Entregue centro de convivência da Apae





Cristiano Mota

Apresentações de dança integraram programa de evento que marcou inauguração de espaço e serviço

 

“Esse evento é fruto de um grande sonho que nós tivemos no ano passado. Precisamos fazer várias adequações para termos um serviço consolidado, e, dentro disso, criamos esse projeto”.

O resumo feito pela assistente social Daliane Araujo Miranda diz respeito ao trabalho realizado pela Apae (Associação de Pais e Amigos do Excepcional) e que resultou na inauguração de um novo espaço: o centro de convivência.

A apresentação aconteceu na noite do dia 28 de maio, com presença de familiares de 37 internos com mais de 30 anos e atendidos pela assistência social e de colaboradores do projeto.

O evento reuniu funcionários, diretores e o presidente da instituição, Antonio Rocha Lima Neto. Também contou com autoridades. Entre elas, a vereadora Rosana Nochele Pontes.

Composto por sala dedicada à roda de conversa, espaço para locação de fantasia, realização de bazar solidário permanente e salas para oficinas de artesanato e lavanderia, o centro de convivência atende público específico. Ele é voltado a deficientes que não podem mais frequentar a educação especial.

Buscando cumprir norma estabelecida entre a Secretaria Estadual da Educação e as Apaes, a entidade local passou a formatar um projeto diferenciado.

Foi então que Daliane, a psicóloga Fabiana Fogaça e a terapeuta ocupacional Cássia Cristina Soares de Camargo uniram-se para montar o espaço.

“Tudo isso aconteceu graças a um esforço coletivo, de todos os profissionais que se esforçaram”, disse Daliane, na cerimônia de inauguração. A equipe trabalhou na preparação do evento até a noite do dia anterior.

Para colocar o projeto em prática, a Apae recebeu ajuda de diversos voluntários. Entre eles, membros do Comitê de Cidadania da Ford, do grupo de escoteiros Goyotin, Grupo Práxis e PLP (promotoras legais populares).

“Também tivemos ajuda dos nossos professores, dos familiares e dos próprios atendidos, que fizeram com que tudo isso se realizasse”, comentou a assistente social.

A psicóloga da Apae fez menção especial às famílias dos assistidos ao comentar sobre a criação do espaço. Fabiana disse que a instituição promove apoio não só aos internos, mas aos parentes deles.

“Nosso centro tem uma proposta de trazer a família para dentro do centro. Torná-la mais presente, mais atuante para que possa definir, junto conosco, o nosso plano de ação”.

Para alcançar o resultado apresentado ao público, a psicóloga ressaltou que os envolvidos precisaram driblar obstáculos. “O início foi bem difícil, um impacto para todo mundo. Mas, nós nos reunimos e, no fim, tudo acabou dando certo”.

Conforme ela, a conclusão do projeto aconteceu por conta do apoio de todos os envolvidos. Fabiana agradeceu a colaboração dos familiares, dos funcionários da instituição, dos oficineiros, dos voluntários e demais envolvidos.

“Foram eles que tiraram do papel todo o nosso planejamento e colocaram em prática. Eles são nossos escudeiros e fizeram as coisas acontecer”, declarou.

Mais que novo local para atividades, a psicóloga disse que o centro proporcionará “mudanças e transformações”. Fabiana explicou que o espaço tem como proposta promover independência e a qualidade de vida do assistido.

A cerimônia de inauguração contou, ainda, com mais três pronunciamentos. Em discurso, o presidente da Apae frisou que a melhoria é resultado de trabalho conjunto. Neto citou que não atua só na instituição. “Eu sou o presidente, mas não trabalho sozinho, tenho uma diretoria”.

Ele ainda agradeceu aos funcionários, aos técnicos da instituição, aos pais e familiares dos assistidos. Por fim, declarou que a Apae precisa do apoio de todos para continuar existindo. “Dependemos muito de vocês para trabalhar”.

