Yazaki sustenta a manutenção de unidade





Em comunicado à imprensa, na tarde de quarta-feira, 14, a Yazaki negou que pretenda encerrar as atividades da planta local. A unidade de Tatuí – a primeira inaugurada pela multinacional japonesa no país – entrou em operação em 1998 e emprega, atualmente, cerca de 1.200 pessoas.

Pelo mesmo comunicado, contudo, a empresa confirma que perderá, em outubro, uma de suas linhas de produção. A montagem será transferida de Tatuí para Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe.

A mudança faz parte de reestruturação iniciada pela companhia há quatro meses e que envolve a criação de uma comissão de trabalhadores e reuniões quase semanais com o Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região).

As negociações têm, pelo menos, dois objetivos: esclarecer eventuais boatos de que a empresa está fechando e reduzir o custo de operação da unidade local. Este último assunto está sendo discutido junto ao sindicato por depender de flexibilização de direitos trabalhistas.

Quanto ao primeiro, a empresa divulgou que, “em nenhum momento, considerou encerrar as operações”. Pelo contrário, a Yazaki informou ter “fortes planos para expansão no Mercosul, em especial no mercado brasileiro, a fim de se consolidar cada vez mais como líder em seu segmento, posição que já ocupa nos mais de 40 países onde está instalada”.

Como as demais no mercado brasileiro, em especial do ramo automotivo, a empresa admitiu que “tem sofrido os efeitos da crise econômica no país, com significativas quedas nas vendas”.

“Este cenário faz com que seja necessário traçar estratégias de sobrevivência e readequações de produção, movimentos indispensáveis, mas comuns em qualquer empresa”, cita a empresa.

Para a fábrica de Tatuí, a Yazaki tem feito um trabalho de “reorganização produtiva”, considerado fundamental “para a preservação das atividades da empresa”.

A diretoria ressaltou, ainda, que tem se esforçado para assegurar os empregos, mas não nega que eventuais reduções de pessoal podem se mostrar necessárias, “tendo em vista o difícil momento econômico vivenciado pela indústria no país”.

“Estamos focados em assegurar a manutenção do nosso negócio, e todos os nossos esforços estão concentrados nisso. Acreditamos na melhoria do cenário econômico e estamos trabalhando fortemente para superar este mau momento da economia nacional”, encerrou a diretoria da empresa no comunicado.

A nota foi divulgada ao jornal no mesmo dia em que representantes da companhia estiveram reunidos com membros do Sindmetal. O encontro aconteceu na sede da entidade classista e é considerado parte de esforço também do município para manutenção de empregos.

Isso porque, além de diretores do sindicato, o secretário municipal da Indústria e Desenvolvimento Econômico e Social, Marcos Bueno, acompanha os trabalhos.

Na ocasião, os diretores da Yazaki e do sindicato realizaram nova “rodada de negociação”. Junto aos sindicalistas, a empresa voltou a discutir o plano de readequação – que prevê redução do número de trabalhadores tanto diretos como indiretos – e deve avançar para discussão da revisão de direitos trabalhistas.

O objetivo é “amenizar o custo de operacionalização da empresa em Tatuí” e, com isso, manter a unidade em funcionamento. Das plantas em atividade no país, a estabelecida em Tatuí é a que teria o custo mais alto.

As duas principais causas desse desequilíbrio, conforme relatado pela empresa à diretoria do Sindmetal, seriam o piso salarial e o valor do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) praticados no Estado de São Paulo.

Para o sindicato, a empresa diz que o custo do funcionamento em São Paulo é maior que no Paraná, por exemplo. A diferença entre os percentuais de encargos de ICMS dos produtos fabricados pela empresa de um Estado para outro seria de 100%. A alíquota varia para cada unidade da federação.

O valor do piso salarial contribuiria para impactos no funcionamento da unidade em Tatuí. Conforme o sindicato, o salário pago pela unidade local é de R$ 1.600, em média. No Paraná, Estado considerado “menos oneroso” para a companhia, os funcionários da empresa recebem R$ 1.200.

Um terceiro fator apontado pela empresa na conversa com o Sindmetal diz respeito às relações sindicais. A diretoria da Yazaki aponta que, nas demais plantas, as negociações são diferenciadas. Para debater uma possível mudança nessa relação entre obrigações da empresa e empregados, o sindicato criou uma comissão formada por funcionários. Eles são responsáveis por discutir a flexibilização com os demais colegas.

