Arquivo pessoal
Instalação da artista plástica de Tatuí que ocupou vários locais da Fazenda Nacional de Ipanema se funde a pensamento de obra literária
Por dez dias consecutivos, a artista plástica Raquel Fayad viveu, literalmente, em outro endereço. Ela deixou a rotina da profissão em Tatuí, onde coordena o Museu Histórico “Paulo Setúbal”, e os demais afazeres para experimentar mais uma imersão cultural. Desta vez, realizada na cidade de Iperó.
Do dia 9 ao 18 deste mês, ela colocou em prática trabalhos constantes em projeto selecionado dentre 48 inscritos de todo o Brasil. Raquel participou do “Residência Artística”, com outros quatro profissionais na Flona (Floresta Nacional de Ipanema).
Trata-se de iniciativa mantida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a Prefeitura de Sorocaba e o Macs (Museu de Arte Contemporânea), de Sorocaba. As entidades ofereceram programa de residência a profissionais de artes visuais, evento que possibilitou aos selecionados um “imersão nas próprias obras e em questões pertinentes do mundo atual”.
O objetivo é contribuir com a formação e no aprimoramento de artistas e incentivar atividades de intercâmbio, reflexão crítica e aprendizado variado. Na segunda edição, a coordenação do projeto escolheu cinco profissionais que residiram na Fazenda Ipanema com a proposta da produzir obras inéditas.
Raquel levou para o espaço o questionamento da arte, do artista e do fazer artístico. As perguntas fazem referência ao livro “Cartas a Um Jovem Poeta”, de Rainer Maria Rilke, e se fizeram presentes em três propostas pesquisadas.
As obras da artista de Tatuí ocuparam três prédios do local. Para desenvolvê-las, Raquel focou-se nos detalhes da Flona. “A curadoria pediu que o projeto fosse sobre a fazenda. Como eu já tinha estado lá e fotografado fragmentos ligado com minha pesquisa, foi mais fácil”, comentou.
Raquel fez uso da escrita para transcrever trechos de poemas de Rilke e elementos da natureza para simbolizar as tramas. “Na residência, trabalhei muito a observação, principalmente, da raiz de figueira que toma conta das árvores e, também, vai tomando conta do patrimônio público”, descreveu a artista.
A linha de pensamento dos trabalhos dela juntou a arte com a estrutura. “Isso me chamou a atenção, os contrastes entre criação e destruição. E contraste é uma das coisas que mais são trabalhadas nas pinturas”, argumentou.
Partindo da observação do espaço interno, Raquel criou as obras “Interno I” e “Interno II” e “Flora Ipanema”, uma instalação com tiras de borracha negra e Fusain inspirada pelo livro de Rilke e as telas “Figueira” e “Sapopemas”.
A ideia original era de criar a instalação dentro da casa da fazenda. Por conta da conservação do imóvel, Raquel decidiu acomodá-la na “Casa de Armas Brancas” e os demais trabalhos (as duas telas em acrílica) na “Casa da Guarda”.
“Acabei tendo uma produção muito boa. Nós (os artistas) ficamos juntos durante todos os dez dias e compusemos um grupo muito interessante”, avaliou. Os trabalhos dos artistas ficaram expostos na fazenda até o domingo, 22. Eles poderão ser vistos pelo público no dia 15 de abril, no Palacete Scarpa, quando haverá coquetel para convidados e interessados em adquiri-los.
A venda será revertida para o Fundo Social de Solidariedade de Sorocaba e para o Macs. “Um terço vai para o museu e dois para o Fundo Social”, contou Raquel, que participou da iniciativa com Ellen Bruber, Felipe Góes, Geraldo Souza Dias e Marcela Tiboni. O grupo teve curadoria de Paulo Klein.
O jornalista, fotógrafo, escritor e crítico de arte orientou os artistas selecionados com base na qualidade artística. A escolha aconteceu por meio de análise de portfólios com cinco imagens de trabalhos realizados nos últimos dois anos e cinco de outros que sejam relevantes para a carreira.
Para participar, os artistas também enviaram currículo atualizado e comprovante de participação dele em, pelo menos, três exposições individuais e coletivas. Eles inscreveram projetos que previam uso de “vários suportes”.