150 anos da Estrada de Ferro Sorocabana

Como um marco fundamental na memória histórica e sobretudo afetiva de inúmeras famílias em Tatuí – e no estado afora -, a Estrada de Ferro Sorocabana está completando 150 anos de existência, mantendo-se não só como um marco incomparável no desenvolvimento de São Paulo, mas como maior signo de uma época áurea e – correto dizer – até “romântica”.

Não por outra razão, muitos que dela compartilharam de alguma forma – seja porque ainda vivos ou por lembranças de família, por pais, avós ou bisavós que trabalharam na Sorocabana -, “sofrem” quando passam pelo final da avenida Salles Gomes a caminho da Chiquinha Rodrigues.

A palavra é essa mesma: “sofrem”! Isso porque sentem angústia ao testemunharem aquela belíssima edificação da estação ferroviária – tão elegante em história quanto em arquitetura –, simplesmente, deteriorando-se… Pior ainda: sem o uso que poderia ter, como algum espaço cultural, de memória ou mesmo de eventos.

Neste momento, não se trata de culpar este passageiro da política ou aquele maquinista das burocracias, senão de apenas lamentar e torcer para que, algum dia, a estação venha a ser mais um patrimônio salvo do “tombamento” literal, no mal sentido.

É certo que diversas tentativas já aconteceram nesse sentido, somando iniciativas de políticos, associações, entidades e mesmo da população. Não obstante, há um claro sinal de impedimento – seja por indiferença, negligência ou simples “birra” – da efetiva revitalização desse espaço.

E isso por parte das diferentes concessionárias que vieram a assumir o patrimônio da Sorocabana ao longo do tempo, indistintamente… É claro que, para esses foguistas da história alheia, em nada interessa gastar para resguardar memória e patrimônio público, mesmo que seja do estado de São Paulo, não apenas de uma cidade do interior.

Portanto, só resta seguir buscando sensibilizar não só Tatuí, mas todas as comunidades cortadas pela Sorocabana durante esse século e meio. Neste momento, frente a esse horizonte nebuloso, é fundamental tomar como base esta data para relembrar a história dessa estrada de ferro e, quem sabe, assim, sensibilizar mais pessoas conscientes para que não percamos, de vez, mais esse trem da história.

A seguir, cumprindo esse objetivo, segue artigo de José Claudinei Messias, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Zona Sorocabana:

“Cento e cinquenta anos. Esta é a idade da Estrada de Ferro Sorocabana, inaugurada em julho de 1875. Sua construção foi um marco para o desenvolvimento econômico, urbano e social de diversos municípios, impulsionando a industrialização, o povoamento e o crescimento da produção agropecuária para atender o consumo regional, da capital e até do país.

Inicialmente projetada para exportar algodão, a ferrovia logo assumiu papel no transporte de café, mercadorias e passageiros entre o interior de São Paulo e o litoral. Isso foi importante para o crescimento do estado e, indiretamente, para o progresso nacional.

Historicamente, a Estrada de Ferro Sorocabana operou uma extensa linha tronco, com mais de 800 km, conectando a capital São Paulo a Presidente Epitácio, no oeste paulista. No percurso, atendia importantes municípios, como Barueri, Mairinque, Sorocaba, Iperó, Boituva, Botucatu, Avaré, Ourinhos (onde havia interligação com o Paraná), Assis e Presidente Prudente. Além disso, possuía ramais fundamentais, como o de Itararé, que conectava Iperó ao Paraná, e o de Jurubatuba, que depois virou a Linha 9 – Esmeralda da CPTM, que ligava São Paulo à região portuária de Santos.

O trecho de Presidente Epitácio a Ourinhos foi desativado no início de 2001 e muita luta foi feita para reativação, porém o abandono continuou. Já no início de 2024, o trecho Ourinhos-Londrina teve a circulação de trens suspensa também.

Outro eixo foi o ramal que ligava Mairinque a Santos, com paradas em cidades como Embu Guaçu, São Vicente, Cubatão, São Roque (distrito de Canguera), Itapecerica da Serra e Evangelista de Souza, totalizando cerca de 155 km. Esses ramais contribuíram para a integração regional e o escoamento da produção agrícola e industrial.

A importância histórica e econômica da Sorocabana é incontestável, mas é preciso valorizar os milhares de trabalhadores que construíram e mantiveram esses trilhos. Brasileiros e estrangeiros, eles sempre demonstraram orgulho da profissão e consciência do seu papel no desenvolvimento e na economia do país.

Nem sempre eles tiveram boas condições de trabalho. Os registros mostram que em 1897 surgiram as primeiras entidades de auxílio mútuo, que atuavam como forma de previdência, saúde e educação. Porém, diante das más condições de trabalho, jornadas exaustivas e baixos salários, os ferroviários passaram a se organizar de forma mais reivindicatória. Entre 1914 e 1919, protagonizaram greves históricas, que levaram à transferência da ferrovia para o controle público.

O Sindicato dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana foi fundado em 1932 e logo se tornou uma das maiores entidades sindicais da América do Sul. Uma importante greve de 1934 consolidou sua força. Em 1940, foi fechado pelo governo Vargas e, após diversas tentativas de rearticulação, deu origem ao atual Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Sorocabana, reconhecido oficialmente em 1974.

O sindicato está completando 50 anos de existência formal. Ele atua na defesa dos direitos dos trabalhadores da base Sorocabana, da CPTM e da iniciativa privada, ativos e aposentados, garantindo representação, enfrentando a precarização e acompanhando com preocupação os processos de concessão e privatização do setor.

Nos dias atuais, a malha ferroviária original da Sorocabana deu lugar a diferentes administrações e usos. Parte da infraestrutura foi concedida à iniciativa privada, como a Rumo Logística, que opera trechos importantes para transporte de cargas até o Porto de Santos, junto com a Ferrovia FCA. Já a CCR, atual Motiva, além das Linhas 08 e 09, administra também as linhas da ViaQuatro do Metrô e também rodovias, com a CCR Sorocabana, que administra cerca de 460 km de rodovias estaduais. Também no transporte de passageiros, temos a BR Mobilidade, que administra o VLT da Baixada Santista.

O Sindicato sempre esteve ao lado dos trabalhadores na Sorocabana, na defesa de seus direitos, qualquer que seja a sua infraestrutura. E segue em frente, trilhando novos caminhos com a mesma força de quem construiu o passado, lutando para que um dia as ferrovias voltem a ter a importância que já tiveram no estado e no país, levando e trazendo riquezas, contribuindo com o desenvolvimento na nação.”

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