Busca por vaga de trabalho cresce 150%





Pelo menos duas vezes por semana, Silvana Teles tem compromisso fixo. Ela vai até a rua Adauto Pereira, 352, na vila Minghini, para verificar se encontra “algo novo”. As idas ao endereço já duram seis meses. “Estou sempre aqui”, contou.

Com menos frequência, mas há bem mais tempo, Ricardo Luiz da Silva Machado também aparece no mesmo local. “Estou buscando qualquer coisa”, revelou.

Desempregados, ele e Silvana engrossam estatística que reflete a recessão brasileira e está enchendo as salas de atendimento da unidade do PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador). O órgão é mantido pela Prefeitura.

Desde o início do ano, o posto tem sido “mais visitado” pelos trabalhadores. O movimento cresceu 150%, catapultado, principalmente, por pessoas que estão em busca de novas vagas de trabalho. Em sua maioria, desempregados.

“Aumentou muito, mas, ainda assim, algumas pessoas vêm direcionando o emprego. Elas têm uma ideia do que querem fazer e onde querem trabalhar”, contou Fernanda Aparecida Sancinetti, diretora do Departamento Municipal da Indústria e Desenvolvimento Econômico e Social.

Fernanda coordena o PAT, órgão responsável pela captação de vagas e pelo direcionamento das pessoas em busca de emprego. “Temos inúmeras atribuições e, entre elas, a de obter e divulgar trabalhos”, descreveu.

Quem vai ao posto procurando entrar no mercado, trocar de emprego ou mesmo tentando uma recolocação, precisa, em primeiro lugar, cadastrar o currículo. Os dados dos trabalhadores ficam armazenados por período que varia de seis a oito meses.

Passado esse tempo, tanto os profissionais do posto podem pedir para o usuário atualizar as informações como para o próprio trabalhador ter essa iniciativa. “A dica é que a pessoa venha, a cada seis meses, para incluir informações novas”, recomendou a diretora do departamento e coordenadora do PAT.

Fernanda explicou que os usuários não precisam, necessariamente, ir até a unidade. Entretanto, mencionou que, com as atualizações, as chances de encaminhamento para entrevista, participação em processo de seleção e obtenção de vaga aumentam.

O “conselho” vale tanto para quem está buscando vaga como para quem já está empregado e pode obter uma oferta melhor.

Para a coordenadora, outra vantagem a quem visita frequentemente o PAT é o acesso a maior número de vagas. “É legal vir, fazer o cadastro ou atualizá-lo e dar uma olhada nas vagas, porque elas surgem de um dia para outro”, disse.

Cumprindo a recomendação, Silvana visita constantemente a unidade desde o início do ano. A ajudante de produção parou de trabalhar quando engravidou.

Ela tem experiência em indústrias do gênero alimentício. Apesar disso, informou não ter conseguido voltar ao mercado de trabalho depois de ter dado à luz.

Silvana está sem perspectiva desde janeiro, quando começou a buscar emprego. “Agora, estou fazendo bico”, contou. Para conseguir pagar as contas e o aluguel da casa onde vive com os filhos, ela faz trabalhos temporários.

A maioria deles conseguida pelas indicações que encontrou no PAT. “Estou sempre vindo aqui, para ver se tem alguma coisa a mais, mas gostaria de um emprego fixo, que pudesse me dar mais segurança”, argumentou.

Em geral, os trabalhos que a tatuiana vem realizando têm “prazo de validade”: duram entre 15 dias a um mês. Buscando mais estabilidade, Silvana está em busca de qualquer vaga. “Não estou escolhendo, vou tentar desde ajudante de farmácia a ajudante de limpeza. Tenho que trabalhar”.

A dificuldade da trabalhadora encontra explicação no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O estudo do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) aponta saldo negativo de menos 270 postos entre janeiro e junho deste ano em Tatuí.

Com mais pessoas sem trabalho, Fernanda explicou que as vagas passam a ser mais competitivas. Silvana, por exemplo, chegou a concorrer com mais quatro mulheres por uma oportunidade para a qual não tinha experiência.

