Amabeli Amâncio Apolinário tem dez anos; Danilson da Silva Martins, 12. Ela vive na vila São Cristóvão; ele, no Jardim Gonzaga. Desde o dia 1º de fevereiro, os dois frequentam, no mesmo horário – período da tarde –, a unidade do Cosc (Centro de Orientação e Serviço da Comunidade), na rua 13 de Maio, 160.
É lá que a menina e o menino participam, neste mês, de atividades especiais. São oficinas diferenciadas do restante do ano letivo.
As razões da “nova grade curricular” são duas: por meio de atividades lúdicas, o Cosc quer manter o público participativo no período de férias escolares; e também está usando o resultado das práticas em julho como ensaio para um projeto diferente.
A partir do ano que vem, o centro quer implantar a “Escola do Esporte”, inicialmente, para o desenvolvimento físico, intelectual e mental dos assistidos. Posteriormente, o projeto pode resultar na revelação de novos talentos.
O futuro programa é uma sugestão feita pelo ex-secretário municipal do Esporte, Lazer e Juventude, Miguel Lopes Cardoso Júnior, ao presidente da entidade, Juvenal Marques Rodrigues. “Estamos começando um teste, vamos dizer assim”, contou ele, que participou, no dia 11, de uma clínica esportiva.
A data marcou o início da oficina de basquete, uma parceria firmada entre o Cosc, a Prefeitura e Filipe Ariel de Almeida Correia, técnico do Basquete Tatuí. O dia indicou, também, uma nova fase no ciclo de existência da entidade tatuiana.
Em 2016, o Cosc mudou a estratégia de atendimento. Em função da crise financeira do país e a partir de mudanças socioeconômicas do município, a entidade decidiu concentrar todas as atenções na região norte de Tatuí.
“Identificamos que as crianças que necessitavam de mais apoio estão nessa parte da cidade”, iniciou Rodrigues. Desde 2003, a entidade priorizou atendimentos a crianças da região do Jardim Santa Rita de Cássia, considerada, na época, a que registrava maior número de crianças em vulnerabilidade social.
Com a chegada de outras organizações, instituições e investimentos do poder público, a situação dos moradores daquela região melhorou. O que permitiu às famílias, conforme Rodrigues, “caminharem com as próprias pernas”.
O mesmo não ocorreu com a população da região norte. “Nós identificamos, com o passar do tempo, que as crianças daqui eram mais necessitadas”.
Foi por essa razão que a entidade investiu na construção de novo prédio e que representou a unificação dos atendimentos. O complexo educacional e que pretende se tornar também esportivo recebe meninos e meninas que vivem na vila Esperança, Jardim Gonzaga, vila Brasil, Jardim Perdizes e Europa.
Na avaliação do Cosc, em geral, as crianças dessa região apresentam “uma desestrutura familiar em maior número” que as demais do município. A carência vai desde problemas com pais à falta de materiais e incentivo educacional.
Levando em consideração o custo operacional para se manter duas unidades e as prioridades, Rodrigues explanou que o Cosc resolveu concentrar suas atenções em um único imóvel.
Em 2015, iniciou a fase de expansão da unidade atual. A entidade construiu novas salas (administrativas e para ensino de computação, judô, dança, entre outras) a partir de julho do ano passado.
Para tanto, usou o dinheiro obtido com a venda de imóvel localizado na rua Santa Cruz, 51, no centro. O prédio abrigou o Cartório Eleitoral da comarca – atualmente, em funcionamento na rua Juvenal de Campos, 327, também no centro.
A construção da nova sede terminou em dezembro de 2015, com inauguração em janeiro deste ano. A nova quadra com arquibancada – erguida após o início da ocupação – foi inaugurada neste mês, com a oficina de basquete.
No espaço, duas vezes maior que o imóvel no qual o centro funcionava no Santa Rita, as crianças participam do projeto “Caminhar”.
Nele, desenvolvem atividades lúdicas, como a de dança em movimento, projeto viabilizado por meio da Lei Rouanet. Ele atende 40 crianças, que recebem instruções de dois profissionais voluntários da Academia de Dança Sil Verzinhassi.
O projeto acontece até setembro, e, em paralelo, o centro realiza ação para diversificação da prática esportiva. “Existe um plano de, para o ano que vem, nós conseguirmos captar recursos para criarmos a Escola de Esporte”, adiantou Rodrigues.
