
Tatuí 200: Outros fatos, outras histórias
Cristiano Mota
Em 1822, com a mudança de José Gomes Pinheiro – que era proprietário de terras, tropeiro, dono de comércio de muares, considerado um “homem da Corte e do Sertão” e, ainda, deputado provincial – do posto de capitão, a 6ª companhia fica a cargo de Jeronymo Antônio Fiuza. O oficial sorocabano tem, sob sua responsabilidade, 929 habitantes, distribuídos em sete localidades. Registram-se, no mapeamento, além do núcleo principal, um bairro e seis esquadras.
Vigente desde o século 17, esse modelo representava uma subdivisão territorial e militar da Companhia das Ordenanças. As esquadras, organizadas por critério de proximidade geográfica, eram comandadas por um cabo (responsável por garantir a segurança de toda a unidade) e compostas por 10 a 20 homens – civis armados –, que tinham a obrigação de se apresentar para o serviço militar local ou realizar patrulhamento em caso de convocação.
Para além de suas funções militares e administrativas, as esquadras correspondiam a núcleos de povoamento estáveis. Já os bairros, sinalizavam a consolidação desses assentamentos.
Essa estrutura organizacional revela, em sua essência, as formas embrionárias dos primeiros bairros de Tatuí, uma vez que seus nomes fazem referências diretas a localidades reconhecidas. Assim, o terceiro mapa geral traz, não só os dados dos habitantes, mas a primeira conformação de sua distribuição na ocupação territorial, permitindo descobrir onde seus primeiros habitantes se estabeleceram e a partir de qual região – ou quais – a cidade se desenvolveu.
No núcleo central, que não necessariamente correspondia à área urbana de Tatuí, residiam 133 pessoas, em 25 propriedades. Na esquadra do Campo, a população somava 157 pessoas, em 33 fogos. A esquadra de Sarapuí, que se iniciava no número 59 e terminava no 92, era habitada por 34 grupos familiares, totalizando 176 pessoas, entre crianças, jovens e adultos livres e escravos.
A população da terceira esquadra, de nome de “do Mato”, era a segunda menor entre as divisões territoriais. Nela, residiam 45 pessoas, em 11 propriedades. Na esquadra do Mato Dentro, composta por 29 fogos, viviam 137 pessoas. Já no Bairro da Congonha – que deu origem à região do atual Congonhal (compreendendo o de Baixo, do Meio e de Cima), pertencente à zona rural do município de Tatuí – havia 67 moradores, divididos em 19 propriedades.
A esquadra do Paiol abarcava apenas nove fazendas, que abrigavam um total de 35 indivíduos. Os demais moradores – 179 habitantes – residiam na do Capão Alto, distribuídos em 45 propriedades. Essa é, também, a região com o maior número de pessoas vivendo sozinhas: seis mulheres.
No total, 76,1% da população dessa esquadra (52 famílias) tiravam o sustento da agricultura; 13,4% (9 famílias) se mantinham com trabalho agrícola sazonal, nas chamadas jornadas; 6% (4 núcleos) não tinham profissão declarada; e 3% (2 famílias) obtinham renda das produções de seus próprios engenhos e de negócios. Apenas uma família (1,5%) vivia de pedir esmolas.
A condição econômica da população pouco mudou no período de dois anos. Em 1824, quando o número de moradores de Tatuí aumentou 29,38% em relação a 1822 – passou de 929 residentes para 1.202 –, ainda havia famílias vivendo em extrema pobreza. De acordo com os registros do terceiro mapa geral, três fogos – de um universo de 225 – abrigavam moradores que mal tinham o que comer. Ao todo, 13 pessoas (1,08% do total de habitantes) foram classificadas como “pobres e vivendo de esmolas”. Ainda assim, a esmagadora maioria da população tatuiana (99,02%) dependia diretamente das próprias lavouras para viver.