Convidada a falar, a vereadora Rosana afirmou que ficou honrada em participar do evento. Disse estar alegre por conta do momento e considerou a inauguração uma conquista para a instituição. Rosana ressaltou que “a Apae é marcada por luta e determinação”.

“Só tenho que elogiar. A todos que vêm ajudando, é muito importante o apoio para que a entidade possa continuar, e que isso sirva de exemplo”, disse.

Graça Ribeiro, colaboradora da entidade e esposa de José Tarcísio Ribeiro, ex-presidente da Apae, também fez elogios à instituição. Disse que o marido tem “verdadeira paixão” pela associação e falou sobre o significado dela para a família.

“Nós aprendemos a amar todo mundo que trabalha aqui. Ele (Tarcísio) não está presente porque está em São Paulo, mas eu só tenho que cumprimentar essa turma maravilhosa e dizer a Tatuí que isso (a inauguração) se deve a todos”.

Encarregado de conduzir a cerimônia, o professor Pedro Couto lembrou que o movimento apaeano em Tatuí completa 40 anos em 2015. Também salientou que a instituição cresceu por conta da colaboração da população. “Tudo isso só foi possível por meio de ajuda. Tatuí tem um povo muito bom”.

Em seguida, os convidados assistiram a vídeo institucional, preparado voluntariamente pela Nesh Fotos e Vídeos. O material abordou a história da Apae e as etapas de transformação do prédio existente em centro de convivência.

No local, os assistidos desenvolvem atividades relacionadas à independência pessoal, como cuidados com higiene. Também têm hidroginástica (no ginásio), realizam caminhada, participam de coral, fazem atividades físicas com alongamento e recebem atendimento multidisciplinar.

As oficinas também seguem o mesmo princípio, envolvendo atividades do dia a dia. O objetivo é oferecer mais qualidade de vida aos assistidos e a seus familiares.

Todas as atividades são complementadas pela instituição em apresentações públicas, voltadas à socialização dos internos. Duas delas aconteceram na noite da inauguração. Parte dos 37 assistidos participou de dois espetáculos de dança.

Eles também realizaram entrega de certificados de reconhecimento pela colaboração aos voluntários e patrocinadores do novo centro de convivência.

A performance dos assistidos encantou Kátia Elaine de Souza Izidora Fonseca, 41. Irmã de Hércules de Souza Izidoro, 42, ela fez questão de prestigiar o evento por considerar a Apae uma “segunda família”.

“A instituição é tudo para meu irmão. Ele entrou aqui com 13 anos de idade. Ela (a Apae) devolveu a vida para ele e para nós, que não sabíamos como lidar com ele no começo. Ele era violento. Agora, tudo mudou”, contou.

Como os demais alunos do centro, Izidoro frequenta a Apae três vezes por semana. A participação dele em atividades e oficinas desenvolvidas no espaço é considerada fundamental pela irmã para que ele tenha qualidade de vida.

“É muito bom que ele venha para se socializar. Como ele não tem muito movimento, participa do coral. Então, quando podemos, nós todos prestigiamos a entidade porque a consideramos como nossa família”, descreveu.

Também membro da “família apaeana”, a diretora pedagógica Elen Adriana Teothônio falou que tem imenso prazer em fazer parte do trabalho desenvolvido pela instituição.

Ela ainda ressaltou que todos os funcionários trabalham em prol dos assistidos e colocou-se à disposição da equipe que atua no novo espaço.

A coordenadora de projetos da instituição, Rita de Cássia Leme Ramos, falou sobre o comprometimento da equipe e a dedicação deles. Disse que, na entidade, há uma união e afirmou que vê os internos como exemplo de superação, empenho, paciência, carinho e fraternidade.

Rita destacou, ainda, o engajamento das profissionais que idealizaram o centro. Comentou que, para colocar o projeto em prática, elas transformaram-se em pintoras, decoradoras e relações públicas.

