PLP reúne mães de alunos no projeto ‘Meninas Sabidas’





A comunicação entre pais e filhos sobre saúde, sexualidade e drogas é geralmente difícil. Tanto uns como os outros podem não se sentir à vontade para falar sobre os assuntos, passando a evitar o diálogo. Para auxiliar a quebrar essa barreira, o curso PLP (Promotoras Legais Populares) resolveu organizar, mensalmente, um grupo aberto de mães e responsáveis para abordar temas comuns à idade.

Nessas rodas de conversas com profissionais de saúde, são realizadas dinâmicas e abordagens temas como alcoolismo, sexualidade na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, saúde bucal, gravidez na adolescência e drogas, entre outros.

Denominado “Meninas Sabidas”, o grupo teve a primeira reunião no dia 22 de agosto. Atende mães de alunos em três escolas do município: “Fernando Guedes de Moraes”, no Jardim Lucila, “Ligia Vieira de Camargo”, na vila Angélica, e “Eunice Pereira de Camargo”, no Jardins de Tatuí.

“A escola ‘Fernando Guedes’ foi a primeira e já está na terceira reunião. Na ‘Lígia’, é a segunda e na ‘Eunice’, a primeira. Aos poucos a gente vai caminhando para atender às mulheres da região”, conta a idealizadora do projeto e do curso PLP, Heloísa Saliba e Borges.

Segundo ela, o trabalho desenvolvido nas escolas é simples, mas muito significativo. “Convidamos essas mulheres, que são mães de alunos, para um café da manhã, onde elas podem expressar e discutir o que quiserem. Pela primeira vez, elas se sentem livres para debater assuntos que, antes, não tinham oportunidade”.

Apesar de os temas serem variados, Heloísa conta que a adolescência é o assunto mais requisitado. “Nos reunimos uma vez por mês e levamos profissionais para debater com elas. Já foi uma psicóloga e uma enfermeira para falar sobre os desenvolvimentos emocional e físico dos adolescentes”, contou.

Heloísa também antecipou o próximo passo do projeto. A intenção das promotoras é discutir políticas públicas para adolescentes com prevenção às drogas, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce.

De acordo com a promotora Daniele Leite Fogaça Alves, no encontro mais recente, foram discutidos temas relacionados ao “Outubro Rosa”, campanha de conscientização que tem como objetivo alertar as mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.

Uma profissional de saúde foi convidada para falar sobre o autoexame das mamas e a prevenção da doença. Na ocasião, as mulheres vestiram cor-de-rosa, visando a marca da campanha.

Heloísa contou que as mulheres receberam um informativo indicando os procedimentos que devem ser tomados e locais que a serem procurados, mediante cada caso.

“Se a mãe tem um problema de violência física ou psicológica dentro de casa, ela vai recorrer a um órgão específico para isso. A gente orienta tanto na área social quanto na saúde”, exemplificou.

O projeto ainda visa autoestima das mulheres vítimas de violência e discriminação. “Colocamos textos, músicas, fazemos teatro, distribuição de brindes, como batom e utensílios de casa, para melhorar a autoestima delas”.

As promotoras são responsáveis por guiar as mulheres durante os eventos organizados pelo curso. Heloísa explica que esteve à frente do projeto, mas que as alunas promotoras já estão aptas a continuar tocando o projeto.

“Nas PLPs nas escolas já não sou mais eu que vou, são as alunas. Vou sempre para abrir uma frente no projeto, mas, a partir do segundo encontro, as alunas já começam a tocar. Vou dando esse empoderamento”, conta.

O “Mulheres Sabidas” fará uma pausa em dezembro, retornando no ano que vem. Heloísa adianta que a intenção é fazer, em março, um encontro das “meninas sabidas” de todas as regiões que já estiverem trabalhando no projeto.


Promotoras legais

O projeto “Mulheres Sabidas” faz parte do curso PLP (Promotoras Legais Populares), que surgiu na cidade há três anos, por iniciativa de Heloísa. O projeto é implantado em 12 Estados brasileiros, que promovem a capacitação de voluntárias para atuarem na “conscientização” das mulheres.

A iniciativa visa a capacitar voluntárias para atuarem como promotoras legais populares. Mesmo sem curso de direito, as mulheres percorrem comunidades pobres, com alto índice de violência, e atuam como disseminadoras do conhecimento, orientando outras mulheres – tanto em caráter preventivo quanto viabilizando o acesso delas à Justiça.

Segundo Heloísa, as aulas dão noções de direito, cidadania, gêneros, entre outros assuntos. A ideia é disseminar informações que possam colaborar com situações de violência contra as mulheres nas comunidades.

No Brasil, o projeto nasceu no Estado de São Paulo, quando a “União de Mulheres” participou de um seminário sobre os direitos da mulher promovido pelo Cladem (Comitê Latino Americano de Defesa dos Direitos da Mulher).

O grupo Thêmis (RS), que também participou do seminário, foi o primeiro a concretizar a ideia no Brasil, em Porto Alegre. Em São Paulo, começou em 1994, com um primeiro seminário, denominado “Introdução ao Curso de Promotoras Legais Populares”.

Atualmente, São Paulo já soma mais de dez edições do projeto. Tatuí teve duas turmas do PLP. Este ano, o curso vai formar a terceira turma.