Os cães da 2ª Companhia do 22º Batalhão da Polícia Militar, sediada em Tatuí, participam de pelo menos quatro apreensões de drogas por mês na cidade. A média mensal de ocorrências de tráfico em Tatuí chegou a 30 em 2015.
A tendência, segundo o capitão Kleber Vieira Pinto, comandante da 2ª Companhia, é de que o número de apreensões de drogas, com o uso dos cães, aumente com o passar do tempo.
“Acredito que tende a aumentar o uso do cão. Não é de hoje que é empregado, desde os primórdios acontece. Mas, a tendência é aumentar”, declarou.
O Canil da Polícia Militar foi criado em 1991 e possui sete cães. Quatro deles são da raça pastor-belga Malinois, dois labradores e um pastor-alemão. A diferença das raças influencia no uso dos cachorros.
Os pastores-belgas têm dupla função. Podem ser usados como farejadores ou na guarda e proteção. Os labradores são exclusivamente usados no faro e o pastor-alemão, somente na guarda e proteção.
O treinamento dos cães como farejadores é feito no próprio canil, pelos sete policiais que fazem parte do setor. O treino acontece como se fosse uma brincadeira, explicou o comandante.
“O cachorro precisa ser brincalhão, pois o princípio básico do trabalho é a brincadeira. Uma vez que o cachorro localizou a bolinha, que ficou impregnada com o cheiro do entorpecente, ele é premiado, é dado um brinquedo para ele”, afirmou.
Com o treinamento constante, os cães ficam sempre prontos para procurar drogas no policiamento.
Os policiais da unidade passam por especialização em cinotecnia no “Canil Central”, ligado ao 2º Batalhão de Choque da PM, em São Paulo. O curso tem duração de dois meses e é obrigatório aos militares que vão trabalhar com cães.
Além do curso de cinotecnia, outras especializações na área canina são oferecidas aos PMs, como a enfermagem veterinária e a especialização de faro.
“O Exército, as Polícias Militares de outros Estados oferecem vagas para os nossos policiais se especializarem ainda mais. Os nossos policiais são dedicados e costumam se inscrever nesses cursos”, afirmou o comandante.
As compras dos cães ocorrem por meio de licitação, pelo menor preço. Os policiais do canil visitam os criadores e escolhem os animais com o perfil desejado.
“A gente faz a seleção e escolhe com base na descendência dos cães, se é de boa linhagem”, disse. Os animais usados como farejadores têm perfil mais brincalhão, devido ao método de adestramento.
“Quando o cachorro será usado para o faro, é importante que ele seja brincalhão. Ele não pode ser um cão covarde ou acanhado. A brincadeira é percebida nos primeiros dias do cão”, explicou.
Como os animais são adquiridos ainda filhotes, nem sempre a escolha realizada na compra se mostra totalmente acertada, segundo o comandante.
Nos primeiros meses de treinamento, caso os policiais do canil percebam que o animal está com dificuldade em aprender, ele é descartado. O cão pode ir para a casa do policial que fez o treinamento ou ser mandado para o Canil Central.
Quando os animais completam oito anos de serviço, eles aposentam, entrando para a reserva. Em 90% dos casos, o policial que foi o companheiro de trabalho do cachorro é quem fica com o animal. Caso não tenha condições, o cachorro é doado para um civil que demonstre ter capacidade financeira de cuidar do bicho.
O perfil do canil da PM é formado de acordo com as características da região onde está instalado. Cidades próximas a reservas florestais, por exemplo, têm cães que podem ser usados na busca de pessoas desaparecidas.
No caso de Tatuí, os cães são treinados para localização de entorpecentes, armas e para ações de controle de distúrbios civis. Os cães trabalham no policiamento preventivo e ostensivo, a bordo de veículos ou a pé pelas ruas.
Nesse tipo de trabalho, o policial pode usar o animal para farejar alguma pessoa suspeita de comercializar drogas, ou ainda utilizá-lo para rastrear entorpecentes em terrenos. Os cães podem também serem acionados em ocorrências de outras equipes.
“Sempre que há informações de tráfico de drogas ou que precisamos adentrar uma residência com mandado, ou quando há uma fundada suspeita de, que no local, há entorpecentes, o canil é acionado”, explicou.
Os cães também são usados em operações realizadas pela Polícia Militar Rodoviária, como fiscalização de ônibus e veículos, e em varredura em presídios e centros de detenção provisória.
A sede do batalhão é em Itapetininga e o canil de Tatuí presta serviços a todas as cidades de abrangência. Recentemente, os cães foram levados para São Miguel Arcanjo, em operação de combate às drogas. “Eles encontraram uma grande quantidade de entorpecentes em um terreno baldio”, contou.
Um dos policiais militares que trabalham no canil é o soldado Alexandre Rodrigues Correa. Na PM há nove anos, ele começou a trabalhar com os cães há três.
O agente de segurança participa do policiamento ostensivo durante o período da tarde e treina e faz a limpeza do canil nas manhãs. As tarefas de manutenção são divididas entre os soldados do canil.
“Nós temos uma tarefa diária, das 6h às 18h, fazemos a manutenção do canil, a limpeza. Cada um tem seu cão e faz o adestramento”, explicou.
No policiamento com cães, a viatura é ocupada por três militares e um cão. Eventualmente, o trabalho é realizado com dois policiais e dois cachorros. A maior parte das ocorrências é de tráfico de drogas.
“Em Tatuí, têm sido frequentes as ocorrências com drogas. De dezembro a fevereiro, a gente percebeu que aumentaram bastante as apreensões com cães”, afirmou.
Sobre o companheiro de trabalho de quatro patas, Correa é enfático na defesa do amigo e da “ferramenta de trabalho”: “Não tem uma ferramenta melhor do que o cão na busca por entorpecentes. Têm ferramentas que detectam, mas não com a agilidade e precisão dos cães”.