Uma serenata com a vitrola sonata ou uma eterna lembrança de um amigo

Mário Luiz Bastos e a esposa Marisa (Foto: Arquivo pessoal)
Luiz Antonio Vosso Campos

Bem, no dia 31 de março deste ano, completou um ano do falecimento de um grande amigo chamado Mário Luiz Bastos. Mas, com esse nome, muitos amigos dos anos 60 talvez nem se lembrem, mas, quando nos referimos ao Mário Miau, aí a conversa muda de figura.

Ele ganhou esse apelido quando estudávamos no IEBS (Instituto de Educação Barão de Suruí) e lá, graças ao espírito inovador do professor Acassil (“in memoriam”), como era o “tempo das conquistas interplanetárias”, ele criou no porão da escola uma sala com livros, fotos, maquetes, protótipos, recortes de jornais, e lá nasceu o EMA (Estudos de Mísseis e Aeromodelismo).

Lá, eventualmente, o pessoal saía no final da tarde para colocar a conversa em dia. Durante essas conversas, sempre surgiam umas cervejinhas para animar o papo, e o Mário Luiz, às vezes, tomava umas doses etílicas a mais e, por isso, acabou recebendo o apelido carinhoso de Mário Miau. Mas, nada que fosse excesso, pois, naquele tempo, tudo era muito mais controlado.

Nós morávamos na rua Santa Cruz: ele, na parte de cima, defronte à atual agência do Banco do Brasil; e eu, na parte baixa, onde hoje está instalada a Unimed. Fomos colegas de classe no

“Ginásio” (nome carinhoso do “Barão”).

Sempre estudávamos juntos, e ele era muito bom em matemática, e por isso foi que ingressou e aposentou no Banespa. Em 1971, no segundo semestre daquele ano, fomos convocados para o Tiro de Guerra (lá se vão 54 anos).

O Mário sempre frequentava os bailes dos The Johnnies, que é o nosso conjunto musical. Sugeria músicas para que ensaiássemos, mas, quando conheceu a nossa colega de classe Marisa Antunes, que veio do bairro do Adélio (Porangaba) para morar e estudar no Barão, aí a vida dele mudou!

Os dois eram sempre vistos juntos; faziam trabalhos escolares juntos, e daí para o amor foi um pulo. Começaram a namorar. Isso aconteceu nos anos 60, e era muito comum nessa época, às sextas-feiras, fazer serenatas para as amigas, paqueras, namoradas, nossas e dos amigos também.

Porém, não sei o que houve que, numa certa quinta-feira, ele foi na minha casa, por volta das 21h, muito nervoso, quase chegando às lágrimas, pois havia tido uma briga amorosa com a Marisa. E, ela como era muito brava, não queria conversas com ele.

Como naquela noite os meus amigos músicos não estavam na cidade – ou seja, Dirceu, Zé Emílio, Claudiinei, Taliba, Thiers, Maco (estes dois últimos “in memoriam”) – e, pelo desespero do Mário Luiz, que pedia e queria uma serenata para a amada, o que fazer?

Como cantar sem acompanhamento? Pensei comigo: o Mario Luiz quase infartando, a Marisa morava numa casa na rua Humaitá e que tinha a janela do quarto dela no nível da calçada. Os músicos todos fora da cidade e eu querendo ajudar o casal amigo com a reconciliação… O que fazer?

Tive uma brilhante ideia: naquele tempo, a vitrola Sonata era a moda do momento, e funcionava com pilhas e eletricidade. E eu tinha uma!

Conseguimos um caixote de madeira; juntei alguns discos do momento, como: Roberto Carlos, Erasmo, Renato e seus Blue Caps, Tim Maia, internacionais Peppino di Capri, Salvatore Adamo (“F… comme Femme”) e outros.

Chegamos no silêncio da noite, colocamos o caixote de madeira na calçada bem próximo da janela, coloquei a vitrola em cima e o alto-falante encostado na janela. Alinhei, armei e coloquei a primeira música, que era o maior sucesso nos rádios: “Sentado à Beira do Caminho”, com o Erasmo Carlos na novela “Beto Rockefeler”.

O som invadiu a casa naquele silêncio da madrugada. Tocamos mais uma, duas, três, e ninguém tossia, piscava a luz ou dizia alguma coisa!

Eu, intrigado com aquela acústica da casa, pois o som viajava com uma sonoridade assustadora. Falei com o Mário: “A Marisa está muito brava com você ou tem um sono incrível…”. Quando fui tocar a décima música, a vizinha da casa da Marisa abriu a janela e falou: “Boa noite, jovens. As músicas estão lindas, mas essa casa está vazia, pois o Renato Pasqualotte (“in memoriam”) está passando synteko aí e as moradoras não estão”.

AÍ… bem, foi um momento um pouco triste ou engraçado, mas que ficou como uma eterna lembrança do meu amigo Mário Luiz Bastos, com quem convivi e, sempre que nos encontrávamos, essa história causava sorrisos e boas lembranças.

No velório dele, eu pedi autorização para a esposa Marisa e os filhos Marcelo, Marília e Mariana para eu deixasse para a posteridade essa história de amor de um casal de amigos maravilhosos e de uma amizade muito sincera.

Valeu, Mário Luiz Bastos – ou Mário Miau. Descanse em paz!

Do seu amigo Voss.

Em tempo: agradeço a família: Gerson Arato e à Maria Elisa Bastos.

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