O homem de 40 anos que sofreu descarga elétrica em Tatuí na tarde de terça-feira, 21, está recebendo cuidados em São Paulo. A vítima que não teve o nome informado pelas autoridades locais precisou ser transferida para o Hospital Geral de São Mateus “Doutor Manoel Bifulco”, referência no atendimento a queimados.
A equipe do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) procedeu à remoção na quarta-feira, 22. O homem estava internado no Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto” para observação desde o dia do acidente.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o pintor trabalhava num imóvel situado na rua 7 de Abril, no centro. Por volta das 12h50, o homem sofrera a descarga. Os bombeiros foram acionados pelo Samu para fazer o resgate da vítima que trabalhava num local de difícil acesso. O sobrado tem altura aproximada de 12 metros.
A equipe tinha duas opções para fazer ao atendimento, a retirada pelo interior do sobrado ou por uma maca cesto. O equipamento é desmontável, tem adesivos reflexivos indicando pontos de içamentos e capacidade para até 200 quilos. Ele é usado para resgates em altura ou em ambientes com “fortes pontos de atrito”.
O homem sofreu queimaduras de 1º, 2º e 3º graus em vários pontos do corpo por ter recebido a descarga dos fios de alta tensão da rede de energia elétrica. Inicialmente, ele teve de ser estabilizado pela equipe de socorristas do município.
Durante o atendimento, a vítima conversou com o Samu. Segundo a enfermeira Roberta Lodi Molonha Machado, que participou do atendimento e acompanhou o resgate, o homem disse que estava pintando a laje do sobrado. Em determinado momento, ele encostou o cabo do rolo de pintura na fiação da rua.
“Daí, ele sofreu um choque violento. Nós fomos os primeiros a chegar”, disse a coordenadora do serviço de urgência e emergência do município. Roberta, que também é responsável pelo Samu, contou que o chamado foi aberto a partir de ligações feitas por pessoas que passavam pela rua no momento do acidente.
Segundo a coordenadora, a descarga elétrica fez a vítima ser ejetada para trás. “Da laje, ele, então, caiu no telhado. Quando chegamos, ele estava com muita dor, praticamente, rolando para os lados porque não estava suportando”, relatou.
Devido à agitação, a equipe iniciou o atendimento por meio de analgesia (aplicação de medicamentos ou substâncias químicas para aplacar a dor causada por lesões neurológicas). Na sequência, os socorristas acionaram os bombeiros.
“Era preciso fazer uma retirada de altura. Nesse momento, o Samu só fez o primeiro atendimento”, contou. Roberta informou, ainda, que a vítima estava consciente. “Ele também não teve nenhuma outra complicação ou sequela possíveis de detectar, como parada cardíaca, ou arritmia”, acrescentou.
No chão, a equipe iniciou trabalho de hidratação da vítima e manteve a administração de medicamentos para controlar a dor e a hipotermia. “Essa ação é necessária porque os pacientes queimados perdem calor muito fácil”, explicou.
A equipe do Samu também prestou apoio para os bombeiros procederem com a remoção. Roberta contou que a vítima precisou ser retirada por rapel (processo de descida com a ajuda de uma corda dupla e com velocidade controlada).
O atendimento exigiu cautela dos socorristas e equipe dos bombeiros por conta do grau de dificuldade. A coordenadora do Samu disse que a maior preocupação não era com o acesso ao local (o telhado do sobrado), mas com a fragilidade do material.
“A telha é de amianto, bem instável e de alto risco para as equipes. Havia uma tensão porque poderíamos afundar uma vez que o material está desgastado”, disse.
De acordo com o Samu, a descarga provocou queimaduras de 3º grau nas mãos do pintor (nas quais houve entrada da eletricidade) e no abdômen (região do corpo pela qual a energia “escapou”). Ele também apresentou queimaduras de 2º graus nos dois antebraços e na região da axila e de 1º grau na face.
