Por salários, trabalhadores realizam ocupação de fábrica local da Rontan

 

Um grupo de 60 funcionários da Rontan Eletrometalúrgica ocupou o pátio da empresa na manhã de quinta-feira, 20. De acordo com o Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), as barracas foram montadas após os proprietários da empresa não terem recebido os grevistas em reunião marcada para aquela data.

No mesmo dia da ocupação, o empresário José Carlos Bolzan, um dos proprietários da companhia, solicitou reunião com os manifestantes. Apesar da convocação, marcada para a manhã de sexta-feira, 21, ele não teria comparecido.

“Os funcionários vão passar o final de semana no pátio da empresa. Na manhã de hoje (sexta-feira), ficamos esperando a reunião e ninguém apareceu. Não foram à empresa e nem nos comunicaram o cancelamento”, afirmou o vereador e presidente do Sindmetal, Ronaldo José da Mota.

Foram montadas duas barracas no interior da empresa e quatro do lado de fora. Cada tenda tem nove metros quadrados. Ainda no mesmo dia, integrantes do sindicato realizaram uma força-tarefa para levar colchonetes e garrafões de água. A expectativa é de que, neste sábado, 22, sejam levados fogões e mantimentos para a alimentação dos manifestantes.

“Na quinta-feira, não estavam deixando nós entrarmos na empresa para entregarmos alimentos para os ocupantes do pátio. Queriam que fizessem greve de fome forçada”, acusou Mota.

De acordo com o sindicalista, o principal problema enfrentado pelos funcionários, além da falta de pagamento de salários que perdura por cerca de seis meses, é a “falta de informações”. Nos últimos meses, foram dados “diversos prazos” para a quitação dos débitos, nenhum deles cumpridos.

“Na última vez, informaram, de modo não oficial, que pagariam no dia 25. Cada hora vem uma desculpa e datas novas. Dizem que o dinheiro não veio, pedem voto de confiança”, afirmou.

Há duas semanas, quando os funcionários chegaram a ocupar, por algumas horas, a sede da empresa, José Carlos Bolzan teria pedido alguns dias para quitar a dívida que a companhia tem com os empregados.

Findo o prazo, teria dito, em reunião com funcionários e sindicalistas, que não recebera o aporte do fundo europeu que estava negociando a compra da Rontan. O dono da empresa teria responsabilizado os trâmites burocráticos para a entrada de dinheiro estrangeiro.

“Ele prometeu que, se não pagasse até a sexta-feira (dia 14), iria entregar as chaves da empresa nas mãos dos funcionários. O pessoal deu esse voto de confiança; depois, veio a promessa do pagamento no dia 25”, acrescentou o sindicalista.

De acordo com Mota, o dono da empresa faz uso de “sensacionalismo” para tentar comover os funcionários. “Ele diz que está com doença rara e grave. Até isso ele fala. Diz que todo mundo ali é uma família, que vai dar bônus para o pessoal. Eles começaram a iludir a si próprios, além dos funcionários”, criticou.

Mota afirmou que “a direção da empresa só toma atitude quando os funcionários fazem manifestações e ocupam a empresa”.

“Pessoalmente”, o sindicalista afirmou não acreditar haver compradores para a empresa. “Se houver”, disse Mota, “eles que mandem representantes e negociem com os funcionários”.

Um dos funcionários sem receber pagamento é o analista de projetos Adriano Vieira Pinto. Há dois meses, o empregado da eletrometalúrgica faz “bicos” para poder sustentar a família. Com ele, moram os pais, dois filhos e a esposa, a principal provedora no momento.

“Estou fazendo a parte elétrica de uma fábrica. Tem vezes que trabalho como servente de pedreiro. Fiz bico fazendo cerca, o que aparece estou fazendo”, contou.

Segundo Vieira Pinto, quem está “segurando o rojão” é a esposa. Com o trabalho dela, é possível comprar o essencial, como alimentos e produtos de higiene pessoal. A renda é complementada com os bicos do analista. As contas pagas no mês só são os boletos das concessionárias de água e energia elétrica.

“Meu cartão de crédito está acumulado em mais de R$ 3.000. No dia 13, chegou uma conta que não consegui mais pagar. A primeira veio R$ 1.700; a segunda, R$ 2.300, e essa não dei mais conta de honrar”, disse.

Situação semelhante vive o auxiliar de expedição Eduardo Menk. Há três meses sem pagar a pensão alimentícia da filha de dois anos, que vive com a ex-mulher, ele teme ser preso. “A qualquer momento, eu posso ser preso. Minha cabeça está explodindo por causa disso”, contou.

Boletins de ocorrência

Representantes da Rontan estiveram na Delegacia de Polícia de Tatuí, na manhã de sexta-feira, 21, para registrar boletim de ocorrência.

De acordo com o delegado titular, Emanuel dos Santos Françani, o registro da ocupação dos funcionários foi feito “a fim de apurar eventuais infrações penais contra a organização de trabalho, previstas no Código Penal”.

Apesar de a empresa estar com as operações paralisadas há quase seis meses, o delegado afirmou que a ocupação atrapalha o curso normal de atividades dos escritórios.

“O direito dos funcionários é válido, assim como a ocupação também é. O que vamos fazer é apurar algum tipo de desvio de conduta”, informou o delegado.

Representantes do Sindmetal também estiveram na delegacia, horas antes dos membros da direção da Rontan. Segundo o presidente do sindicato, foi feito boletim para “preservação de direitos”, algo corriqueiro em ocupações sindicais.

Passeata até a “Colina”

A portaria do condomínio Colina das Estrelas pode virar palco de manifestação de funcionários da Rontan. De acordo com o Sindmetal, empregados estão planejando uma passeata, à revelia, que iria da região central da cidade até o residencial, onde mora um dos donos da empresa.

“Os funcionários estão organizando essa passeata. Pode ser que ocorra na segunda ou na terça-feira. O sindicato não está participando da coordenação dessa manifestação”, garantiu Mota.

O ato em frente ao condomínio teria como finalidade “denunciar, à cidade, que os funcionários da Rontan estão sem receber há quase seis meses”, segundo o sindicalista.