Um motor de tanquinho, um suporte para fogão de duas bocas, algumas chapas de alumínio e duas escovas de cabelo. Da união inusitada de peças reaproveitadas de outros equipamentos, surgiu um aparelho capaz de dar agilidade à tarefa de tirar o “cabelo” das espigas de milho-verde.
O inventor da máquina, Valdir Leite de Camargo, é voluntário do Lar São Vicente de Paulo há cinco anos. A colaboração no bazar do asilo é dada na arrumação do espaço onde é realizada a venda de mercadorias usadas e, também, no conserto de eletrônicos doados, que podem ser vendidos no brechó.
A ideia de fazer uma máquina capaz de tirar o cabelo do milho-verde surgiu na Festa da Caridade. A “árdua” tarefa de descascar e tirar o estigma (nome técnico do “cabelo”) chamou a atenção de Camargo. A festividade consome dezenas de sacos do cereal, utilizado em receitas de doces e salgados.
“Na véspera da festa do asilo, eu vi as irmãs sofrendo para retirar o cabelo do milho. Elas utilizavam uma máquina que vibrava muito e precisavam segurar o sabugo com uma mão e o aparelho com a outra. Se não segurasse o equipamento, ele poderia até cair no chão”, explicou.
As máquinas antigas, que ajudavam na retirada do estigma do milho-verde, eram emprestadas. Agora, com o equipamento feito por Camargo, é possível duas pessoas trabalharem no mesmo aparelho.
“Quando eu as vi sofrendo, observei e criei a máquina na minha cabeça. Eu disse para mim mesmo que faria um equipamento novo para elas”, contou.
Com o novo aparelho, o rendimento do trabalho será maior, segundo o inventor. Em poucos segundos, é possível retirar todo o cabelo do milho, enquanto, no maquinário antigo, era um pouco mais demorado.
A máquina também colabora com o conforto dos voluntários. O equipamento tem cerca de um metro de altura, o que possibilita ser manuseado tanto em pé quanto sentado.
O aposentado fez duas máquinas iguais. Uma foi doada ao Lar São Vicente de Paulo e a outra será entregue à Paróquia Nossa Senhora das Graças, igreja que Camargo frequenta.
“Faço parte do grupo de homens, e a gente tem a tarefa de lidar com o milho. Nós vamos usar a máquina nova na festa que vamos realizar em novembro. A festividade consome dezenas de sacos de milho-verde, e vai ajudar nisso”, afirmou.
O equipamento foi criado por Camargo a partir de observações a máquinas já existentes. A montagem do aparelho foi feita pelo próprio aposentado, que contou com a ajuda de um amigo torneiro para fazer peças especialmente criadas.
“Fechei o gabinete em alumínio, para não enferrujar; coloquei arrebites; coloquei rolamentos nos eixos. O motor é totalmente separado da mesa de processamento, e a correia é fechada, para evitar que crianças ou pessoas desatentas coloquem a mão e se machuquem”, explicou.
Os únicos componentes novos, usados na máquina, são as escovas de cabelo. As escolhidas pelo aposentado são de formato cilíndrico e cerdas de plástico. “As escovas são seguras. Se colocar as mãos nelas enquanto está em funcionamento, a pessoa não se machuca”.
A máquina de descabelar o milho tem a vantagem de não machucar os grãos durante a operação de retirada dos estigmas. O custo dos dois equipamentos feitos por Camargo não foi calculado.
“Não somei quanto ficaria, mas não tive grandes despesas. Comprei várias coisas no ferro-velho. Paguei R$ 10 pelo motor do tanquinho. Por incrível que pareça, a coisa mais cara foi a escova”.
Antes do “descabelador de milho”, Camargo montou uma máquina que serve para cortar as espigas. O aparelho retira as duas extremidades do sabugo e foi criado com peças recicladas.
“No jeito antigo, as pessoas corriam o risco de cortarem as mãos com a faca, na hora de cortar as pontas do milho. Agora, a máquina dá uma segurança. A mão da pessoa fica longe da guilhotina, e ainda tem amortecedor para evitar trancos nas mãos”, explicou.
A criação de equipamentos está virando um “hobby” para o voluntário. A capacidade criativa de Camargo rendeu a ele o apelido de “Professor Bugiganga”.
“Eu me sinto feliz porque estou gastando meu tempo com coisa boa, criando coisas que vão ajudar as pessoas. Às vezes, a minha esposa fica brava comigo, pois eu não paro, sempre estou inventando máquinas novas”, contou.
O próximo projeto de Camargo é uma máquina capaz de ralar o milho-verde. A ideia do voluntário é fazer um equipamento em que, por um lado, entre a espiga inteira e, do outro lado, seja expelido somente o sabugo. O caldo do milho sairia pronto para fazer quitutes, como curau e pamonha.
“Ainda estou formatando as peças. Quero deixar tudo certinho. A máquina vai ralar o milho e deixar como resultado o sabugo e a massa para usar na receita. Existe um equipamento industrial para isso, mas custa muito caro”, explicou.
Uma das dificuldades enfrentadas por Camargo é a confecção do equipamento de forma que ele seja limpo facilmente pelos operadores, sem a necessidade de ser desmontado completamente.
“A raladora está com uma parte pronta e as peças compradas. Vou dar um tempo na montagem para descansar e pensar como vou solucionar a questão da limpeza. Quero fazer algo que seja fácil e que todo mundo possa fazer no asilo”, afirmou.