‘A valorização dos idosos e a aliança entre gerações’

Embora seja, muito e sinceramente, sagrado o respeito ao estado laico por parte deste veículo de comunicação – sem o qual, mundo afora, as religiões são usadas para justificar perversidades francamente nada cristãs -, isto não implica em deixar de reproduzir ponderações oportunas, mesmo que pelo viés de alguma denominação.

Nada tem a ver, também, com deturpar termos do tipo “família” para impor valores pessoais, de grupos ou políticos sobre toda uma sociedade – senão países – por meio de uma disfarçada “nova censura prévia”, mesmo que a pretexto de suposto bom uso do dinheiro público.

Ora, todos pagam impostos da mesma forma, donde se intui que deve haver, sendo o caso, tanto realizações artísticas com palavrão quanto shows de música gospel. Cada indivíduo – justamente em um estado laico – deve ter seu direito de escolha respeitado.

Se lhe apetece ter seu momento de lazer escutando louvor em praça pública, ninguém tem nada a ver com isso, da mesma forma que, se outrem decide ir ao teatro ver uma peça que esculacha a homofobia, também tem esse direito.

E mais: o dinheiro, sendo amealhado de toda a sociedade, deve e precisa ser distribuído em iniciativas de lazer e culturais de apreço de toda a sociedade também, não apenas às de determinados segmentos ou grupos.

Aliás, para tranquilizar os arautos da suposta moral e dos bons costumes de plantão, há uma alvissareira notícia (que não é novidade…): existe um negócio chamado “classificação indicativa”.

Por ela, indica-se a faixa etária a partir da qual o público é indicado. E, com isso, os pais decidem se seus filhos podem acompanhar os eventos, ou não. E, claro, sem o estado lhes torrar a paciência com seu paternalismo cafona, arbitrário e carente de cultura.

Mas, enfim, para aliviar o clima e reforçar a simpatia pela fé (seja qual for), reproduzimos a seguir o artigo de um missionário, sobre assunto da maior importância, também relacionado a “respeito” – no caso, à terceira idade. Quem o assina é Wallace Manhães de Andrade, jornalista e missionário da Comunidade Canção Nova. Vale a pena:

“A Sagrada Escritura reúne histórias como a de Zacarias e Isabel, nas quais é possível notar que o mundo não valorizava os idosos. Isabel e Zacarias se sentiam desonrados porque não eram capazes de gerar um filho. Mas o Senhor vê o idoso com outro olhar. Tanto que o casal de idosos da Bíblia não só gerou João Batista, mas o educou na fé para ser aquele que veio preparar o caminho do Senhor.

É possível hoje encontrar histórias de sucesso em um universo de 1 bilhão e 100 milhões de idosos no mundo? É possível pinçar entre os 12 países com o maior número de pessoas com 60 anos ou mais, um vovô ou vovó admirados pelos netos e filhos, por serem simplesmente idosos que vivem como idosos? Sim!

Em nações como China, Índia, EUA, Japão, Rússia e Brasil, a realidade revela que o mundo atual tem como principal característica demográfica o envelhecimento populacional. Talvez por isso o saudoso papa Francisco tenha nos alertado, de forma constante e insistente, sobre a necessidade de valorizar os idosos.

Em sua catequese do dia 20 de abril de 2022, o santo padre usou o tema ‘Honra o pai e a mãe: o amor pela vida vivida’, para chamar a atenção sobre os estímulos de um mundo que despreza os idosos. ‘Incentivar nos jovens, mesmo indiretamente, uma atitude de suficiência – e até de desprezo – em relação à velhice, suas fraquezas e sua precariedade, produz coisas horríveis. Abre caminho para excessos inimagináveis’, enfatizava Francisco.

E completou: ‘As experiências de nossa fragilidade, diante das situações dramáticas e às vezes trágicas da vida, podem acontecer em qualquer momento da existência. No entanto, na velhice podem causar menos impressão e induzir uma espécie de vício, até mesmo de incômodo, nos outros’.

Fica claro que, já nessa época, o pontífice não só notava a falta de atenção com os idosos, como também sentia na própria pele os reflexos de quem não era mais um jovem à frente de uma igreja que sofria e sofre para levar o amor de Cristo às nações.

Sobre o respeito e cuidado da vida, lembrava que isso servia para qualquer pessoa. ‘As feridas mais graves da infância e da juventude causam um sentimento de injustiça e rebelião, uma força de reação e luta. Ao contrário, as feridas, mesmo graves, da velhice são inevitavelmente acompanhadas pelo sentimento de que a vida não se contradiz, porque já foi vivida’.

Lembro bem dos meus avós e o quanto eles foram importantes em minha infância e adolescência, pelo simples fato de serem aquilo que precisavam ser: pessoas resilientes com as limitações de sua saúde, carinhosas e atenciosas com seus netos. Ensinando de forma simples e verdadeira, os passos para sermos bons cristãos e honestos cidadãos, como ensina Dom Bosco.

A bula de proclamação do Jubileu Ordinário da Esperança, traz a seguinte descrição: ‘Sinais de esperança merecem-nos os idosos, que muitas vezes experimentam a solidão e o sentimento de abandono. Valorizar o tesouro que eles são, a sua experiência de vida, a sabedoria que trazem consigo e o contributo que podem dar, é um empenho da comunidade cristã e da sociedade civil, chamadas a trabalhar em conjunto em prol da aliança entre as gerações. Dirijo um pensamento particular aos avôs e às avós, que representam a transmissão da fé e da sabedoria de vida às gerações mais jovens. Sejam amparados pela gratidão dos filhos e pelo amor dos netos, que neles encontram as suas raízes, compreensão e estímulo’.

O casal de idosos da sagrada escritura, Zacarias e Isabel, nos ensina de forma sutil que a vontade de Deus precisa prevalecer em nossas vidas. Zacarias estava servindo ao altar do Senhor, mesmo idoso e com sentimentos de frustração por achar que não seria pai. E sua fidelidade na vida de oração rendeu-lhe um dos mais belos encontros que um idoso, ou qualquer ser humano pode ter. Ele viu o anjo do Senhor e mesmo não acreditando na possibilidade do milagre da paternidade e maternidade acontecer, eles puderam tocar nessa graça, usando apenas a via da oração.

A esperança de um idoso, um adulto, um jovem ou uma criança, deve ser a de viver a eternidade. Essa ‘esperança que não decepciona’ (Rm 5,5) deve ser vivida com as limitações que chegam pelo cansaço do passo mantido, com as cruzes que nos são confiadas, e, principalmente, com a certeza de que existe um céu e ele deve ser sempre a meta principal das gerações que decidiram fazer e viver uma aliança com Deus.

E, se o Senhor me conceder a graça, farei parte do grupo dos ‘sessentões’ em poucos meses!

Deus abençoe!”