A proposta é mostrar às crianças – em especial, para os meninos – que a prática esportiva não se limita ao futebol. Conforme o presidente do Cosc, muitos frequentadores da instituição têm conhecimento e prática somente no esporte mais popular do país – mesmo assim, raso. “Eles desconhecem, por exemplo, o basquetebol, o voleibol, o handebol e o tênis”, disse.
Atualmente, o Cosc atende a 110 meninos e meninas, entre crianças e adolescentes. Eles estão divididos em duas turmas, que frequentam a instituição em dois períodos (manhã e tarde), sempre no contraturno escolar.
O público é separado, também, em duas fases. A um é composta por alunos com idades entre 9 e 13 anos; a dois, por adolescentes a partir dos 14 e até os 16. Os mais velhos são preparados para o mercado de trabalho, por encaminhamento.
Para participar das atividades, os meninos e meninas recebem transporte gratuito (cedido pela Prefeitura) e alimentação. Tanto no período da manhã como no da tarde, são recepcionados com achocolatado e lanche (um pão com manteiga ou presunto). Quem mora próximo à unidade vai a pé.
A seleção das crianças é feita a partir da condição socioeconômica. O centro prioriza atender quem está na condição de vulnerabilidade social – em outras palavras, sob risco de envolvimento com drogas, crimes ou à violência.
Para continuar nela, os alunos precisam frequentar regularmente a instituição e as unidades de ensino. A presença em sala de aula e a “desenvoltura” são analisadas por profissionais como a coordenadora Eliana Maria de Aquino.
Além de visitar as escolas para acompanhar frequência e notas dos estudantes, ela conversa com os pais deles. Eliana contou que o Cosc faz reuniões mensais com os responsáveis. Também envia assistentes sociais para visitá-los.
“Se nós detectamos um problema mais grave, vamos ver como podemos ajudá-los. Temos esse intercambio entre nós (pais e entidade) muito bom”, avaliou.
Há dois anos no Cosc, Eliana considera o trabalho especial extraordinário. Muito por conta dos depoimentos que obtém dos frequentadores com quem convive.
Amabile e Danilson, por exemplo, disseram que preferem ir à instituição que ficar em casa ou na rua. Antes de ir ao centro, a menina passava o dia em frente à televisão. Já o menino não saía da rua. “Além de termos o que fazer, aqui, nós temos amigos”, disseram.
Talvez por essa espontaneidade, a instituição registre fila de espera. Atualmente, 40 crianças e adolescentes aguardam vaga para começar as atividades.
No período de férias escolares, a procura tende a aumentar. Para manter o interesse do público, o centro prioriza ações que as crianças já desenvolveriam. Entre elas, a escolinha de basquete, a oficina de pipa e de festas.
Nesta segunda, os estudantes recebem instruções de como confeccionar o brinquedo. Também obtêm noções de riscos do uso de cerol (material cortante feito a partir de mistura de cola e vidro moído) e de soltura inapropriada.
A oficina de festas prioriza adereços e itens típicos de julho. Nela, os alunos confeccionam bandeiras e objetos decorativos. O projeto termina com uma festa, na qual há pescaria e entrega de brindes.
Toda a programação é desenvolvida pela equipe pedagógica, com participação dos estudantes. Elaine explicou que os profissionais conversam com as crianças e adolescentes para obterem deles o que mais gostariam de fazer.
Pensando nisso – e num provável celeiro de talentos -, o Cosc viabilizou a escolinha de basquetebol. A iniciativa está a cargo do técnico da equipe de base que representa Tatuí nas regiões. A atividade começou com uma demonstração, mas visa atrair jovens, de forma lúdica, para a modalidade esportiva.
“A ideia é que seja desenvolvido um trabalho de treinamento. Com a ajuda da Prefeitura e do presidente do Cosc, esperamos desenvolver os alunos que tiverem maior interesse em ingressar em equipe de rendimento”, disse Filipe.
Para vingar, o projeto depende de apoio financeiro. Quem quiser contribuir com o Cosc pode entrar em contato pelo telefone 3251-4168, ou e-mail: familiacosc@hotmail.com. “Nós aceitamos todo tipo de doação”, frisou Rodrigues.
Ajudas em dinheiro podem ser feitas por meio de depósitos no Banco do Brasil. Os dados são: agência 6505-6 e conta 739-0. Além da contribuição financeira, o Cosc aceita doações de móveis, roupas usadas e equipamentos.