‘Cidade não consome esgoto’, diz diretor

 

Tatuí, distante 130 quilômetros da capital, não está na lista dos chamados “municípios consumidores de esgoto”. É o que ressaltou, a O Progresso, James Martins Pereira, diretor técnico da Fundação Agência, entidade ligada ao CBH-SMT (Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê).

A FABH aprovou, após processo de análise, projeto implantado na semana passada no município (reportagem nesta edição). Trata-se da implantação de cinco estações meteorológicas – em unidades do Ceeteps (Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”) – e de uma central, junto à Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”.

No evento, realizado no dia 16, Pereira destacou que o interior do Estado de São Paulo se tornou “consumidor de esgoto” da capital. Contudo, o diretor técnico ressaltou que Tatuí é exceção por uma questão simples: não capta água do rio Tietê.

Um dos mais famosos cursos d’água do Estado é, também, considerado um dos mais problemáticos e contaminados, conforme Pereira. Desta forma, por onde passa, leva a poluição aos municípios que estão no caminho de seu curso natural.

“Todo mundo que vai a São Paulo e olha o Tietê vê que aquilo é puro esgoto. E é esse esgoto que ‘desce’ para outros municípios. Daí é que existem os projetos financiados, para que os impactos possam ser minimizados”, argumentou.

Entre as várias propostas apresentadas pelas cidades que “acolhem” o rio Tietê, está a de tratamento da chamada “pluma de poluição”, ou “pluma de contaminação”. A pluma é um fenômeno formado a partir da emissão contínua de poluentes no subsolo, tendo uma fonte pontual (indústrias ou esgoto clandestino).

Como tal, tem uma expansão previsível (ou seja, é possível medir a extensão e a gravidade do problema), mas é influenciada pelo fluxo de água subterrânea (lençol freático). No caso do interior, a pluma castiga mais rigorosamente cidades como Cabreúva, que já têm presença de espuma na água.

“Antes, ela chegava até Barra Bonita, mas a mancha está ‘subindo’”, declarou Pereira.

A proposta dos municípios atingidos pela poluição é de “fechar a torneira do esgoto”, segundo afirmou o diretor técnico da FABH. Em outras palavras, viabilizar projetos de tratamento de dejetos antes do despejo em rios e córregos.

Apesar de não figurar na lista de cidades que recebem água poluída, Tatuí já colocou em prática projetos para aumentar o tratamento de esgoto sanitário. As obras em andamento têm foco, principalmente, nos ribeirões e córregos.

Na avaliação do diretor técnico da fundação, a população local não é fortemente afetada (não sente os efeitos da poluição) por conta da condição dos rios Tatuí e Sorocaba. Pereira também citou o Pirajibu como não contaminado, apesar de o rio passar por um processo de despoluição bastante intenso.

A título de exemplo, em 2014, a previsão feita por autoridades ambientais era de interrupção de lançamento de esgoto sem tratamento no Pirajibu neste ano.

O rio recebe efluentes das cidades de Sorocaba, Alumínio e Itu. “Nossa ideia com os projetos é que eles (os rios citados anteriormente) não sejam contaminados”, comentou Pereira.

Na região de Tatuí, o maior problema ambiental não é a contaminação por despejo de dejetos, mas decorrente de exploração.

O diretor técnico informou que o maior impacto na qualidade das águas da região deve-se às extrações de areia e argila, como o previsto no entorno da represa de Itupararanga, considerada, pelo CBH-SMT, como a “caixa d’água do interior”.

Pereira destacou que, por meio do Fehidro (Fundo Estadual dos Recursos Hídricos), os municípios da região têm conquistado recursos para colocar em prática as ações de prevenção às degradações e às contaminações. As propostas incluem avaliação de como ocorrem as contaminações e o potencial poluidor.

“Se for decorrente de uma empresa, ela vai ter que se enquadrar para que haja represamento, um tratamento dos esgotos para um posterior lançamento. Caso contrário, não terá o licenciamento renovado”, exemplificou.

Conforme o diretor técnico, a função do Fehidro é evitar contaminações, seja do solo ou da água, financiando soluções para problemas criados a partir da ocupação das áreas rurais pelos “homens do campo”.

“A vinda deles (dos camponeses) gerou toda essa problemática. O Fehidro entra, justamente, nos projetos que visam evitar a contaminação”, reforçou o representante.

Pereira citou que, com o êxodo do campo, os centros urbanos passaram a concentrar um maior número de pessoas. Sem regularização, as moradias contribuíram para aumentar a poluição do meio ambiente e a degradação das áreas ocupadas.

No caso de São Paulo, com o Tietê, o diretor técnico defendeu que a própria capital deveria resolver o problema da poluição do rio, ao invés de repassá-lo para o interior. “É o nosso direito, mas Tatuí e outras cidades não estão nessa realidade. Entretanto, outras, como Cabreúva, estão”, acrescentou.

De acordo com Pereira, a situação de Cabreúva é tão grave que, caso a unidade da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) daquela cidade resolvesse captar água do Tietê, só conseguiria “pegar esgoto”.