A fabricante de veículos especiais Rontan Eletro Metalúrgica demitiu cerca de 380 funcionários nas últimas semanas, informou o vereador e presidente do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), Ronaldo José da Mota. Por sua vez, a metalúrgica FBA (Fundição Brasileira de Alumínio), que fornece autopeças para montadoras, demitiu outros 150 funcionários recentemente.
Somados, o total de demissões das empresas locais alcançam 530 postos de trabalho, número que pode impactar até nas vendas do comércio de final de ano.
Segundo o presidente do Sindmetal, nos próximos dias, a FBA pode demitir outros 200 funcionários. De acordo com Mota, o anúncio das demissões da FBA foi feito em meados de março, quando a empresa realizou um plano de demissão voluntária, conhecido como “PDV”.
Por esse plano, os funcionários que querem sair da empresa podem aderir e serem demitidos nos futuros cortes, como o da semana passada. Paralelo a isso, os empregados foram colocados em férias coletivas.
Trabalhadores demitidos entraram em contato com a reportagem de O Progresso para reclamar das demissões sem aviso e do parcelamento da dívida trabalhista.
Segundo um dos funcionários, o dinheiro referente a uma das parcelas foi depositado na conta bancária dele enquanto estava em férias coletivas.
O presidente do Sindmetal, no entanto, afirmou que as demissões já estavam previstas num acordo firmado com a FBA em março, mas que o parcelamento da dívida não fazia parte dele.
“Não fomos pegos de surpresa com essas demissões. O que nos surpreendeu foi a empresa ter oferecido aos funcionários o pagamento parcelado da rescisão. Quando fizemos a reunião, não mencionaram a possibilidade de fazer um parcelamento”, disse Mota.
Ele ainda lembrou que os funcionários não são obrigados a aceitar a proposta de parcelamento. A FBA teria oferecido o parcelamento dos direitos em parcelas iguais ao salário do funcionário demitido. Na prática, um funcionário que teria R$ 20 mil a receber e salário de R$ 2.000, demoraria dez meses para receber o acerto por completo.
“Ninguém é obrigado a aceitar (a proposta). Pode entrar na Justiça e tentar receber o integral. O problema é que uma audiência trabalhista demora cerca de nove meses para ser realizada”, afirmou.
Mota aconselhou os demitidos a receberem os valores do acerto e, caso haja direitos não pagos, só então procurarem a Justiça do Trabalho para futuras reparações.
“Se fizermos a homologação da demissão, o funcionário já terá direito ao Fundo de Garantia e ao Seguro Desemprego”, explicou. A FBA não comentou sobre as demissões até o fechamento desta edição (terça, 17h).
O presidente afastou a possibilidade de paralisação para protestar contra as demissões nas empresas. Segundo Mota, faltaria mobilização, uma vez que os funcionários “têm medo de ser demitidos por motivo de greve”.
A Rontan, que tinha cerca de 1.200 empregados diretos e indiretos, dispensou 380 trabalhadores nas últimas semanas, informou o presidente.
Porém, segundo Mota, as demissões não têm nada a ver com a suposta venda da empresa para a norte-americana GDSI (Global Digital Solutions), com sede na Flórida.
A notícia foi dada no final de outubro, em um comunicado oficial da GDSI à U.S. Securities and Exchange Commission, a Comissão de Valores Imobiliários norte-americana. No entanto, a empresa nacional não confirmou a informação na ocasião.
“O que eu sei sobre essa venda é que a empresa recebeu uma carta de intenção, não tem a ver com uma provável venda. Mas, acho que essas demissões que ocorreram têm mais a ver com o fato de que a crise está atingindo as vendas”, afirmou.
O mercado interno de automóveis, o setor mais atingido pela retração da economia, foi o fator que mais pesou na demissão dos funcionários da FBA, segundo Mota.
Isso porque a empresa é fornecedora de autopeças para diversas montadoras instaladas no país. Entre janeiro e outubro, as vendas de automóveis novos caíram 24,3%, de acordo com levantamento da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o que teria impactado na produção da FBA.
No caso da Rontan, o ajuste fiscal segurou a aquisição de novos carros de polícia para o governo federal, que compra os veículos para a Polícia Federal e a Polícia Federal Rodoviária.
No ano, até setembro, a indústria de transformação de Tatuí fechou 548 vagas, de acordo com informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Como foram fechados em setembro, os dados ainda não refletem as demissões das últimas semanas.