Sem receber doadores de sangue desde 27 de maio do ano passado, o Banco de Sangue “Fortunato Minghini” agora funciona somente como uma “agência transfusional”.
Apesar disso, oito meses após o fim das coletas de sangue, a procura de pessoas querendo doar persiste, conforme conta a responsável pelo banco de sangue, a biomédica Letícia Aparecida de Oliveira. Entre janeiro e maio do ano passado, foram 343 doações junto ao serviço.
“Por dia, aparecem cerca de quatro pessoas dispostas a fazer doação de sangue, fora as ligações que a gente recebe todos os dias. Com o tempo, a procura vai baixando, pois as pessoas vão informando umas às outras sobre a interrupção”, declarou.
Desde o fim das coletas, o banco de sangue tem recebido campanhas do Hemocentro de Botucatu e do Hospital Amaral Carvalho, de Jaú. Com as campanhas vindas de fora, o pessoal e os equipamentos são trazidos das cidades maiores. A parceria com outros bancos de sangue faz com que a unidade local sempre receba hemoderivados.
“A gente recebe o sangue de fora e, agora, o nosso trabalho é fazer os exames de compatibilidade nos pacientes, pois as bolsas já vêm com os exames imuno-hematológicos feitos”, contou Letícia.
De acordo ela, o encerramento do serviço de coleta de sangue se deu pelo fato de os equipamentos estarem defasados e necessitarem de calibração.
Um dos principais aparelhos usados para a coleta de sangue, o Hemomix, não está funcionando corretamente, segundo a funcionária. Como a quantidade de sangue precisa ser precisa, devido à quantidade de reagentes anticoagulantes que há dentro da bolsa, se receber sangue a mais ou a menos, o material pode perder a utilidade.
“Teve casos aqui que precisamos descartar o sangue porque o aparelho coletou a quantidade errada. Quando isso acontece, a gente manda o sangue doado para a incineração”, explicou a biomédica.
Outro problema do banco de sangue é a descalibragem de aparelhos, como a centrífuga de bolsas. Além de necessitar de manutenção constante, o aparelho precisa ser calibrado periodicamente, pois a rotação errada faz com que o sangue seja separado incorretamente.
“O sangue tem a rotação correta para fazer a separação. Se o aparelho não está calibrado, a gente não saberá ao certo qual a rotação que ele está naquele momento”, explicou.
Outro equipamento fundamental em um banco de sangue é a geladeira. As que armazenam sangue estão funcionando bem, entretanto, não em conformidade com a legislação do Ministério da Saúde. O único aparelho que atende à normativa está em manutenção.
“As geladeiras precisam ter portas de vidro, para evitar que a gente fique abrindo para saber quantas bolsas tem dentro. Quanto menos abrir a geladeira, melhor será a refrigeração das bolsas de sangue”, apontou ela.
A seladora, que faz o fechamento das bolsas de sangue, precisa ser trocada, pois já teve a vida útil expirada. A máquina é importante, uma vez que veda totalmente a bolsa e evita contaminações. O custo total para trocar os equipamentos defasados e realizar a calibração é de cerca de R$ 200 mil, segundo Letícia.
A biomédica afirmou que o Lions Clube de Tatuí, há dois meses, pediu relatório informando sobre os equipamentos que precisam ser adquiridos e que vai solicitar recursos com o LCIF (Lions Clubs International Foundation).
“É um dinheiro que pode demorar a vir, pois é uma soma elevada. Não dá para levantar da noite para o dia esse dinheiro”, afirmou.
A presidente do Lions Clube de Tatuí, Aparecida Maria Millen de Miranda, informou que o relatório já foi enviado ao LCIF, nos Estados Unidos. Segundo ela, há grandes possibilidades de a entidade conseguir o recurso para Tatuí.
“A gente nunca pode falar em 100%, mas, como conseguimos dinheiro para reabrir o banco de sangue uma vez, a gente pode conseguir novamente, se montar um projeto bem feito”, afirmou.
Aparecida lembrou que, sempre que necessário, o LCIF ajudou com recursos os projetos brasileiros e que espera que, neste caso, a entidade internacional não deixe de mandar o recurso.
A presidente afirmou, contudo, não ser possível determinar uma data. “É algo que não depende da gente. Não é uma decisão nossa. Espero que o mais rápido possível”.
A provedora da Santa Casa de Tatuí, Nanete Walti de Lima, afirmou que a possibilidade de aquisição de novos equipamentos por parte do Lions é uma “boa notícia”.
“O nosso banco de sangue deixou de receber as doações justamente por causa dos equipamentos. Se esse dinheiro vir, vai resolver nosso principal problema, que são os equipamentos defasados”, declarou.
Informatização
Com o fim das coletas de sangue no banco de sangue, a anunciada informatização do “Fortunato Minghini” não aconteceu. Os cinco computadores e uma impressora de etiquetas doados pelo Lions Clube de Tatuí estão parados, sem uso. Os equipamentos sequer foram utilizados na realização de coleta de sangue, pois chegaram três meses após a paralisação das coletas.
A informatização diminuiria as chances de acontecerem erros humanos durante o processamento de sangue, além de permitir que o banco de sangue local enviasse as bolsas excedentes para outros hemocentros, como os de Botucatu e Jaú.
Fundado em 1955
O Banco de Sangue foi fundado em 1955, pelo primeiro presidente do Lions Clube de Tatuí, Fortunato Minghini, e entregue à Santa Casa de Tatuí em setembro de 1956.
Em 2003, o clube de serviços decidiu construir um novo prédio para a unidade. O anterior tinha entrada e saída pela rua Capitão Lisboa, sendo substituído pelo atual, mais moderno, na rua Cônego Demétrio.
Com colaboração da população, da Prefeitura, verbas da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e subsídios doados pela LCIF (Fundação Internacional dos Lions Clube), o novo espaço foi construído. Na época da inauguração, a entidade realizou a entrega do imóvel “totalmente equipado”.
Em 2005, o clube repassou as responsabilidades pelo custo operacional e manutenção para a Santa Casa. Entretanto, continuou colaborando com a unidade.