Um grupo de estudantes realizou, na tarde de sábado, 29 de outubro, uma manifestação pelas ruas do centro. Eles protestaram contra a paralisação dos serviços de transporte universitários, comunicada pela Empresa de Ônibus Rosa na noite de sexta-feira, 28.
A empresa informou a decisão aos estudantes por meio de cartazes afixados nos veículos e avisos pelos motoristas. Conforme a companhia, a Prefeitura deve R$ 3.378.875,62 em transporte universitário. O valor é referente ao subsídio de até 60% dado aos usuários.
A empresa possui 48 linhas de ônibus que transportam alunos para centros universitários de cidades da região, como Sorocaba, Piracicaba, Itu, Boituva, Itapetininga e Tietê.
A Empresa Rosa informou que há pagamentos atrasados desde abril do ano passado. A companhia cobra, desde aquele mês, R$ 187.111,89 em subsídios do transporte universitário. Somados, os valores somente de 2015 superam os R$ 850 mil.
De acordo com a empresa, a Prefeitura está inadimplente com os pagamentos dos meses de março, maio, junho, agosto e setembro deste ano. Em outubro, há duas cobranças aguardando quitação desde o dia 4 e que, juntas, somam quase R$ 450 mil.
O estudante Alesson de Almeida está no terceiro ano de faculdade de ciências biológicas. Ele estuda no período noturno, na cidade de Sorocaba, e, se fosse de ônibus de linha, não teria como voltar para Tatuí após as aulas.
“Seria muito mais complicado. Se fosse de ônibus rodoviário normal, o último que parte de Sorocaba para Tatuí sai às 21h30. Não daria tempo de sair da aula, e a distância entre a faculdade e a rodoviária é grande”, explicou.
Almeida paga pouco mais de R$ 130 por 40% do serviço. A Prefeitura subsidia os outros 60%. Se o estudante fosse com o ônibus rodoviário para Sorocaba, desembolsaria R$ 13 de passagem e R$ 3,80 de passe urbano. Em 20 dias de aula, seriam gastos mais de R$ 650 com as conduções.
A paralisação do transporte universitário às vésperas das provas nas universidades é um dos pontos reclamados pelos estudantes. Além dos exames, alguns temem ser prejudicados ao não conseguir entregar trabalhos acadêmicos no prazo.
A falta de tempo para poder se programar e buscar alternativa irritou estudantes como Elizabeth Monteiro, do segundo ano de direito. Ela quer que Prefeitura e empresa se entendam “o mais rápido possível para evitar maiores prejuízos aos universitários”.
“Se perde os dias de aula, não tem como repor. Muitas faculdades não têm essa flexibilidade. Estamos pensando em apresentar uma denúncia ao Ministério Público”, disse.
De acordo com o gerente administrativo da Empresa Rosa, Carlos Eduardo de Medeiros, a companhia decidiu pela paralisação por “falta de caixa para operar”.
“O problema é que não temos verba para trabalhar. Gastamos mais de R$ 10 mil com óleo diesel por dia, e não conseguimos mais abastecer. A Prefeitura não nos paga há meses e não temos como cobrir esses custos”, explicou.
Conforme Medeiros, as outras operações da empresa não geram fluxo de caixa suficiente para cobrir as despesas das 48 linhas universitárias. A falta de pagamento do subsídio fez com que a companhia atrasasse o vale (adiantamento do salário) de parte dos funcionários.
Caso a situação não se resolva, há o risco de não ocorrer o pagamento da primeira parcela do 13º salário, previsto para este mês.
“Chegamos a um ponto em que toda a operação da empresa está em risco. Vamos quatro vezes por semana à Prefeitura para sabermos do pagamento, e eles estão sempre protelando”, declarou.
Além do transporte universitário, a Empresa Rosa é responsável pelo transporte público coletivo e por alugar ambulâncias para a Prefeitura levar pacientes tatuianos a hospitais de outras cidades.
O município também deve à Rosa pagamentos da locação de veículos. O valor da dívida não foi informado pela empresa, porém, segundo o diretor, somadas, ultrapassam os R$ 4 milhões. Caso não haja pagamento, a locação poderá ser suspensa também.
“A situação está piorando a cada dia. Já devolvemos, aos bancos, 40 ônibus por falta de pagamento do financiamento. Se o transporte de universitários continuar parado, vamos desmobilizar e demitir 48 motoristas mais 12 pessoas envolvidas na operação, pois não temos como manter esses funcionários na empresa”, alertou.
De acordo com o gerente, as dificuldades podem fazer com que o pagamento do mês de novembro fique prejudicado. “Estamos constantemente conversando com o sindicato (dos motoristas) para explicar a situação da empresa e pedir a compreensão dos funcionários”.
Divergência de versões
Em nota à imprensa, a Secretaria Municipal de Fazenda, Finanças e Planejamento informou que vem negociando junto à Rosa uma solução para manter o serviço funcionando.
“A Prefeitura aguarda uma solução definitiva para o impasse até o final desta semana. Por enquanto, o transporte segue temporariamente suspenso”, diz a nota.
Segundo a Prefeitura, uma reunião havia sido marcada para a manhã de segunda-feira, 31 de outubro. “Infelizmente, nenhum representante da empresa de ônibus compareceu para discutir a proposta oferecida pelo município”, divulgou o Executivo.
Como resposta, a Rosa emitiu um comunicado nas redes sociais, negando o convite da Prefeitura. “A empresa é a maior interessada em ouvir uma proposta de pagamento da Prefeitura de Tatuí, já que a mesma está em atraso desde o ano de 2015”, declarou a empresa.