6ª Conferência da Cultura de Tatuí define temas de acesso à diversidade

Ação objetiva debate sobre o tema “Democracia e Direito à Cultura”

Grupos divididos em eixos discutem sobre políticas culturais (Foto: Juliana Jardim)
Da reportagem

No final da tarde de quinta-feira, 17, no Centro de Artes e Esportes Unificados “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires” (CEU das Artes), aconteceu a 6ª Conferência Municipal de Cultura de Tatuí, com discussões sobre o tema “Democracia e Direito à Cultura”.

A etapa antecede à 4ª Conferência Nacional de Cultura, que acontecerá entre os dias 4 e 8 de dezembro deste ano, em Brasília.

Por meio da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, em colaboração com o Conselho Municipal de Políticas Culturais de Tatuí, representantes de segmentos culturais da cidade pautaram discussões sobre as políticas culturais, as quais têm como foco o “fortalecimento da democracia e a garantia dos direitos culturais em todos os âmbitos da municipalidade”.

Os debates foram divididos em grupos (eixos), nos quais os membros de cada um deles deliberaram diretrizes com ideias e formatos para decidir as políticas públicas e culturais para os próximos anos no município.

A organização e o desenvolvimento das atividades esteve a cargo de uma comissão organizadora municipal, composta pelo secretário do Esporte,  Cultura, Turismo e Lazer, Douglas Dalmatti Alves de Lima (Buko); o diretor do Departamento Municipal de Cultura, Rogério Vianna; o presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Tatuí, Davison Cardoso Pinheiro; o secretário do Conselho Municipal de Políticas Cultural Luís Antônio Galhego Fernandes; e o grupo de trabalho do Conselho Municipal de Políticas Culturais.

Cardoso Pinheiro disse que o movimento cultural da cidade tem avançado, e citou os recursos recebidos por meio da prefeitura como um “avanço no plano cultural do município”.

“A nossa luta de muitos braços é por recursos e a ocupação do território de Tatuí com a cultura. Embora não tenhamos o tanto que queremos, a construção está acontecendo”, declarou.

Ele defendeu o modelo do plano cultural de Tatuí com “muito mais avançado do que o genérico nacional”.

“Nós estamos muito além disso, mas temos que cumprir o protocolo, e, hoje, um dos nossos focos é termos os delegados para representar-nos nas etapas estadual e nacional da Cultura”, ressaltou.

Vianna explicou a importância de ouvir e fazer a escuta social com os profissionais de cultura e as pessoas que queiram acesso a ela para que o poder público possa viabilizar as ações.

“É de extrema importância ouvirmos esse posicionamento, que às vezes parece que está tão simples e não está tão simples. Então, precisamos ter essa noção da cultura da alfabetização; precisamos ouvir e ouvir de novo, para que, em um determinado momento, ela aconteça. E a conferência vem justamente para isso: dar democratização de acesso a todos à cultura”, apontou.

De acordo com ele, todos os questionamentos apontados por cada representante de eixo formarão uma ata, a qual será encaminhada para o estado, no qual, por meio de um “filtro”, serão decididas as ações que possam ser viabilizadas em curto prazo.

“Pela conferência, consegue-se viabilizar e ter um mapa das necessidades municipais, setoriais, territoriais e do estado, para que em dezembro, na Conferência Nacional da Cultura, todos os 26 estados mais o Distrito Federal tenham acesso à carta de propostas”, completou.

O secretário Buko citou o investimento da administração pública na cultura, no valor de R$ 1,5 milhão, como um “orgulho para a cidade”. “A cultura de Tatuí é rica demais. Nós temos uma cultura presente na nossa cidade, e agora estamos fazendo o mínimo para começar a valorizá-la. É um trabalho de várias mãos que a secretaria (da Cultura) está orquestrando”, declarou.

Ele completou dizendo que “o trabalho para fomentar a cultura teve início há pouco tempo e que há muito a ser feito”. “Nós sempre iremos apoiar a cultura. E a nossa cultura estando forte, faz com que a nossa secretaria esteja forte também”, concluiu.

Durante o debate, foram estabelecidas diretrizes que irão direcioná-las para os temas de cada eixo, por meio das ações propostas nessas discussões.

No eixo “1”, que tem como foco a “Institucionalização, Marcos Legais e Sistema Nacional da Cultura”, ficou definida, pelo grupo, a junção dos diversos segmentos musicais em um único festival.

A instalação de espaços agregadores em territórios decentralizados também foi citada no projeto. Foi abordado, ainda, o fomento cultural por meio do cooperativismo e o associativismo de classes culturais.

