Uma aventura de 12 mil quilômetros em três países da América do Sul em busca das maiores ondas que se pode surfar. Essas ondas não estão nas praias brasileiras, mas a milhares de metros de altura.
Os planadores aproveitam a energia dos ventos para ganhar altitude a voar grandes distâncias. Um grupo de seis aventureiros partiu de Tatuí rumo à Argentina para conhecer as “ondas de vento”, ou melhor, as massas de ar da cordilheira dos Andes.
A equipe, formada pelo piloto Luís Roberto Formiga, pelo tatuiano Raphael Pettinelli, pelos produtores Sylvestre Campe e Cléo Campe, pelo cinegrafista Pedro França e pelo editor Rodrigo Maia, percorreu o trajeto até a cordilheira a bordo de duas picapes, uma delas puxando a carreta com o planador Jantar STD.3, de fabricação polonesa.
Os aventureiros eram acompanhados de longe pelo presidente do Aeroclube de Tatuí, César Mazzoni. A aventura começou em 21 de outubro e terminou em 12 de dezembro, com duplo objetivo: conhecer novos locais para voo a vela e gravar uma série de programas para o canal de TV paga “Off”.
A primeira parada da equipe foi em Colônia do Sacramento, na foz do rio da Prata, no Uruguai. A expedição experimentou o voo sobre a bacia do rio.
As condições de voo são totalmente diferentes, explicou Pettinelli, que fez parte da equipe da expedição. Como não há montanhas ou massas de ar quente vindo do solo, os pilotos de planador aproveitam as correntes de ar que vêm do mar.
A parada seguinte foi Córdoba, na Argentina, sede de um dos aeroclubes de planadores mais famosos da América do Sul. Com a topografia levemente plana e próxima a montanhas, o piloto pode aproveitar massas de ar quente que sobem do solo, além das ondas de ar que vêm das montanhas.
“É um local bem diferente, aproveitamos bastante. De lá, fomos para La Cumbre, que fica a cerca de cem quilômetros, e é a sede da RedBull na América do Sul”, contou Pettinelli.
Em La Cumbre, Formiga teve a oportunidade de voar com o “rei da Cordilheira”, o condor. O pássaro, segundo o piloto, tinha cerca de quatro metros de envergadura. Para efeito de comparação, o planador que Formiga pilotava tinha aproximadamente 15 metros de asa a asa.
Mazzoni explica que o funcionamento de um planador lembra muito ao dos grandes pássaros. A aeronave aproveita as correntes de ar para ganhar altura e, assim, poder se deslocar em grandes distâncias.
A parada seguinte da equipe de gravação foi em Chos Malal. Privilegiada por estar encravada na cordilheira dos Andes, a cidade se tornou um importante ponto de voo a vela na montanha.
Nessa modalidade, as correntes de ar vindas do oceano Pacífico “esbarram” na cadeia de montanhas e sobem, formando grandes ondas de ar. São nessas “ondas” que os planadores aproveitam.
Durante a viagem de 12 mil quilômetros, a equipe teve a oportunidade de conhecer outros tipos de paisagens e novas experiências de voos.
“Eles voaram no local que teve o recorde de distância voada em planador. Um aviador conseguiu planar por 3.009 quilômetros. Os voos do Formiga foram mais modestos, cerca de 300 quilômetros. Os grandes voos mesmo chegam a 2.000”, conta Mazzoni.
A equipe ficou cinco dias em Chos Malal. De lá, foram conhecer as correntes de ar frias de Bariloche, que fica no início da Patagônia Argentina.
A região montanhosa beneficia o voo em ondas. Entretanto, segundo Pettinelli, as correntes de ar são mais fracas do que as encontradas em Chos Malal.
“São ventos mais frios e mais fracos em relação a Chos Malal, entretanto, é um desafio para o piloto voar, pois é necessário o uso de balão de oxigênio, devido à grande altitude”, explicou.
Bariloche foi o ponto mais ao sul que a equipe de aventureiros alcançou na expedição. A partir de lá, voltaram a “subir” no mapa. A parada antes de voltar para terras brasileiras foi em General Roca, na Argentina.
“O clima em General Roca é desértico e de muito calor, o que gera fortes correntes de ar quente. A gente aproveita esses ventos para voar com o planador”, afirmou.
A equipe entrou no Brasil por São Borja, no Rio Grande do Sul. Em Palmeira das Missões, cidade com grande cultura de voo a vela, aproveitaram para participar do Campeonato Brasileiro de Voo a Vela. A equipe de gravação realizou filmagens e Formiga aproveitou para voar.
Antes de retornar para Tatuí, os aventureiros passaram por Montenegro (RS), Osório (RS) e Florianópolis, onde fizeram um dos voos “mais belos”.
“A gente decolou de São José e aproveitamos o vento que sopra do oceano Atlântico. Os ventos são mais calmos do que os do Pacífico, entretanto, o voo é muito bonito”, contou Pettinelli.
Em Tatuí, a equipe voou por dois dias, aproveitando as correntes de ar quente, que sobem do solo. O mesmo tipo de vento os aventureiros desfrutaram na cidade de Bebedouro (SP).
“A diferença é que as térmicas de Bebedouro são bem mais fortes do que as de Tatuí, pois a região é bem mais quente do que aqui”, explicou.
“O objetivo da expedição foi conhecer tipos diferentes de condições de voo. É uma aventura grande você ir para um local totalmente diferente, onde o funcionamento das correntes de ar é diverso”, afirmou Mazzoni.
Enquanto a equipe viajava e desfrutava dos voos, Mazzoni fazia os desembaraços burocráticos, para a equipe poder voar e circular em território estrangeiro, uma vez que Formiga e Pettinelli têm como base de voos o aeroporto de Tatuí.
“Eu fiz a parte mais chata, que é fazer a documentação para os meninos puderem voar tranquilamente lá fora. A aventura deles foi muito grande”, disse Mazzoni.
“O Formiga mora em Florianópolis, mas a base de voo dele é aqui em Tatuí; já o Rafael Pettinelli é tatuiano e, praticamente, cresceu no aeroclube”, emendou.
Depois da aventura de 12 mil quilômetros, a equipe ainda não tem novos planos para o futuro. Pettinelli espera a exibição do programa, que acontecerá entre agosto e setembro, para traçar novos projetos. Para o aventureiro, uma coisa é certa: será difícil superar esta viagem.