O Sindmetal sinalizou positivamente para uma discussão, desde que “as adequações estejam dentro do permitido pela legislação”. A intenção é manter o emprego dos funcionários, sem que eles tenham os direitos suprimidos.

Entre uma das medidas que podem voltar a ser aplicadas, está o congelamento do piso. A entidade sindical já autorizou essa medida quando o salário dos trabalhadores era de R$ 1.200. A medida depende de aprovação em assembleia, com prazo de validade a ser definido pelos trabalhadores.

O mesmo vale para a transferência de linhas de produção. Conforme o sindicato, a empresa já mudou sua base de fabricação anteriormente – de Tatuí para outros Estados – por conta de uma “competitividade interna”. A alteração, nesse caso, faz parte de um sistema de compensação de custo entre as unidades.

A entidade classista reforçou que medidas similares são adotadas por outras multinacionais, como a Ford. Com a diferença de que a montadora só conta com campo de provas no Brasil em Tatuí. Sendo assim, a companhia consegue trazer, para o município testes que seriam feitos fora do país, barateando o custo.

No caso da Yazaki, além de tributos e salários, a unidade local teria mais despesas que as demais. Os custos adicionais contemplam transporte para os trabalhadores e valor maior que nas demais unidades da PLR (participação nos lucros e resultados).

Se, por um lado, esses direitos aumentaram a renda do funcionário, por outro, acabaram por aumentar o custo para a empresa, causando a redução de postos. Assim argumentam os diretores da Yazaki ao sindicato.

Diante da chance de se manterem nos postos ou terem reduções em conquistas, a diretoria do Sindmetal informou que os trabalhadores estão tendendo para a segunda possibilidade.

Conforme a entidade classista, a comissão de funcionários já levou para a mesa de negociações propostas como aumento do valor do almoço e a cobrança do transporte que, atualmente, é gratuito.

Da parte do sindicato, a proposta é a flexibilização da convenção coletiva, que diz respeito ao aumento salarial. A entidade informou, por outro lado, não existir possibilidade de mudanças nas chamadas cláusulas sociais.

São ações que não geram desembolso imediato por parte dos empregadores, como seguro de vida, abono, condições de segurança e higiene do trabalho, entre outros.

A própria transferência de linha de produção – que fabrica chicotes para a Jeep – deve ser tema de discussão entre o sindicato e a empresa. O Sindmetal quer manter pelo máximo de tempo possível a fabricação na planta de Tatuí.

Entretanto, a entidade citou que a empresa já se decidiu pela transferência. Com ela, 120 funcionários devem ser demitidos. As dispensas acontecerão de maneira gradativa e vêm se mantendo na empresa. Em agosto, a Yazaki demitiu 26 funcionários. Neste mês, até o dia 14, outros 23 trabalhadores foram desligados.

De acordo com o apurado pela diretoria do sindicato, 60% dos empregados que atuavam na linha a ser transferida pediram o desligamento. Eles fizeram uso da dispensa voluntária, que possibilita o pagamento de multa rescisória e a liberação de pagamentos como o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

Apesar de estarem ocorrendo desde janeiro, as demissões são consideradas “situação corriqueira”, pelo sindicato. A diretoria da entidade classista informou que os desligamentos ocorrem pelos mais variados motivos, incluindo queda na produtividade, abandono de emprego, entre outros.

Contudo, a caída na produção, decorrente da recessão do país, contribuiu para a acentuação das demissões. O mesmo ocorreu em 2009, quando a empresa dispensou 400 trabalhadores.

Na ocasião, o Sindmetal adotou, em consenso com a empresa e funcionários, a redução da jornada de trabalho com redução dos salários. A medida vigorou pelo prazo de três meses.

Conforme divulgado pelo sindicato, a situação da unidade de Tatuí está relacionada única e exclusivamente com a queda nas vendas por parte das montadoras. Nesse panorama, as montadoras reduzem o valor pelas autopeças.

De modo a compensar o preço, empresas como a Yazaki tendem a mudar a linha de produção para unidades que apresentem menor custo. Daí, a diretoria da planta local querer rever, mesmo que momentaneamente, direitos trabalhistas.

Em outra frente, o sindicato pretende estabelecer compromisso de que novos projetos possam vir para o município quando da melhora do quadro produtivo. As reuniões para esse entendimento são semanais.