A união da Feira do Doce com o artesanato, por exemplo, foi citada pelo grupo como uma junção de segmentos distintos que deu certo. E, por último, ficou pautada a criação de uma lei para o fomento cultural.

A discussão do eixo “2”, que deliberou sobre a “Democratização do Acesso à Cultura e Participação Social”, tratou sobre o desinteresse da criança e do adolescente pela arte e a cultura e apontou, como causa, a falta de ações escolares e do poder público no desenvolvimento de atividades culturais como parte do currículo escolar.

No eixo “3”, os grupos discutiram sobre a “Identidade, Patrimônio e Memória” dos prédios antigos de Tatuí, com o propósito de chamar atenção do poder público para a valorização desses imóveis, mapeando-os e, consequentemente, viabilizando projetos para que sejam tombados historicamente.

Outro assuntos discutidos no eixo foram: a utilização dos prédios históricos para serviços públicos municipais, com acesso a função social; o resgate dos jornais da cidade como patrimônio histórico do município; a realização de debates com o intuito de desenvolver a consciência coletiva para pesquisas de dados históricos; estímulo a convênios que incentivem a construção e registro do avanço histórico da cidade, a exemplo do que tem sido feito pela USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp, as quais estão realizando pesquisas em torno do complexo do São Martinho; e também a criação de um espaço do Centro Cultural na Biblioteca Municipal.

O grupo do eixo “4”, que teve como tema do debate a “Diversidade Cultural e Transversalidades de Gênero, Raça e Acessibilidade na Política Cultural”, discutiu a forma de criação de meios de acesso a artistas e espectadores nos eventos culturais.

O grupo citou uma pesquisa feita no ano passado (2022) pela Apodet (Associação das Pessoas com Deficiência de Tatuí), a qual apontou que 20% da população local têm algum tipo de deficiência.

Com isso, o grupo indicou o desenvolvimento de meios para que essas pessoas tenham acesso aos eventos produzidos na cidade. O grupo também cita o fato de que muitos eventos garantem acesso às pessoas com limitações, porém, não buscam saber se elas têm como chegar a esses locais.

Também foram debatidos pelo eixo: a criação de pontos fixos culturais com o propósito de estimular as pessoas a desenvolverem eventos em dias e locais específicos dentro da própria comunidade; a necessidade da implantação de estruturas mínimas para o intercâmbio entre espectador e artista, tanto na estrutura física quanto na comunicação; oferta de opções de segurança e acolhimento para a população LGBTQIAP+, para que essas pessoas não sofram principalmente em cidades de “perfil conservador”; e a criação de eventos e projetos com os quais a população possa interagir com os artistas.

No tema “Economia Criativa, Trabalho, Renda e Sustentabilidade”, o eixo “5” abordou a importância de entender a cultura dentro da economia criativa. Ele cita os profissionais “fora de cena”  como também integrantes da cultura, com o propósito de ampliar o olhar para toda a cadeia que compõe a economia criativa.

Com isso, de acordo com o sugerido, surge a necessidade de o município realizar um mapeamento desses profissionais e, também, da população que consome cultura.

O desenvolvimento de políticas públicas voltadas à valorização dos profissionais da cultura também foi discutido pelo eixo. Nesse contexto, o grupo visa chamar atenção do poder público para que essas políticas possam atender à demanda desses trabalhadores, os quais não necessitariam ter outros ofícios para complementar a renda salarial deles.

Com o tema “Direito às Artes e Linguagens Digitais”, o eixo “6” elencou alguns itens de sugestão para encaminhamento.

Nos tópicos apontados, indicam: a melhor utilização e acesso de espaços públicos e privados por meio do melhoramento da infraestrutura adequada para diversas manifestações artísticas; a transformação de espaços abandonados em novos locais para desenvolvimento de projetos culturais; a divulgação da existência desses locais; acesso facilitado e desburocratizado às escolas municipais e demais instituições de ensino para as manifestações culturais; e movimentos culturais para que a arte seja parte da grade curricular permanente.

Ao final da conferência, foram votados os delegados, os quais representarão o movimento cultural municipal na etapa estadual. Pela soma de números dos participantes presentes no evento (82 pessoas), ficaram definidos quatro delegados e quatro suplentes.

Os titulares são: Adriana Afonso, Luís Bernardo, Nilce Aparecida Rodrigues e Simone Pavaneli, e os suplentes, Marcos Pavaneli, Anderson Ferreira, Erika de Oliveira Pires e Marcus Vinicius Silva de Marco.