Ela disputou – e venceu – uma seleção para empregada doméstica. Contudo, o trabalho durou um dia, devido a um requisito que ela não pôde preencher. “A patroa queria uma pessoa que morasse mais próxima do serviço”, disse.

Juntando recessão com pouca disponibilidade de vagas, as ocupações são preenchidas quase que em prazo de 48 horas. “Em dois dias, nossa equipe consegue entregar a carta de encaminhamento para entrevista e, daí, a vaga sai do mural. E outras entram. Então, a rotatividade é muito grande”, explicou Fernanda.

Os serviços oferecidos pelo PAT também incluem entrada no pedido de seguro-desemprego. Trabalhadores podem optar por realizar o processo na unidade administrada pelo Executivo ou ir até o posto que funciona anexo ao Poupatempo.

De maio para este mês, a procura por esse serviço tem sido menos frequente. “As pessoas estão vindo mais buscar emprego que dar entrada em seguro”, relatou a diretora municipal da Indústria. Elas fizeram a média de atendimento mensal da unidade subir de 20, diariamente, para 50, em crescimento de 150%.

O número varia, de um dia para outro, e inclui retornos de pessoas que esquecem documentação. Para realizar o cadastro do currículo e inserir as informações dos trabalhadores no sistema da unidade, o posto recomenda que os usuários levem, além do RG (Registro Geral) e CPF (Cadastro de Pessoa Física), a CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social). Esta última, fundamental para que a equipe possa ter acesso comprobatório a experiências.

“A carteira tem que ser trazida sempre, porque nós precisamos ver em quais locais a pessoa já trabalhou, qual experiência tem. O currículo é importante, mas a carteira é fundamental para o registro no cadastro”, frisou Fernanda.

Mesmo em meio à crise, a coordenadora do PAT mencionou que parte dos trabalhadores ainda prefere escolher a vaga. “Sempre tem aquela pessoa que tem uma ideia de onde quer o emprego e o que mais gosta de fazer”, comentou.

Em não sendo possível atender ao desejo, a equipe do posto orienta o trabalhador a aceitar uma vaga que possa se encaixar no perfil dela, ainda que não seja a idealizada. “Nós conversamos com os candidatos, e anotamos o que eles querem. Quando aparece uma oportunidade, nós avisamos”, relatou.

A tática não tem surtido efeito desejado para Ricardo Luiz da Silva Machado. O pedreiro está há dois anos sem carteira assinada. Nesse período, vem trabalhando como mototáxi. “O problema é que não está dando para sobreviver. Está muito complicado”, declarou.

Machado também engrossa a estatística retratada pelo Caged. Isso porque, no município, a área da construção civil é uma “das maiores responsáveis” por puxar para baixo o saldo de empregos (diferença entre as admissões e demissões).

Nos seis primeiros meses do ano, a construção civil contratou 254 pessoas. Em contrapartida, 453 perderam os empregos. “Cheguei a ter trabalho o ano todo, mas, agora, não consigo”, disse Machado.

Assim como Silvana, o pedreiro que faz corridas para sobreviver busca emprego com renda fixa. Por conta da experiência, quer uma vaga de servente, ajudante. Enquanto não encontra, visita o PAT no intervalo de 30 dias.

Por outro lado, o tempo de preenchimento das vagas tem sido mais curto que isso. Embora o prazo entre a divulgação da oportunidade e a contratação do trabalhador varie, a média de encaminhamento tem sido bem curta.

“Depende muito do segmento e da exigência que as empresas fazem. Já aconteceu de demorar uns 15 dias, mas, também, de a contratação sair em dois”.

O encurtamento no prazo deve-se a outro fator. No PAT de Tatuí, as contratações têm aumentado no comércio, o qual, em geral, não precisa de várias etapas para a efetivação do trabalhador. Em empresas de médio e grande porte, o candidato precisa passar por diversos estágios até ser contratado.

“Nesse mês, o comércio tem aberto mais oportunidades que as indústrias. Isso nos mostra que as lojas estão repondo alguns funcionários que foram demitidos. Já as indústrias deram uma parada, devido à situação do país”, concluiu Fernanda.