Nova secretária da Saúde de Tatuí destaca “atenção básica”

Fabiana de Cássia Saraiva Grechi comenta sobre próximas ações

A secretária, Fabiana de Cássia Saraiva Grechi (foto: AC prefeitura)
Da reportagem

Em entrevista neste dia 16, a nova secretária da Saúde de Tatuí, Fabiana de Cássia Saraiva Grechi, declarou que a saúde do município precisa focar no fortalecimento da “atenção básica”.

De acordo com ela, há uma sobrecarga na UPA (unidade de pronto atendimento) e na Santa Casa, mas estes estão no “topo da pirâmide”.

“Pensemos na saúde como uma pirâmide: na base, temos o que chamamos de atenção básica, que são as UBS (unidades básicas de saúde), onde o principal papel é trabalhar com prevenção e o atendimento das pessoas onde elas moram, para que isso não gere o agravamento da saúde delas”, explicou.

Conforme informado por Fabiana, no entanto, por fatores inclusive culturais, as pessoas não buscam a rede de forma profilática, de prevenção, acabando por “criar um gargalo lá em cima, onde está a UPA”.

“A UPA é a nossa ponta da pirâmide, e deveria atender, em média, de 150 a 180 pacientes por dia, mas tem dia que bate 800. A unidade deveria atender, nas classificações de risco das pulseiras, as vermelhas, as laranjas e as amarelas. As verdes e as azuis deveriam estar todas na unidade básica”, complementou.

A secretária também opina: “Essa transformação tem ocorrido em função do celular e da internet, pois ali tem tudo para atender nosso desejo imediato. Se preciso de alguma coisa, tenho a resposta na hora, e as pessoas se acostumam com isso. Eu também”.

“E aí, você não tem nada e vai marcar uma consulta de prevenção para 30 dias, e pensa: ‘Mas a UPA atende na hora’. Falta esse trabalho de conscientização”, relatou.

Segundo informado pela secretária, as unidades básicas de saúde e unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF) têm funções distintas das UPAs no sistema de saúde.

As UBSs e ESFs são a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) para a atenção primária, focando na prevenção, promoção da saúde e tratamento de casos de menor complexidade. As UPAs, por outro lado, são responsáveis pelo atendimento de urgência e emergência de média complexidade.

A atenção primária de saúde (APS) oferece consultas programadas: médicas, de enfermagem, odontológicas, vacinação, acompanhamento de doenças crônicas (hipertensão, diabetes etc.), pré-natal, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil e atendimento à demanda espontânea, entre outros serviços de saúde.

Já a prevenção e promoção à saúde realiza ações de educação em saúde, promoção de hábitos saudáveis, prevenção de doenças e rastreamento/busca ativa de casos e o tratamento de menor complexidade, como febre, dor de cabeça, pequenas lesões, entre outros, encaminhando-os a outros serviços de saúde quando necessário.

Elas são a “porta de entrada” do SUS, a primeira opção de atendimento à população, servindo como ponto de referência para a saúde e encaminhamento para serviços mais especializados.

Como exemplo de procedimentos realizados na APS, estão: administração de medicamentos; aferição e monitoramento de pressão arterial e realização de glicemia capilar; sondagem vesical (de alívio e demora); coleta de material para realização do citopatológico cérvico-uterino; e curativos simples e complexos, com ou sem coberturas especiais.

Também estão: vacinação, inserção e retirada de DIU, retirada de pontos, teste rápido para gravidez, testes rápidos para ISTs e encaminhamento para exames e especialidades médicas.

Já a UPA é um dos componentes da Política Nacional de Atenção às Urgências do Ministério da Saúde, integrando a rede de serviços pré-hospitalares fixos para o atendimento às urgências.

Presta atendimento resolutivo e qualificado a pacientes com condições clínicas graves e não graves, além do primeiro atendimento a casos cirúrgicos e traumáticos, estabilizando os pacientes e conduzindo a avaliação diagnóstica inicial para determinar a conduta adequada, garantindo o encaminhamento dos pacientes que necessitam de tratamento em outras unidades de referência.

A UPA 24 horas opera ininterruptamente todos os dias da semana, “com uma equipe multiprofissional qualificada e adaptada às demandas específicas de cada região”, encaminhando os pacientes para internação em hospitais de retaguarda, garantindo a continuidade do cuidado por meio da regulação do acesso assistencial.

Como exemplo de situações em que se deve procurar a unidade, estão: febre alta, fraturas, infarto, AVC, queda com torção e dor intensa ou suspeita de fratura, falta de ar intensa, cólicas renais, crises convulsivas, dores fortes no peito e vômito constante.

A atenção primária à saúde de Tatuí é composta, atualmente, por 18 unidades, sendo sete unidades básicas de saúde e 11 unidades de Estratégia Saúde da Família.

Já em relação a pontos fortes, ainda segundo a secretária, o que de melhor a pasta tem é um grupo coeso: “Acho que o principal que a gente tem é uma equipe boa; o que precisamos é ajustar o que cada equipe faz”.

Ela aponta equipamentos que existem no município e não têm em outros lugares, como o Núcleo de Atendimento ao Paciente com Câncer, que atende desde a marcação de consulta até a solicitação de suprimentos e medicações.

“Temos um atendimento prioritário ao paciente com câncer, e isso é muito legal. Temos o Centro de Especialidade Odontológica, o CIR (Centro Integrado de Reabilitação), que é referência na região, várias ações afirmativas, como o próprio Cemem, onde há 52 médicos e são atendidas 22 especialidades diferentes. Para uma cidade do porte de Tatuí, é muito legal e muito avançado”, defende a nova secretária.

