Desempregado há cinco meses, o pedreiro Luciano Pina de Almeida, nesta semana, arriscou a própria vida para tentar salvar mãe e filha, residentes em uma casa que pegou fogo por volta das 13h30 de quinta-feira, 20. As moradoras não estavam na propriedade no momento do incêndio.
O pedreiro passava pela rua Adauto Pereira quando recebeu um pedido de socorro. “Eu estava indo ao PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador)”, contou à reportagem.
Almeida sofre de hipertensão (pressão alta), mas não titubeou quando ouviu uma pessoa gritando por ajuda. A vizinha da casa que estava em chamas pediu ao desempregado que entrasse na propriedade para tentar salvar as mulheres.
Silva relatou que se dirigia ao posto para tentar uma vaga de serviço, no momento do incêndio. O homem passava pela mesma calçada da propriedade, mas ainda não tinha visto a fumaça preta que escapava pelo telhado.
O sinal foi visto, primeiro, pela vizinha da residência, Elide Valverde Moreno. A moça avistou a fumaça quando passava pelo corredor que dá acesso ao portão. “Nesse momento, corri e olhei que as janelas da casa ao lado estavam abertas. Achei que as senhoras que moram ali poderiam estar lá”, disse.
Elide é vizinha da casa onde moram as senhoras (mãe e filha) há anos. Ela contou que as duas são acostumadas a ficar na residência e raramente saem da propriedade. Deduzindo que elas poderiam estar no imóvel, ela gritou por socorro.
“Pedi para ele (Almeida) pular para ver se havia pessoas dentro. Pelo que eu sei, mãe e filha são de idade, e há um agravante: uma delas é cadeirante”, contou a vizinha.
O desespero de Elide tornou-se maior por conta da rapidez com que o fogo se alastrou. Ela disse que as chamas começaram a aumentar e a consumir o telhado. “Eu estava saindo para trabalhar, porque havia terminado o horário de almoço, mas nem consegui voltar por conta da apreensão e do perigo”, declarou.
Além das chamas, a moça tinha a preocupação de que a fumaça pudesse dificultar o resgate ou causar problemas para as moradoras. “Fiquei desesperada mais por causa da toxicidade e pelo fato de as mulheres estarem lá”.
Mesmo a janela de um dos quartos estando aberta, Elide disse que ela e o pedreiro não conseguiram visualizar a presença das moradoras. “Elas só ficam dentro de casa. Por Deus que não estavam no momento do incêndio”, declarou.
Para tentar salvar mãe e filha, Almeida subiu no portão da propriedade. Entretanto, não conseguiu pulá-lo. Por sugestão de Elide, ele entrou na casa por meio do muro lateral entre a propriedade da moça e das mulheres. No imóvel, buscou uma porta que estivesse aberta e encontrou a dos fundos.
“Naquela hora, não tinha ninguém. Daí, molhei um pano com água e fui entrando até onde consegui, porque não consegui avançar muito”, relatou.
De acordo com o desempregado, o único cômodo que estava fechado era o quarto em chamas. Pensando que as mulheres pudessem estar lá e desacordadas por conta da fumaça, o homem resolveu abrir a porta do cômodo. “Quando fiz isso, a fumaça escapou e eu não consegui ver mais nada”, relatou.
Com a ajuda de outra pessoa, Almeida conseguiu abrir a porta da frente da propriedade. O pedreiro contou que o rapaz ouviu os gritos da vizinha que continuava a pedir ajuda e resolveu entrar. Depois de conseguirem acesso, os dois deixaram a casa. A moça ligou para o Corpo de Bombeiros e para a Polícia Militar.
Pouco antes da chegada dos bombeiros, Almeida e o rapaz conseguiram molhar alguns móveis. Eles queriam evitar que as chamas se espalhassem pelos demais cômodos. “O fogo no quarto foi pegando em tudo que é lugar, na fiação e forro”, contou.
Mesmo tendo problema de saúde, Almeida disse que resolveu ajudar. “Poderia ser qualquer um, então, o que eu quero para mim, quero para os outros”, declarou.
Após o controle do incêndio, o pedreiro e a vizinha tomaram conhecimento de que as mulheres haviam sido localizadas por um dos filhos. “Ele conseguiu falar com elas e nos contou que estão sãs e salvas”, informou Elide.
Considerado heroico, o ato praticado por Almeida não é recomendado pelos bombeiros. O sargento Sandoval Gomes Nestor afirmou que, em situações como essa, a pessoa deve desligar os disjuntores, uma vez que o fogo pode ter origem em problemas elétricos.
O segundo passo é que haja a liberação dos acessos à propriedade. Em seguida, é preciso acionar o CB e dar a “maior quantidade possível de informações”.
De acordo com o sargento, a equipe de salvamento depende de dados precisos para evitar atrasos no controle de chamas. “Se a pessoa informar uma rua errada quando passa a ocorrência, por exemplo, já muda tudo”, argumentou o oficial.
O motivo é o tamanho dos caminhões usados na contenção do fogo. Como são grandes, os veículos podem ter dificuldades de realizar manobras, atrasando o socorro.
Além disso, Nestor afirmou que as pessoas nunca devem arriscar a vida. “Primeiro, porque elas não têm preparo e treinamento adequados, e, depois, porque não têm material adequado para esse tipo de ação”, disse.
Os bombeiros fazem uso de roupas apropriadas para suportar o calor e equipamentos de proteção respiratória. “Fazer isso, sem ter o que temos, é um perigo”, concluiu.