Cristiano Mota
Professoras, coordenadoras da entidade e assistente social têm pretensão de unificar experiências para ampliar trabalho de colocação de PCDs junto às empresas da cidade
Em vez de treinar assistidos dentro do centro de convivência, a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) os colocou diretamente na linha de produção. Essa é a essência do Emprego Apoiado, iniciativa anunciada como pioneira da unidade de Tatuí pela assistente social Daliane Araujo Miranda.
O programa tem como objetivo incluir todas as pessoas com deficiência – com 30 anos ou mais – no mercado de trabalho. Daliane explica que ele se diferencia de uma simples capacitação, porque não oferece um treinamento prévio por meio de oficina. Ele dá ao participante a chance de ocupar uma vaga de trabalho na prática.
Iniciada no ano passado, a ação terá continuidade e expansão no decorrer de 2015. Os planos da entidade são de juntar forças com outro programa, denominado Educação para o Mercado de Trabalho. “Não promovemos capacitação, nós incluímos”, enfatizou a assistente social ao explicar a dinâmica do trabalho.
Por meio do Emprego Apoiado, as equipes da Apae visitam as indústrias ou empresas com vagas disponíveis e que precisam ser ocupadas por PCDs (pessoas com deficiência). As profissionais conhecem o posto de trabalho e verificam quais são as atividades a serem desenvolvidas pelos assistidos nas linhas de produção.
“Quando a empresa diz que precisa de ‘x’ vagas, a psicóloga e a assistente social vão conhecer o perfil dela, do posto de trabalho e do nosso público. Depois de tudo isso, nós fazemos a sugestão de pessoas para a empresa”, contou Daliane.
Como os perfis se diferem, são necessárias adaptações para que os assistidos ocupem as funções sem prejuízos à produção. A assistente social comentou que há casos em que um mesmo funcionário desempenha muitas atividades. Quando isso é verificado – e dependendo da capacidade de reação do PCD e da necessidade – a Apae sugere uma mudança na linha de produção.
Esse tipo de acompanhamento é feito no início da inserção do PCD e até quando houver demanda por parte da empresa. Sempre que um funcionário PCD apresentar dificuldades, a entidade é acionada para verificar como ela pode ser superada.
A experiência iniciada em outubro do ano passado já rendeu seis contratações. Das pessoas encaminhadas, Daliane contou que apenas uma precisou de acompanhamento. “A única dificuldade que nós enfrentamos foi com a questão da falta de maturidade e disciplina. Isso acontece porque eles não foram acostumados a obedecer a horários, como os de comer e descansar”, disse.
A Apae dá suporte para as empresas em qualquer eventualidade. Nesses casos, os problemas podem ser resolvidos com orientações mesmo por telefone.
O trabalho representa a primeira experiência da Apae como inclusão para o mercado de trabalho. Antes de colocá-lo em prática, Daliane fez pesquisas e descobriu que a metodologia já está sendo aplicada no Brasil. “Ela veio importada dos Estados Unidos, e prevê capacitar não num simulado, mas num ambiente real para não ficar uma coisa falsa”, argumentou a assistente social.
Durante o desenvolvimento, a equipe constatou que havia necessidade de trabalhar a parte comportamental dos encaminhados. “Nós solucionamos isso com o programa de Educação para o Mercado de Trabalho”, disse Daliane.
Mesmo com as dificuldades iniciais, ela disse que a equipe da Apae conseguiu “superá-las”. “Conseguimos ensinar a todos, num curto período de tempo, o que eles precisavam saber. O trabalho é muito legal”, comentou.
Cinco dos assistidos encaminhados para o emprego trabalham em uma indústria de metalurgia e, o sexto, em uma rede de supermercados. Em média, ganham R$ 1.400. “Melhorou bastante a qualidade de vida deles”, disse Daliane.
Ela atribui o sucesso da experiência também ao público atendido pelo programa. Segundo a assistente social, os próprios trabalhadores servem de exemplo – e de motivação – para os demais assistidos. “Quando eles vêm aqui, para algum treinamento, dão conselhos e acabam influenciando os outros”, disse.
A partir das primeiras reações dos participantes do programa, a Apae passou a aprimorar o trabalho de encaminhamento. Daliane contou que a entidade aproveitou a iniciativa para aprimorar outras áreas da instituição, como o incentivo à autonomia.
Por esse motivo, é que ela desenvolveu o sistema de referência por foto. A Apae utiliza como metodologia – principalmente para o centro de convivência – fotografias de ambientes de modo a permitir que os assistidos não só reconheçam os espaços como sejam capazes de ir até eles sozinhos.
“Tudo isso auxilia bastante e facilita no emprego, porque a dificuldade deles não está na produção, em ajudar o outro. Isso eles fazem bem e as pessoas acham que não. A questão é adaptação, uma forma alternativa”, concluiu.