“Os exames de imagem que temos, como ultrassom, raio-X e tomografia, fazemos com muita rapidez, e isso precisa ser valorizado. Mas, precisamos gerenciar melhor e expandir para as outras unidades”, observou.

Fabiana ainda cita a equoterapia pelo SUS como um “braço” do tratamento de fisioterapia, psicologia e terapia ocupacional para pacientes que são de baixa renda. “Temos esse serviço que é um dos únicos do país”, frisa Fabiana.

Como um dos desafios da pasta, a secretária cita o número de faltas às consultas agendadas. “A pessoa fala: ‘Eu quero marcar a consulta, mas só tem daqui dois meses’. Mas, como saberei que as pessoas irão faltar?”, relatou.

De acordo com o informado, no mês de abril, do total de 20.655 pacientes agendados nas unidades primárias de saúde, ocorreram 5.649 faltas (27%) e 9.409 encaixes (demanda espontânea acolhida).

Fabiana também aponta a judicialização de medicamentos e procedimentos. “Quando um medicamento ou determinado procedimento não é fornecido pela rede SUS, a pessoa habitualmente já procura isso de forma judicial, obrigando o município, estado e União a fazer”, comenta.

“Nós tivemos uma enxurrada – podemos dizer assim – de processos, em que só o município ficou como passivo, como condenado dessas ações. Em alguns casos, por exemplo, a pessoa briga com o município, mas é um medicamento fornecido pelo estado ou pela federação”, continua.

“Os altos custos, que são fornecidos pelo estado, ao invés de a pessoa fazer o processo e aguardar receber por ele, entra com um processo contra o município para fornecer, o que onera mais ainda o nosso caixa, prejudicando que atendamos o que está planejado para o ano, pois foge do nosso planejamento anual”, complementa.

De acordo com a secretária, a judicialização entra no “imediatismo” que as pessoas estão enfrentando, pois o processo de fornecimento de medicação de alto custo “demora, às vezes, até 60 ou 90 dias para vir a primeira vez”.

“E o médico já tem ciência de que vai demorar um tempinho. Então, não é nada que a pessoa precise com extrema urgência. Se não for isso, ele comunica a gente e buscamos outra forma de solução”, continua.

A respeito das manifestações das mães atípicas ocorridas na Câmara Municipal, a secretária comentou que a maioria era com relação a medicamentos judicializados, não os padrões fornecidos pela rede.

Segundo informado por ela, está sendo revisto esse protocolo de fornecimento, pois, na lista de medicamentos judicializados (nenhuma das mães citadas que fizeram as manifestações), algumas pessoas pedem “Whey Protein”, mas não são pacientes com indicações para isso.

“Um dos grandes problemas nossos nesses casos de judicializados é a semaglutida – popularmente conhecida como Ozempic -, que é indicada para tratamento de diabetes, mas as pessoas entram na Justiça para solicitar para emagrecimento, e isso não é norma do SUS”, contou.

Ainda em relação às mães atípicas, Fabiana conta que elas foram acolhidas e estão sendo realizadas triagens para saber quais são, de fato, as necessidades delas. “A primeira atitude foi agendar as consultas para reavaliação dessas crianças e, aí sim, a gente seguir um outro protocolo de fornecimento”, explicou.

Sobre a escolha para chefiar a pasta, de acordo com a secretária, antes do convite do prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior, já havia comentários circulando sobre o assunto, mas, até então, eram inverídicos.

Ela ainda comenta que algumas pessoas questionaram o fato de o vice-prefeito, Antônio Marcos de Abreu (Republicanos), não ter assumido a secretaria, por ser conhecido como “Marquinhos da Saúde” e “Marquinhos da Santa Casa”.

Conforme informado por Fabiana, Abreu vem se dedicando à captação de recursos, “fazendo a função como vice-prefeito de fato, pois precisamos de recursos, já que temos um montante só neste ano de R$ 69 milhões de precatórios de gestões anteriores que estamos pagando. Então, ele, hoje, está fazendo interlocução política para captação de recursos para o município”, contou.

De acordo com a secretária, apesar de sua primeira formação ser veterinária, ela tem vínculo com a saúde através da pessoa com deficiência: “Eu tenho um filho que é pessoa com deficiência e trabalhei alguns anos na educação especial”.

Ainda segundo Fabiana, o prefeito já havia sugerido que ela fosse a secretária da pasta, salientando que o lugar não seria uma questão técnica “porque nós temos excelentes técnicos, mas de gestão e organização de processos”.

“Na verdade, o convite foi feito nesse sentido. Por isso, realizei uma reunião com todos os nossos coordenadores, pois preciso de uma equipe sólida. Juntos, eu sei que damos conta”, declarou.

Como as primeiras ações a serem tomadas à frente da pasta, a secretária comentou estar realizando ajustes pensando no fortalecimento da atenção básica. “Estamos fazendo algumas alterações junto com os médicos e os enfermeiros, de como solicitar remédios e exames, e fazendo adequação da estrutura de algumas unidades que estavam pendentes. Organizando ‘a casa’ e reorganizando a forma como ela funciona”, contou.

Segundo ela, uma das maiores expectativas da população em relação à Saúde é a diminuição de filas para consultas e exames. “Mas, tudo vem da conscientização”, acentua.

“Se a pessoa chegar para o médico e fala que quer fazer todos os exames, com certeza, ele não vai ser atendido. Não vou atender essa expectativa dele. O médico vai avaliar e pedir só o que ele realmente necessita”, explicou.

“Queremos diminuir o tempo entre um atendimento e outro, a espera para uma consulta e a espera para um exame? Sim, porém, desde que seja com critério, fortalecendo e diminuindo filas, mas entendendo às necessidades”, finalizou.

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