Residente em Tatuí, a artista plástica Raquel Fayad está com novo trabalho em exposição. Trata-se da instalação “Registros/Resíduos do Dia”, aberta no Museu Histórico e Pedagógico “Prudente de Moraes”, em Piracicaba, na tarde de quarta-feira, 18.
O evento de inauguração da instalação aconteceu às 14h, acompanhado de performance musical com a pianista Mariana Rodrigues e a cantora Cibele Sabioni. No repertório, estiveram músicas de Tom Jobim, Heitor Villa-Lobos e Frédéric Chopin.
A instalação tem curadoria do também artista plástico Neil Milanezi. De acordo com ele, o trabalho traz à tona o mito popular de que “a genialidade e a loucura caminham de mãos dadas”.
“Não sabido por todos e nem sempre consciência (ou necessidade) nos próprios autores é a arte recipiente da sanidade do artista. Assim, muitos se veem, de uma forma ou de outra, tocados pelo imperativo do fazer artístico, a necessidade do exercício de uma poética”, iniciou em nota enviada à imprensa.
Milanezi sustentou que as “atribuições do mundo real, a sujeição aos compromissos diários, relativos ou não à obra, subtraem o artista continuamente da realidade paralela”. De modo geral, para os artistas, a realidade é “uma só”.
Segundo o curador, o trabalho da artista representa “uma solução para a indagação”. Ainda como característica, a instalação apresenta uma “economia de meios”, uma vez que transforma em poesia o ato de molhar guardanapos.
Basicamente, a mostra é composta por um mosaico instalado no piso e feito a partir de lenços de papel. Os guardanapos eram utilizados pela artista ao início do expediente, após o consumo diário de uma xícara de café, no período no qual ela atuou como coordenadora do MHPS (Museu Histórico “Paulo Setúbal”).
“Esta coisa habitual de todo dia colocar o guardanapo na xícara, virou um ritual. Toda manhã, tomava o cafezinho no museu para começar o trabalho, uma coisa burocrática, mas aquilo era meu momento de arte dentro da burocracia”, iniciou.
Mais que um hábito, o consumo do café era tido como uma “fase preparatória” para o trabalho diário. “Era ali (no momento do desjejum matinal) no qual estavam os meus primeiros pensamentos, a passagem do poético, artístico, para o trabalho burocrático, racional, pé no chão da gestão e da administração. Era ali um momento de transição, marcando o início do dia”, disse.
O resultado é descrito pelo curador como um momento de maturidade da artista. Para Milanezi, Raquel encontrou uma “solução elegante” e, também por isso, mais difícil de alcançar. Trouxe para a instalação a “essência do Zen, sabedoria e profundidade no improviso e no acaso”, ao propor a ideia de juntar os guardanapos para, com eles, formar uma instalação de cor e desenho únicos.
Conforme o curador, o projeto denota uma troca de extremos e evidencia uma realização de ações complexas a partir de hábitos muito simples. “Não há uma citação direta, mas a aparência dos desenhos (resultado) é Rorschach (Hermann). Justamente ele que quis (colocando em termos livres demais) ‘burocratizar a loucura’”, analisou.
Rorschach desenvolveu uma avaliação popularmente conhecida como “teste do borrão de tinta”. Ele consiste em uma técnica de análise psicológica pictórica (método de autoexpressão) pela qual as pessoas dão respostas sobre com o que se parecem dez pranchas com manchas de tintas simétricas.
Milanezi acrescentou que o arranjo feito por Raquel remete à ideia de documentação e registro, agenda, calendário. O curador compara a obra ao conceito de ouroboros, representado pelo símbolo de uma serpente (ou dragão) que morde a própria cauda.
“O acaso encontra a intenção, o oriente o ocidente, o obscuro encontra a exposição”, descreveu o curador. De acordo com ele, também há a incidência das origens luso-árabes da artista no uso da bebida que “juntou povos”.
Artista plástica ultima preparativos para instalação que segue em visitação pública até o mês de marçoArtista plástica ultima preparativos para instalação que segue em visitação pública até o mês de março