Na manhã de quinta-feira, 23, a coordenadora descartou suspeita de que o rim do pintor tivesse sido comprometido. Durante os primeiros atendimentos, no ambulatório, a vítima apresentou hematúria (sangramento na urina). O pintor foi submetido à tomografia, pela qual não houve constatação de dano.
“Esse tipo de diagnóstico precisa de uma confirmação mais apurada. Inicialmente, podemos dizer que o paciente não teve nenhuma complicação clínica”, disse.
Em Tatuí, acidentes envolvendo descarga elétrica são mais comuns entre trabalhadores, conforme informou a O Progresso o major do 15º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Sorocaba, o major Miguel Ângelo de Campos.
“Nesses casos, em particular, podemos dizer que sim, os acidentes elétricos são mais comuns entre profissionais. Não é a primeira vez que temos (os bombeiros) que atender ocorrências dessa natureza no município”, iniciou o oficial.
Também no centro da cidade, o major relembrou que houve dois acidentes sérios ao longo dos anos. O primeiro envolvendo um pintor que trabalhava num imóvel na rua 11 de Agosto (próximo da Igreja Presbiteriana); o segundo, um funcionário que fazia manutenção no telhado de um prédio na rua Prudente de Moraes.
Para o major, existe uma soma de fatores que contribuem para ocorrências desta natureza. As causas mais evidentes podem incluir desde a falta de atenção, de treinamento a ausência de EPIs (equipamentos de proteção individual).
Campos frisou que é preciso levar em consideração todos os pontos para que seja possível determinar as causas de um acidente em específico. No caso de Tatuí, os bombeiros ainda não conhecem todos os detalhes da ocorrência. A corporação também não dispõe de informações sobre as condições de trabalho e se o profissional fora contratado por empreiteira ou particular.
“A Elektro (concessionária de energia elétrica que atua em Tatuí) tem uma orientação muito forte no sentido de prevenção de acidentes. Geralmente, todas as instruções são para se evitar o contato com a rede”, comentou o major.
Também por conta da complexidade, o oficial explicou que a corporação recebe treinamento especial. Os bombeiros registram as ocorrências dessa natureza como resgate de vítima em plano elevado. Nesse atendimento, os socorristas precisam acessar a vítima, imobilizá-la e aplicar técnicas de remoção – tudo em suspenso.
Este último trabalho pode ser feito com auxílio de caminhão com escada. Tatuí dispõe de uma viatura desse porte. Contudo, o veículo está passando por manutenção em Sorocaba e não pôde ser utilizado no salvamento do pintor.
“Quando isso acontece (não se ter viatura disponível em função de uso em outra ocorrência ou manutenção), nós aplicamos outras técnicas. Em composição de forças com o Samu, procedemos com salvamento da vítima (o pintor)”, disse o major.
Esta não é a primeira vez que as unidades trabalham em conjunto. No dia 19 de agosto de 2014, um homem de 30 anos caiu de uma altura de 12 metros enquanto fazia serviço de manutenção. A vítima não resistiu aos ferimentos e faleceu na tarde do dia seguinte. Marcos dos Santos Alves ficou internado na UTI (unidade de terapia intensiva) da Santa Casa de Misericórdia.
O Corpo de Bombeiros registrou chamado no período da tarde. Devido à gravidade dos ferimentos, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) precisou ser acionado para socorrer o paciente, por meio da unidade avançada.
Segundo os bombeiros, a vítima trabalhava no conserto do telhado de um galpão de uma das lojas da empresa Caetano Materiais de Construções, no bairro Santa Cruz, quando despencou.
Também de acordo com informações, o homem usava equipamentos de segurança no momento do acidente. Na ocasião, a Polícia Civil abriu inquérito para verificar as causas e se os equipamentos estavam sendo usados corretamente.
Alves teve traumatismo craniano, trauma torácico e fratura dos membros inferiores (pernas). O trabalhador também apresentou afundamento do crânio, indicando que teria caído deitado.