo com eles, a ideia poderá voltar a ser proposta caso o hospital não “honre” com o compromisso assumido.
Os intensivistas temem que a direção descumpra o acordo do parcelamento, considerando o “histórico”. Um primeiro acordo fechado em dezembro previa que o salário daquele mês seria pago no primeiro mês do ano, o que não teria ocorrido.
Em janeiro, os médicos voltaram a fazer uma “mesa-redonda” com a provedoria para resolver o impasse. Na ocasião, saíram do encontro com a promessa de que teriam os vencimentos do mês pagos em fevereiro, de maneira parcelada, o que não teria ocorrido.
O acordo incluía que o pagamento dos salários em atraso seria em “várias prestações”, sendo a última no mês que vem. Alegando que os acordos não foram honrados, os médicos resolveram pressionar a direção do hospital.