Ruralistas e Comtur discutem meios de desenvolver o turismo no campo

 

Produtores rurais e membros do Comtur (Conselho Municipal de Turismo) debateram meios de parcerias para o desenvolvimento turístico no campo. A discussão aconteceu na sede do Sindicato Rural Patronal, na tarde de quarta-feira, 5.

Os produtores rurais participantes da reunião são alunos do curso de turismo rural ministrado na entidade sindical. Com previsão de término em dezembro, os ruralistas estão no oitavo módulo do curso, que teve início em março deste ano.

De acordo com a instrutora Fanny Kuhnle, do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), dos 24 participantes, 18 têm propriedades com grande potencial para receber turistas. Algumas delas estão aptas a abrir as portas imediatamente aos visitantes, na avaliação da representante.

“Estamos fazendo, todos os meses, visitas às propriedades dos alunos. Levantamos que 18 delas têm potencial para receber turistas, algumas estão quase prontas, só não começaram a atividade. Bastaria contratar pessoal, acreditar no próprio potencial e buscar os turistas”, afirmou.

O maior empecilho aos produtores rurais é a autoestima, explicou a instrutora. O medo de não ter sucesso no desafio incomoda a maior parte dos empreendedores, a ponto de imobilizá-los. “A insegurança tem que ser superada. Os produtores precisam escolher o público-alvo e trabalhar em divulgação”.

A própria instrutora disse que venceu o receio ao montar uma pousada rural, nos anos 1990, na cidade de Araçoiaba da Serra, localidade onde vive. Depois da experiência com o turismo, ela decidiu ensinar outros agropecuaristas a tomarem o mesmo caminho da diversificação da renda.

O turismo rural, em geral, é atividade secundária de uma fazenda. A principal fonte de renda dos produtores rurais é a agropecuária. O investimento não tem como objetivo a substituição, mas a complementação dos rendimentos.

“A ruralidade é exigida nesse tipo de turismo, até mesmo porque ele deixaria de ser rural se não tivesse a agropecuária. O recebimento de turista acaba sendo a segunda renda da propriedade, uma complementação, que ajuda bastante os produtores”, explicou.

Segundo Fanny, uma cidade que soube explorar bem o potencial turístico na zona rural é São Miguel Arcanjo. Após 13 anos de trabalho da instrutora na localidade, estimulando produtores rurais a seguirem o caminho do turismo, 51 propriedades recebem visitantes em atividades variadas, como restaurantes de comida caseira, pousadas e ecoturismo. Vinicultores abriram as portas aos viajantes, que conhecem parreirais e adegas.

“Em Itapetininga, tem um restaurante que recebe mais de 150 pessoas aos finais de semana. Eles souberam explorar bem o mercado e estão ganhando bastante com isso, sem abandonar a atividade agrícola”, exemplificou.

As atividades turísticas na zona rural são diferentes das urbanas. A divulgação, no primeiro caso, acontece de forma direcionada, específica ao público-alvo do estabelecimento. Da mesma forma, o turista vem especificamente ao ponto turístico local e não interage com a cidade.

Apesar das especificidades do setor, o município pode trabalhar em conjunto com os produtores na divulgação externa das capacidades turísticas da zona rural local, ponderou Fanny.

“A partir do momento em que o município ou o conjunto de estabelecimentos fazem uma divulgação conjunta, a vinda do turista passa a ser espontânea. Ele vem à cidade e escolhe aonde quer ir ou ficar”, frisou.

Presente na reunião, o diretor municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, Jorge Rizek, disse acreditar no potencial da zona rural como polo atrativo de turistas para a cidade.

Segundo Rizek, em potencial turístico, a zona rural só perde para a cultura local, que tem no CDMCC (Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”) o maior expoente.

“Eles precisam se unir e criar um roteiro de turismo rural. Precisamos de algo concreto para trabalhar na divulgação desse potencial e fazer a cidade acreditar que pode receber turistas da região”, disse.

O diretor lembrou que o município pode se beneficiar com a geração de emprego, renda e impostos, em um momento em que os índices econômicos locais chamam a atenção das autoridades municipais.

“Vai ser bom para a cidade e pode render muitos frutos para a nossa economia. Já temos os títulos de ‘Capital da Música’, ‘Cidade dos Doces Caseiros’ e ‘Cidade Ternura’. Podemos ganhar com o turismo rural agora”, argumentou.

Os ganhos econômicos da cidade com o turismo rural podem acontecer de forma indireta. Os estabelecimentos, apesar de estarem no campo, consomem produtos e serviços que estão na cidade, lembrou o presidente do Comtur, Wagner Eduardo Graziano.

“O turista vem visitar uma chácara, consome os produtos do local. O estabelecimento se abastece na cidade, compra insumos na zona urbana, na padaria, no açougue, e isso é importante, pois setores são indiretamente beneficiados pelo turismo rural”, explicou.

Apesar das possibilidades de ganhos, o turismo rural enfrenta alguns problemas inerentes à localização afastada da cidade. A irregularidade da qualidade das estradas que ligam a cidade ao campo pode ser um empecilho aos visitantes.

Outro pedido dos empreendedores é a divulgação conjunta de Tatuí como cidade do turismo cultural e rural. As reivindicações serão levadas às próximas reuniões do Comtur, para avaliação.

“O que eles precisam é se reunir, levantar as demandas necessárias, os interesses deles e trazer esses projetos para o Comtur. Juntos, eles têm maior força de articulação e serão mais bem ouvidos. Vamos defender essas ideias e tentar colocá-las em prática”, apontou Graziano.