Também mencionou que os professores da instituição “se reinventaram” e que, a partir desse processo, a entidade pôde celebrar “vitória construída por várias mãos”.

“A Apae agradece a todos que, de alguma maneira, ajudaram a construir esta nova história, abrindo novas possibilidades, doando mais que dinheiro, bens ou serviços. Doando coração, esperança e apoio para todos que estarão sendo beneficiados direta ou indiretamente pelo centro de convivência”.

Na sequência aos discursos, o presidente e os demais convidados participaram do descerramento da fita inaugural do centro. Neto também apresentou o espaço para os convidados e disse que a diretoria aceitou o desafio por acreditar que a entidade poderia melhorar o atendimento ao público interno.

“A equipe toda comprou a ideia e viu que ia dar certo desde o início. O espaço representa crescimento não só para o desenvolvimento dos assistidos, mas para dar a eles autonomia, o que é algo importantíssimo”, comentou.

Em entrevista, o presidente disse que a Apae preparou a inauguração para mostrar para parte das famílias qual é o trabalho desenvolvido e para prestar contas à sociedade civil, que colaborou com doação em material e mão de obra.

Conforme antecipou, o próximo projeto a ser inaugurado pela instituição será uma cozinha piloto. O espaço deve ser construído com verba destinada pelo banco Itaú e utilizado para aulas de culinária.

“Às vezes, a família não tem meios de ensinar o deficiente, nem mesmo a esquentar um leite. Nós teremos tudo para ajudá-los a aprender a cozinhar sozinhos”, disse.

O modelo do centro inaugurado pela Apae é baseado em referências e diretrizes de outras instituições. Cássia explicou que ela, Fabiana e Daliane buscaram informações em diversas associações, incluindo da cidade de São Paulo.

“Com esses dados, nós montamos o nosso próprio projeto e fomos agregando propostas, como a loja de roupas, ideia do professor Pedro Couto”, disse.

A terapeuta ocupacional esclareceu que o local não tem como foco principal a geração de renda, mas o desenvolvimento da autonomia dos assistidos. A loja é administrada pelos próprios frequentadores do centro, que têm como “lição de casa” dobrar as roupas, arrumar as araras e guardar as peças.

Como os alunos da Apae são responsáveis pela comercialização das peças, a loja proporciona a eles a oportunidade de interagirem socialmente.

“Isso é muito importante para vermos a capacidade e habilidade que eles têm. Todos os ambientes do centro de convivência foram pensados nisso”, disse Cássia.

A mesma dinâmica vale para a loja de fantasias. Já no ambiente da roda de conversa, os internos dividem espaço com os familiares. Ele possibilita que pais e filhos deficientes possam interagir e falar a respeito de suas vontades.

Todos os ambientes têm, como ponto principal, a promoção da autonomia. Cássia disse que o trabalho é fundamental para esse público, uma vez que há o “envelhecimento das famílias”.

“Temos que pensar que, se eles têm mais de 30 anos, os parentes estão mais velhos. Alguns não têm mais pais, que já morreram, e vivem com os irmãos. Então, focamos na independência”.

De acordo com a terapeuta ocupacional, o maior desafio enfrentado para a concretização do projeto foi a reforma do espaço. A Apae não dispunha de recurso próprio para todas as adaptações necessárias ao projeto.

Como a instituição trabalha com verbas direcionadas (específicas para a manutenção das atividades existentes), a equipe optou por “bater de porta em porta”.

“Deu trabalho, mas nós recebemos muito sim. Mesmo sem nos conhecer, as pessoas nos ajudaram por conta do nome da Apae, que é forte”, disse Cássia.

Em retribuição, ela contou que a entidade programou o evento para prestar homenagem aos colaboradores. “Nós sentíamos que estávamos devendo isso a eles, porque todos foram muito receptivos. Mostramos que o que buscamos está aqui, que existe, é real e está sendo bem utilizado”, encerrou a terapeuta.